Ciro Possobom, da VW: “Sou zero hierarquia”

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Ciro Possobom, da VW: “Sou zero hierarquia”

Primeiro brasileiro a assumir a posição de CEO da companhia alemã no País comentou a relação longa com a AlmapBBDO, assim como os desafios de animar a demanda local e de acompanhar o ritmo de transformação da indústria


4 de outubro de 2023 - 16h46

Possobom: grande desafio no Brasil é trazer tecnologia com acessibilidade financeira (Crédito: Eduardo Lopes/ Imagem Paulista)

 

O CEO da Volkswagen no Brasil, Ciro Possobom, foi o entrevistado na trilha Papo de CEO, no começo da tarde no segundo dia do Maximídia 2023. E a conversa com Salles Neto, CEO do Grupo Meio & Mensagem, deixou clara a importância de a companhia, que completou 70 anos em março, ter colocado um brasileiro pela primeira vez nesse cargo. Por outro lado, Ciro não tentou minimizar o tamanho do desafio que tem, uma vez que assume essa responsabilidade num momento de grande transformação da indústria automotiva como um todo globalmente e que o mercado brasileiro tem tido resultados de vendas nos últimos anos aquém do esperado ou de seu potencial.

O executivo disse ter orgulho de estar à frente de uma companhia com o porte da Volkswagen (que tem, ainda, marcas como Scania, Porsche e MAN, entre outras) e ter a oportunidade de participar dessa transformação. “Hoje, boa parte do board é de brasileiros, fala-se português, quando antes era somente inglês”, lembrou. Mas reconhece que o Brasil e a América Latina como um todo não têm a mesma velocidade de transformação da indústria que mercados como Europa e China, onde a transição dos veículos à combustão para os elétricos está mais avançada. Para fazer frente à questão, a VW criou o programa Acelera Volkswagen. Mas a principal   transformação, para Ciro Possobom, é relacionada a pessoas e cultura. Somente isso, disse, tornará a empresa mais diversa, digital, ágil, focada em cliente e neutra em carbono.

Ele garante que seu estilo de gestão é o de dar autonomia ao time para atuar: “Sou zero hierarquia. Falo com todo mundo de igual para igual, com o fornecedor, o concessionário, o estagiário da empresa”. E isso tem se refletido nos resultados da companhia, que têm sido positivos nos últimos quatro anos, depois de período de dificuldades.

Também exaltou que somente um CEO brasileiro poderia ter compreendido o quanto uma campanha como a recentemente veiculada colocando na mesma cena Maria Rita e sua mãe, Elis Regina, recriada via inteligência artificial, teria apelo emocional junto aos consumidores locais – ainda assim, deixou claro que também transmitiu à AlmapBBDO a preocupação com a conversão de vendas. “Tivemos um market share espetacular no mês de julho e a campanha teve cerca de 2,7 bi views, 98% de comentários positivos”. O Polo foi o modelo mais vendido em julho, completando três meses consecutivos com melhor desempenho na categoria no mercado brasileiro, ressaltou.

Sobre a relação longeva com a agência, que atende a montadora desde 1956, o CEO da VW diz que a grande vantagem é que a parceira de comunicação entende “tudo do negócio”, e até questiona os caminhos, embora saiba o que cliente quer e para onde ir. Como resultado, pontua Ciro, o Brasil é um dos mercados no mundo onde a imagem de marca da VW é mais forte. Justamente porque construída com base numa visão de curto, médio e longo prazos.

Próximos 70

Salles Neto trouxe o dado de que a montadora anunciou investimento de R$ 7 bilhões na América Latina para questionar Possobom sobre onde a montadora pretende chegar na região e particularmente no Brasil. Segundo o executivo, esse valor será investido até 2026, mas já se discutem planos para além desse prazo. Dentro disso, a empresa prometeu lançar 15 carros e já trouxe ao mercado nove. Também tem trabalhado em ações para neutralização de carbono, trocando gás natural por biometano, por exemplo. “Temos colocado muito foco em tecnologia, porque o carro sairá da máquina para o software e serviço aos clientes. Estamos saindo da indústria de automóvel para a mobilidade”, argumentou.

Embora seja entusiasta das transformações da indústria e da qualidade da inteligência embarcada nos carros autônomos (chegou a conhecer o projeto de carro autônomo do Google), ainda considera haver desafios como o da autonomia das baterias e acessibilidade: “Setenta por cento dos carros vendidos no Brasil são de até R$ 120 mil e o etanol ainda é muito importante, pois tem 90% menos emissões de CO2 que carros a gasolina”.

Já sobre como engajar os jovens, aparentemente menos encantados com a ideia de possuir um carro, Possobom destacou que mesmo um jovem que não possua um carro utiliza um app como o Uber ou pode ser cliente de um serviço de assinatura de carros – a VW tem o seu Cyber Drive. No fundo, disse, os clientes buscam mobilidade e o papel da companhia é se adaptar e prover soluções para todas as diferentes demandas.

Sobre os próximos 70 anos de mercado, o CEO afirma que serão muito diferentes e demandarão muito mais investimentos por parte das empresas, já que se no passado os carros não tinham nem ar-condicionado, hoje, são muito mais sofisticados e cheios de tecnologia embarcada. Já sobre o cenário brasileiro especificamente, que tem crescido aquém de anos passados, o executivo analisa que são várias as dificuldades, uma vez que a indústria que chegou a vender 3,6 milhões de automóveis em 2012 e hoje tem capacidade ociosa de quase 50% e novos players estão chegando. “Nosso grande desafio nessa transformação do negócio é trazer tecnologia, mas com acessibilidade financeira ao consumidor brasileiro”, analisa.

A despeito de uma economia que, segundo ele, tem andado de lado, o executivo da VW se define como “otimista por natureza”. Ele acredita, pensando já em 2024, que um movimento inicial de queda nas taxas de juros agora pode ajudar um pouco mais a animar a demanda do próximo ano em relação a este. “E a VW virá mais forte ainda, porque será mais agressiva e com mais lançamentos”, promete Ciro Possobom.

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