Giovana Oréfice
5 de outubro de 2023 - 6h00
É inegável que, cada vez mais, a ascensão da tecnologia, novas gerações, desafios de sustentabilidade e tantas outras questões, forçam as empresas a tomar medidas que as coloquem a par da nova sociedade. As lideranças são peças chave na transformação de empresas e elas também se veem diante do desafio de atualização e até mesmo renovação para se enquadrar aos novos paradigmas do mundo atual.
Debatedoras subiram ao palco do segundo dia de Maximídia para abordar temas necessários às lideranças do futuro em painel mediado por Regina Augusto, diretora executiva do CENP (Crédito: Eduardo Lopes/Imagem Paulista)
“Essa transformação é impossível de ser feita com as mesmas pessoas que lideraram as empresas até aqui”, indicou Marienne Coutinho, sócia da KPMG no Brasil. Aí, entra a pauta da diversidade e inclusão. Além da presença de grupos minorizados na alta liderança, há um movimento hoje que dá luz à representatividade também nos conselhos de administração. A executiva está envolvida na importação da Women Corporate Directors (WCD), entidade que incentiva a formação de conselhos inovadores e engajados.
O cenário atual ainda não é tão avançado, apesar de uma evolução significativa. Jandaraci Araújo, cofundadora do Conselheiras 101 – iniciativa que promove o ingresso de mulheres negras e indígenas em conselhos de administração – professora e autora, esteve presente no painel e trouxe uma visão de experiência como atuante no meio e fomentadora da diversidade no mundo corporativo.
“Deixamos de ser objetos de estudo e participar de grupos apenas de entrada para poder ter poder de influência”, descreveu Jandaraci. A importância da representatividade se mostra na influência da alta liderança para levar diversidade às corporações, bem como apresenta um arsenal técnico diferenciado. “Nossa ideia é sair do lugar da dor para a ação”, acrescentou.
A diversidade também molda novos talentos para conduzir times aptos à mudança. Segundo Marianne, os colaboradores devem vir com mindset de crescimento, ou seja, pessoas abertas para o aprendizado do que hoje se exige no mundo para um negócio de sucesso. “O fato é: o mundo está mudando. Então, precisamos ter pessoas que trabalham com menos hierarquia, mais colaboração, que tenham menos ‘ou’ e mais ‘e’, e que estejam abertas a novos modelos de trabalho e gerações”, exemplificou a sócia da KPMG.
ESG e reputação
Boas práticas socioambientais ligadas à agenda ESG vieram tomando forma e se fortalecendo nos últimos anos. Agora, passam por um período de teste, conforme indica Marianne, sobretudo à luz do greenwashing. Um exemplo é o corte de colaboradores relacionados às áreas de diversidade e inclusão em momentos de crise econômica e necessidade de redução de custos. A panielista apontou que fatos como esse levam também à uma análise do que a empresa está com efetividade para que as ações não sejam apenas voltadas para o marketing.
Atualmente, relatórios financeiros e de sustentabilidade vem levando em conta não apenas as ações em si, mas o impacto que tem na sociedade. Neste sentido, há uma relação com a mitigação de riscos e a diversidade, segundo a cofundadora do Conselheiras 101. “O que precisamos é acabar com esse processo de epistemologia dessa figura e dessa inviabilização. O normal técnico é invisibilizado”, alertou Jandaraci. Ela endossou, ainda, que a agenda de diversidade não acontece sob o conceito de substituição, mas sim de uma nova construção de futuro.
Ao final, Jandaraci também deixou uma provocação para que a audiência questione a máxima de sujeito universal – o homem branco, cisgênero, heterossexual de, em média 50 anos – em posições de liderança. Ela traz o dado de que esta parcela, 22% da população, ocupa 88% dos cargos de liderança no País. “Vamos fazer diferente, vamos começar a abrir espaço, construir e fazer do topo o platô”, disse, dando luz ao desafio de lideranças de trazer a diversidade.
“É muito importante as pessoas, de fato, entenderem que o que fazemos e praticamos no dia a dia – cada um dentro do seu papel – reflete aquilo que queremos atingir”, contribuiu a sócia da KPMG.