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Opinião não é feedback

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Opinião não é feedback

Ao invés de se concentrar no passado, ofereça sugestões construtivas para o futuro


5 de setembro de 2024 - 14h00

A maior parte das pessoas têm frio na barriga ao ouvir a palavra feedback porque, no mundo corporativo, ela virou desculpa para despejar o próprio lixo no outro. Um comentário como:

“Você fala tão alto.” Não é um feedback. É uma opinião não solicitada.

“Seu trabalho é desleixado.” Não é um feedback. É uma crítica.

“Você não é boa nisso.” Não é um feedback. É um julgamento.

“Você tem que melhorar.” Não é um feedback. É um comentário vago.

Feedback é informação relevante para avançar em direção a objetivos comuns. Não é sobre a vida ou a natureza da pessoa. É um processo de comunicação construtiva, específica, clara, que serve para ações e atitudes. Só funciona se reforçar o que está no caminho e identificar o que precisa melhorar.

E por que é tão difícil de fazer? Porque as fórmulas prontas não funcionam. O feedback sanduíche – fazer um elogio primeiro, uma crítica no meio e terminar com outro elogio – é balela. Confunde quem ouve, não é honesto e gera desperdício de tempo para florear quando o objetivo é evoluir. Ninguém ensina o mais importante na hora de dar um feedback: a intenção. Ela é mais relevante que o discurso. Com raiva, a intenção costuma machucar e causar vergonha. Outras vezes, a intenção é demonstrar controle, superioridade. E ela chega independente da escolha de palavras.

Para ser direto sem ser bruto ou assertivo sem magoar, alinhe a intenção. A chave é o que acontece dentro de você, antes de falar. Como chego para essa conversa? Qual é a intenção? Descarregar frustração? Ou avançar na direção dos resultados que queremos?

Também é importante lembrar que as pessoas são como são e dificilmente há êxito na tentativa de reformar pares, superiores ou subordinados. Muda quem tem vontade. Portanto, mais estratégico do que apontar erros na forma dos outros é aprender a extrair o que serve do feedback – ou de críticas – como vierem.

Todos temos pontos cegos. E as pessoas não precisam parar a vida delas para sinalizar onde estão os meus ou os seus. Só faz isso quem se importa o suficiente. Minha ambição é te fazer gostar, buscar e pedir feedback. Treinar para ouvir sem se magoar, chorar ou evitá-lo. Se você recebe e “chora” (metafórica ou literalmente), a pessoa nunca mais vai parar a própria agenda para sinalizar seus pontos cegos.

A empreendedora Melody Hobson costuma dizer que a pior tragédia é cair em julgamento ou vitimismo diante da eventual brutalidade de um feedback. A dica de ouro é: busque os grãos de verdade em qualquer feedback, independentemente de como é entregue. Use tudo a seu favor.

Um gato se encosta no chão e usa a barriga como sensor antes de fazer a investida no passarinho. O escorpião se enterra na areia e sente os passos das formigas para se mover. Todo ser vivo precisa do máximo possível de informações sobre o ambiente e os demais para prosperar. Usemos o olhar do outro, a conversa difícil, com sabedoria.

Para terminar cito um dos meus autores favoritos, Adam Grant. Ele usa a expressão feedforward, que ao invés de se concentrar no passado, oferece sugestões construtivas para o futuro. Um ajuste delicado que faz toda diferença. Sem “sanduíche”, sem viver na “fofolândia” (terra onde é preciso pisar em ovos para não ofender seres delicados demais). Para isso, o caminho é sentar ombro a ombro, lado a lado. Não se colocar de cima pra baixo e partir de uma intenção virtuosa. Vamos iniciar logo essa mudança?

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