Assinar

A Copa no deserto

Buscar
Publicidade
Opinião

A Copa no deserto

O que já foi feito e o que ainda falta fazer para que o Catar proporcione em 2022 um ótimo evento para quem assistir in loco e para quem acompanhar à distância pela mídia


25 de março de 2019 - 15h47

 

 

(crédito: Pixabay)

Quando Joseph Blatter abriu o envelope contendo o nome do ganhador, nem mesmo os executivos da Fifa acreditaram no que viram. “A Copa do Mundo de 2022 vai para o Catar”, disse o presidente, visivelmente constrangido.

Era um dia frio de dezembro de 2010 em Zurique e a decisão do Conselho da Fifa pegou todo mundo de surpresa. A equipe liderada pelo então secretário geral Jérôme Valcke havia trabalhado por meses na avaliação comercial de todos os países candidatos. O Catar competia com os Estados Unidos, a Austrália, a Coreia do Sul e com Japão. Não é de se estranhar que não fosse a primeira opção de anfitrião.

Nos anos seguintes àquele anúncio, a Fifa passou por uma crise épica. Foi forçada a mudar sua liderança, repensar as suas regras e contratar novos executivos. Tudo isso enquanto lidava com múltiplos processos judiciais e tentava organizar a Copa do Mundo da Rússia.

As críticas eram intermináveis: corrupção na eleição do Catar; o risco para a saúde dos jogadores por jogarem em temperaturas acima dos 40ºC e as denúncias de abuso dos operários da construção civil.

Não há como negar os problemas, mas, na minha opinião, até agora eles acertaram muito mais do que a imprensa internacional lhes dá crédito. Estas são algumas críticas e as das mudanças feitas:

Não é possível jogar no calor do Catar.

Para evitar o calor dos meses de verão, a data da Copa foi alterada para o inverno — quando as temperaturas estão por volta dos 20°C. Ela começa no dia 21 de novembro e termina no dia 18 de dezembro. Além disso, os campos são dotados de um sistema de refrigeração que garante as baixas temperaturas mesmo nos dias mais quentes.

O Catar não respeita os direitos dos operários de construção.

Graças à Copa e à pressão de organizações de direitos humanos, o Catar adaptou suas normas de construção exigindo que as construtoras oferecessem melhores condições para os operários. Apesar de estarem longe de serem perfeitas, os avanços são consideráveis. Nada disso teria acontecido sem a Copa do Mundo.

A Copa do Mundo deixará muitos estádios que não serão usados no futuro.

Dos oito estádios, sete são novos. A maioria deles construída com uma visão de reaproveitamento. Alguns virarão escolas, outros serão desmontados e mandados para outros países. Seis deles têm capacidade abaixo de 45 mil lugares, algo que atende às necessidades do evento e do país.

Quem viajar para o Catar não terá uma boa experiência.

Além de serem ótimos anfitriões, o Catar oferece uma vantagem logística imbatível: o seu tamanho. Todos os estádios estão próximos. A distância máxima entre eles é de 50 quilômetros. Quem for ver a Copa ao vivo poderá assistir duas ou até três partidas por dia, algo impensável nas Copas continentais do Brasil e Rússia.

Enquanto os críticos ganham “curtidas” explicando por que a Copa do Mundo do Catar vai fracassar, o Comitê Organizador, a entidade criada para executar o evento, trabalha duro para garantir que tudo saia de acordo com seus ambiciosos planos.

Mas o Catar ainda tem muito o que fazer até 2022.

Resolver sua crise política.

O Catar está envolvido em uma disputa política com a maioria de seus vizinhos, incluindo os importantes Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita. Ninguém sabe como essa briga entre os vizinhos vai acabar. As sansões impostas comprometem o acesso de turistas e mercadorias.

Resolver o escopo do campeonato.

A Fifa tem interesse em aumentar o número de países participantes de 32 para 48. Isso só seria possível se outros países sediassem algumas partidas. Ainda há uma possibilidade que Omã e o Kuwait acabem como parceiros do Catar.

Resolver a escassez de Hotéis.

Não há hotéis suficientes para os torcedores, patrocinadores e organizadores. A solução mais provável será o uso de cruzeiros marítimos como hotéis, algo semelhante ao que foi feito na Olimpíada do Rio de Janeiro.

Considerando os prós e contras da Copa do Catar e todo o trabalho que já foi feito, estou confiante que será um evento ótimo tanto para quem assistir ao vivo quanto para quem ficar em casa. Cada Copa do Mundo é especial por uma razão diferente. O Catar não será uma exceção.

* Crédito da foto no topo: Reprodução

Publicidade

Compartilhe

Veja também

  • Periferias criativas: oportunidade de ouro a marcas com propósito

    Muitos desses lugares são polos de inovação aos quais as marcas, apesar do mercado saturado de mensagens genéricas, não se atentam

  • Simone Biles não é uma heroína, ela é uma desistente

    A melhor falhou; Que apropriado para alguém que se autoproclama a maior de todos os tempos