Opinião

O que o consumidor valoriza?

Uma visão plural dos Brasis e seus comportamentos

Diego Oliveira

Sócio Fundador Youpper Insights 25 de novembro de 2025 - 17h00

O Brasil é feito de muitos Brasis. Essa frase, que parece um clichê, se confirma cada vez mais quando olhamos para os comportamentos de consumo. Por muito tempo, acreditou-se que entender o consumidor era apenas uma questão de renda, posse de bens ou acesso a serviços. Mas a realidade é bem mais complexa: hábitos, crenças, estilos de vida, redes de relacionamento e visões de mundo influenciam tanto quanto — ou até mais — do que o poder de compra.

O profissional de mercado que deseja se manter atualizado precisa compreender essa pluralidade. O consumidor brasileiro é multifacetado: é possível encontrar o “rico pobre”, que ostenta símbolos de status para se afirmar, mas convive com restrições financeiras; o “pobre rico”, que investe em educação e viagens porque vê nisso uma forma de ascensão; o “médio médio”, que busca equilíbrio entre tradição e inovação. Cada uma dessas categorias revela nuances de valores, desejos e frustrações.

Mais do que preços e promoções, o consumidor hoje valoriza pertencimento. Quer se sentir representado em narrativas de marca, respeitado em suas escolhas e reconhecido em sua singularidade. Isso explica, por exemplo, o crescimento de movimentos ligados à diversidade, sustentabilidade e bem-estar. Não se trata apenas de “tendências” ou discursos de marketing: são respostas a uma demanda real de consumidores que buscam coerência entre o que compram e o que acreditam.

Outro ponto relevante é a valorização da experiência. Produtos e serviços deixaram de ser consumidos apenas pela funcionalidade; eles precisam entregar significado. Uma refeição não é só alimento: é memória, é encontro, é status. Um curso não é apenas capacitação: é rede de contatos, é identidade profissional, é capital cultural. Nessa lógica, o consumo se transforma em narrativa de vida.

Também cresce a importância da proximidade. Consumidores querem marcas que falem sua língua, que entendam suas dores locais e que reconheçam contextos regionais. Uma campanha que funciona em São Paulo pode soar distante em Goiânia; uma solução valorizada em Salvador pode não ter o mesmo peso em Fortaleza. É nesse ponto que os Brasis se revelam — e que o olhar atento do profissional de mercado faz toda a diferença.

Atualizar-se, portanto, não é apenas acompanhar relatórios ou dados estatísticos. É praticar escuta ativa, observar comportamentos emergentes e enxergar além das métricas tradicionais. É reconhecer que cada consumidor carrega múltiplas camadas: econômico, cultural, social e simbólico.

O desafio para profissionais e empresas é abraçar a complexidade. Em vez de buscar simplificações, é hora de aprender com as nuances. Só assim será possível criar estratégias, produtos e comunicações que realmente ressoem com os Brasis que compõem o nosso País.

No fundo, a pergunta que precisa ser feita não é apenas “o que o consumidor compra?”, mas “o que o consumidor valoriza?”. A resposta nunca será única — e é justamente nessa diversidade que reside a riqueza do mercado brasileiro.