Ahhh… a bendita ref
Certas plataformas passaram a ser usadas indiscriminadamente e sem critério pelos criativos e essa limitação de referências resulta em um mercado saturado de projetos visuais semelhantes e previsíveis
Certas plataformas passaram a ser usadas indiscriminadamente e sem critério pelos criativos e essa limitação de referências resulta em um mercado saturado de projetos visuais semelhantes e previsíveis
No início do meu curso de publicidade, me lembro do dia em que um professor começou sua aula com a frase “Quem aqui gosta de criar?” – obviamente toda a sala de alunos e alunas jovens e cheios de energia levantou a mão – e então ele continuou: “Ótimo. Sugiro que mudem de área e vão para cinema, aqui em publicidade a gente copia, mas copia bem bonito”. Quase duas décadas depois essa frase vai e volta na minha cabeça e me traz interpretações diferentes para o que ele estava querendo dizer.
Acredito que a interpretação mais acertada seria a de que não somos obrigados a criar produtos 100% originais, muito mais entender referências visuais e comportamentos para emulá-los e os referenciarmos em comunicação e peças publicitárias, nos aproveitando do conhecimento prévio do público em cima de um tema para passar a mensagem da campanha ou da marca. Nesse sentido, é bem inteligente e super necessário para criarmos um mercado de publicidade com diversidade criativa, humor e inovação.
Posto isso, a meu ver, uma publicidade de qualidade quase sempre bebe da fonte de outras áreas de comunicação, artes, entretenimento – e por que não? –, áreas de exatas. O importante é ter conhecimento (não aprofundado) em vários campos diferentes para ser um bom criativo, planejador, marketeiro etc etc.
Espero que esteja concordando comigo até aqui, porque agora vem a braba: toda essa poesia linda de se inspirar em outros campos para criar algo autêntico começa a perder o brilho quando vemos como plataformas como Pinterest, Behance e até mesmo o Instagram são utilizadas de forma indiscriminada e sem critério. Ao invés de buscar referências variadas e inusitadas, muitos profissionais acabam limitando suas pesquisas a essas ferramentas, o que resulta em um mercado saturado de projetos visuais semelhantes e previsíveis.
É inegável que essas plataformas têm seu valor, oferecendo uma vasta gama de inspirações a um clique de distância. No entanto, o perigo reside em se acomodar nesse conforto e deixar de buscar referências fora do óbvio. O resultado? Um looping interminável de design genérico, em que a originalidade e a inovação são frequentemente sacrificadas em prol da conveniência.
Com a chegada da inteligência artificial (IA), essa tendência se intensifica. Ferramentas de IA como Perplexity, Haiper, Gemini, Dall-e, MidJourney e outras prometem facilitar ainda mais o processo criativo, gerando imagens e conceitos a partir de comandos simples. No entanto, é importante lembrar que a própria IA se baseia em uma vasta quantidade de dados existentes para criar suas entregas. Essas tecnologias analisam milhões de imagens, textos e outros conteúdos disponíveis na internet, aprendendo padrões e replicando estilos já existentes. Se usadas corretamente, essas tecnologias têm o potencial de revolucionar a criação publicitária. Contudo, se dependermos exclusivamente delas sem uma curadoria crítica e um olhar aguçado, corremos o risco de aprofundar ainda mais a homogeneização do mercado.
O desafio, portanto, é não se deixar levar pelo caminho mais fácil. É fundamental continuar explorando diferentes fontes de inspiração, cultivando um olhar crítico e uma mente aberta. Só assim poderemos garantir que a publicidade e outras áreas criativas continuem a evoluir, trazendo diversidade, inovação e relevância para um público cada vez mais exigente. Afinal, copiar bem bonito é uma arte, mas criar algo verdadeiramente único é um privilégio que só os ambiciosos podem alcançar.
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