Opinião

A nova Black Friday: hora de vender ou de se posicionar?

Quando coerência e confiança passam a pesar mais que qualquer desconto na decisão do consumidor

Tati Wong

Diretora executiva da Roda Trade 25 de novembro de 2025 - 17h00

A Black Friday está prestes a mudar e não estamos falando apenas do volume de vendas. Em 2025, há um movimento silencioso, porém firme, de marcas que começam a enxergar a data por outro ângulo. Muito além dos descontos agressivos, surge um espaço estratégico: o de construir reputação e aprofundar o relacionamento com o consumidor.

Os sinais estão por toda parte. O Brasil é o segundo país que mais busca o termo “Black Friday” no Google, perdendo apenas para a França, segundo dados da SEO Conversion. Mais curioso ainda: já em outubro, 70% dos consumidores brasileiros afirmavam estar se organizando para as compras, e 60% diziam que pretendiam gastar mais de R$500. Isso é só impulso? Não parece. É planejamento. É uma intenção consciente.

E se a liquidação não for mais a principal?

Grandes empresas como Unilever, Coca-Cola e Mary Kay, entre outras, já perceberam que o jogo mudou. O consumidor quer mais que preço. Ele busca coerência. Quer sentir que há uma narrativa verdadeira por trás de cada campanha. Não se trata mais de disputar o menor valor, mas de entregar algo que se sustente além do clique.

Um estudo da Gauge e W3haus estima que a Black Friday de 2025 deve movimentar R$13,6 bilhões, um número expressivo, sem dúvida. Mas a pergunta que fica é: quanto disso virá de relações consistentes e quanto será apenas resultado de compras por impulso?

O marketing que antecipa e constrói

Encarar a Black Friday como um fim já não faz tanto sentido. O que se desenha é o oposto: ela deve ser o início de uma jornada. Um ponto de partida para um diálogo mais constante e relevante com o público.

E esse público está mais atento. Ele não quer apenas receber um e-mail chamativo com “última chance” no título. Quero fazer parte da história da marca. Quer saber que seus dados são usados com responsabilidade e que sua experiência vai além da conversão.

Confiança se constrói e se conquista

Talvez o grande diferencial competitivo de agora seja algo simples, mas raro: confiança. Quando as marcas entregam o que prometem, respeitam o tempo do cliente e comunicam com clareza, a fidelidade surge como efeito colateral, não como meta forçada.

A Black Friday, nesse cenário, não precisa ser apenas o dia dos cupons. Pode e talvez deva ser o momento em que a marca mostra quem realmente é. A reputação não se constrói apenas com anúncios: ela nasce nos bastidores, cresce com coerência e se consolida quando o consumidor volta, mesmo depois que os preços voltam ao normal.