Opinião
I hope I die before I get old
Enquanto outras áreas valorizam a proficiência que vem com a prática, a publicidade faz o oposto
Enquanto outras áreas valorizam a proficiência que vem com a prática, a publicidade faz o oposto
Em 19 de maio de 1965, no dia em que completou 20 anos, Pete Townshend compôs o que viria a ser um dos grandes clássicos do The Who: My Generation. Logo no início, temos um dos versos mais definitivos do rock: “I hope I die before I get old”. Algum tempo depois, Paul McCartney, com apenas 24 anos, se perguntava se alguém ainda precisaria dele quando tivesse 64 anos. Ian Anderson, vocalista do Jethro Tull, lançou o álbum conceitual Too old to rock ‘n’ roll: too young to die, antes de fazer 30 anos. Não é coincidência. A música, como a propaganda, sempre foi uma indústria que prezou a juventude. Somos obcecados pelo novo. Como Dorian Grays modernos, queremos nos manter jovens. Custe o que custar.
Hoje, todo mundo levanta a bandeira da igualdade e da inclusão. Marcas, agências e campanhas se manifestam contra o racismo, denunciam o sexismo e se colocam contra a discriminação. Mas pouco ou quase nada se fala sobre a idade. É uma prática enraizada e estabelecida. Um segredo aberto. Um processo culturalmente aceito. Segundo a Organização Mundial de Saúde, o etarismo se refere aos estereótipos (como pensamos), preconceito (como nos sentimos) e discriminação (como agimos) em relação aos outros ou a si mesmo com base na idade. E enquanto outras áreas valorizam a proficiência que vem com a prática, a publicidade faz o oposto. Glorificamos a juventude porque a combinamos com criatividade, enquanto os mais velhos seriam os defensores do status quo. Será?
Vejamos algumas das profissões que trabalham com ideias. A idade média de um ganhador do Prêmio Nobel é de 59 anos. Do vencedor do Oscar de melhor diretor, 47. “Ok, e as startups?”, alguém pode estar se perguntando. Boa pergunta. Pesquisadores do MIT, Northwestern, Wharton e U.S. Census Bureau revelaram, segundo matéria da Forbes de agosto, que a idade média dos fundadores de startups nos EUA é de 42 anos. “Ah, mas na tecnologia não é bem assim”, você deve estar me retrucando mentalmente. Tem razão. A idade média dos fundadores de startups de alta tecnologia é um pouco maior: 43 anos. Quer mais? O estudo mostra que a probabilidade de sucesso como fundador também aumenta com a idade. Uma pessoa de 50 anos que funda uma startup tem duas vezes mais chances de construir uma empresa próspera que tenha um IPO ou uma aquisição bem-sucedida do que uma de 30 anos.
Voltando ao mundo da música, sabe qual foi a turnê mais lucrativa de 2021? A dos septuagenários e infindáveis Rolling Stones, que levaram mais de meio milhão de pessoas aos seus shows e arrecadaram U$ 115,5 milhões. Imagina a alegria deles cada vez que cantam Time is on my side? Aqui mesmo, no Rock in Rio, os sessentões do Iron Maiden foram eleitos pelos leitores do G1 como o melhor show do primeiro final de semana. E a apresentação apoteótica dos quarentões do Coldplay escolhida como a melhor do festival. Ah, sim. E agora com 77 e 78 anos, Pete Townshend e Roger Daltrey continuam fazendo sucesso cada vez que sobem num palco para cantar My Generation.
Cortar pessoas mais velhas para diminuir custos é uma economia míope e baseada em preconceitos sistemáticos e subconscientes. Mudar nossas atitudes anti-idade não é apenas uma decisão moral, mas comercial. Ao subestimar a equipe mais velha, subestimamos a experiência. Ao negligenciar a competência em detrimento da idade, negligenciamos o talento. Precisamos buscar o equilíbrio. Ying e Yang. Marty McFly e Dr. Brown. Jesse Pinkman e Walter White. Novidade e experiência. Insistir que a juventude é a única saída é coisa de criança mimada. E já está mais do que na hora da propaganda crescer.
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