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Opinião

Mais amor na inovação ou o fim dos MVP

Encontre num ambiente em renovação cíclica um time que aceite explorar distorções imaginativas e duvidosas das regras e as possibilidades de resultados criativos serão infinitas


2 de dezembro de 2019 - 12h57

(Crédito: Chaiyapruek 2520/ iStock)

Empresas longamente estabelecidas mergulham na transição digital, incorporando metodologias inovadoras, usando mais agilidade nas suas práticas, incorporando dados de comportamento de clientes. Coca-Cola, Nestlé e Santander são exemplos onde as mentalidades se expressam desde o lançamento de produtos à aceleração de startups. Um mundo inteiro se abrindo para novas ideias.

No novo ambiente, falamos em Agile, squads e MVP (produto minimamente viável), com a mesma naturalidade com que pronunciamos brainstorm, storyboard, e tantos outros legados do vocabulário profissional gringo.

Na sua grande maioria, os métodos que estamos empregando são os mesmo que trouxeram as novas gerações de gigantes tech como Google e Amazon à vida. Liderado principalmente pelas consultorias de tecnologia, a pegada inventiva da engenharia é que dá o tom na corrente da transformação digital. Racional por natureza, pragmático por princípio, performático por opção, o movimento proporciona um espaço diferente para a geração de ideias.

Mas há quem pense que estamos desperdiçando nossas melhores oportunidades. No trecho de seu novo livro, How to Speak Machine, publicado recentemente pela Fast Company, o designer John Maeda joga areia para cima: “Chegou a hora de parar de projetar produtos minimamente viáveis”. É uma provocação (ou não). Superstar histórico do digital, Maeda sabe o que está cutucando. Os MVPs estão no coração desse movimento todo. Um conceito genial que, entre outras coisas, derrubou a ideia de que um produto deveria estar perfeito antes de ser colocado no mercado. Um conceito que quebrou os longos ciclos de design e produção e tornou possível transformações rápidas e saltos qualitativos.

Acontece que, na opinião de Maeda, a cultura de engenharia de onde vem a maioria dos times construindo sistemas digitais, entende “viável” como confiável e com o menor número de defeitos possível. A vitória do certo sobre o duvidoso. E aí as possibilidades de entregar alguma coisa com ligações emocionais fortes com as pessoas comuns e saltar sobre toda a competição acabam. Ele pede espaço para mais amor nos MVP. Procura qualidades que permitam que as pessoas criem laços imediatos com os produtos em teste, um encaixe imediato e perfeito com suas vidas. Ele quer mais criatividade no meio da inovação.

Já faz algum tempo que os colegas do Vale do Silício andam reclamando que os processos cíclicos de design e desenvolvimento, que foram criados para dar chances constantes e sistemáticas para inovações e saltos criativos, viraram pontos de controle que evitam riscos e empurram as quebras de norma para a rodada seguinte. Tempos incríveis para criativos de todas as disciplinas, que podem expandir, pelo desafio, os limites dessas normas. Justamente por pensarem torto onde os engenheiros pensam direito.

O carro retro-futurista da Tesla serve como ilustração dessa mistura. Quem acha que o lançamento foi genial, levanta a mão! Muita gente perguntando de onde surgiu aquilo. As chapas planas e ângulos retos vieram mesmo da engenharia de produção? O design poligonal de videogames veio de um sprint? Dos sonhos de um redator cyberpunk? E o que dizer do vidro estraçalhado no meio da apresentação da blindagem: foi uma falha grotesca de tecnologia ou uma vitória genial de comunicação? Até agora, menos de uma semana depois do lançamento, 200 mil pessoas já fizeram a reserva para compra, adiantando apenas US$ 100. Imagino que os custos do protótipo funcional e o teste de mercado já foram cobertos com esse dinheiro. Talvez até parte da primeira produção, que deve sair somente no final do ano que vem.

Encontre dentro de um ambiente em renovação cíclica um time que aceite explorar distorções imaginativas e duvidosas das regras e as possibilidades de resultados criativos poderosos serão infinitas.

*Crédito da foto no topo: iStock

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