Entendendo o que não está sendo dito
São raras as empresas que têm times internos verdadeiramente plurais e preparados para debater o tema equidade
Empresas que realmente querem mudar precisam, antes de tudo, estar dispostas a ouvir. E ouvir de verdade. Não com o filtro do ego corporativo, mas com a abertura de quem entende que não sabe tudo. É aí que entra o papel das consultorias: elas não são soluções instantâneas, mas dispositivos que ajudam a enxergar o que a rotina, a cultura e os vícios internos já deixaram invisível.
Consultoria não é capa de revista, nem remendo. É uma ferramenta de transformação. E, em tempos de urgência social, onde o discurso precisa encontrar a prática, ela pode ser uma aliada estratégica para evitar vieses, abrir escuta e oferecer perspectivas que o ambiente interno já não é capaz de acessar. Afinal, quem está dentro demais, muitas vezes, não vê o todo.
No campo da diversidade, isso se intensifica. São raras as empresas que têm times internos verdadeiramente plurais e preparados para debater equidade com profundidade. E aqui, entra a importância das consultorias sérias: elas não substituem o time, mas ajudam a transformar o sistema por dentro, a mapear fragilidades, a tomar decisões com dados e, principalmente, a entender o que não está sendo dito.
O valor de uma consultoria está na sua capacidade de desconfortar com propósito. De mostrar onde o marketing acaba e onde começa a cultura da empresa. De dizer o que ninguém quer ouvir, com responsabilidade e estratégia.
É preciso parar de tratar a consultoria como um projeto paralelo, e entender que ela pode ser o coração da mudança. Seja para ajustar rotas, construir narrativas ou provocar ações que gerem retorno real de marca, de impacto e de negócio.
Há bons exemplos no mercado de marcas que souberam usar esse recurso a favor. Após episódios de discriminação em uma de suas lojas, a Starbucks fechou mais de oito mil unidades nos Estados Unidos por um dia para promover treinamentos de diversidade e escuta ativa. A ação foi conduzida com apoio de consultores externos especializados em justiça racial, e se tornou referência em como uma crise pode ser ponto de virada, desde que haja disposição genuína para rever estruturas.
Por outro lado, não faltam casos em que a ausência de escuta levou a campanhas que viralizaram pelo motivo errado. Um exemplo conhecido foi o de uma grande marca de bebidas que tentou falar de justiça social usando uma celebridade em um protesto genérico e acabou sendo acusada de banalizar pautas importantes. Talvez, com a participação de consultorias especializadas, o resultado tivesse sido outro.
Essa importância não é mera percepção: o mercado global de consultoria foi avaliado em US$ 303 bilhões em 2024 e projeta crescimento anual de 5,3% até 2032. A fatia estratégica — que inclui gestão, inovação e ESG — representa mais da metade desse valor, indicando que empresas de todos os portes estão dispostas a investir para entender, agir e se transformar.
Porque, no fim, o mercado ainda é viciado em pensar com as mesmas referências de sempre. Se não formos capazes de colocar novas lentes nesse processo, arriscamos repetir padrões que já não servem mais. Mas toda mudança começa assim: olhando o mesmo mundo com um novo olhar.