Opinião

O que aumenta em 138% as chances de ter sucesso com IA?

Capacitar é mais do que ensinar a usar ferramentas. É cultivar pensamento estratégico, espírito crítico e familiaridade com novos padrões de trabalho baseados por IA

Lucas Reis

Diretor de Assuntos Governamentais do IAB Brasil e Fundador da Zygon Digital 26 de setembro de 2025 - 12h25

Quando fui ao SXSW, em 2024, me chamou atenção a recorrência com que uma expressão aparecia nos painéis e conversas: AI Literacy. O letramento em inteligência artificial foi apresentado como um pré-requisito para que a tecnologia se tornasse plena. O curioso era o paradoxo que se repetia: de um lado, ouvia-se que a IA seria o principal vetor de transformação dos próximos anos, e que quem não se adaptasse rapidamente seria atropelado. De outro, reconhecia-se que, para a IA de fato gerar impacto, seria necessário treinar pessoas para usá-la. Na época, escrevi num artigo que era a IA que precisava das pessoas para virar realidade. E sigo convencido disso.

Adotar IA vai muito além de contratar licenças de ferramentas. Implica mudança de mentalidade, reorganização de fluxos e reconfiguração cultural. Sem isso, os sistemas são subutilizados sequer são uados. Por outro lado, quando há capacitação adequada, os resultados aparecem. Segundo a McKinsey, empresas que implementaram programas de treinamento em Gen AI têm 138% mais chances de gerar valor com essa tecnologia.

Apesar disso, a lacuna ainda é profunda. Uma pesquisa conduzida pela Salesforce revelou que 70% dos profissionais afirmam que seus empregadores não oferecem treinamentos em Gen AI. O dado converge com outro levantamento, do IAB Europe em parceria com a Microsoft, no qual 89% dos respondentes disseram que a indústria precisa de mais educação sobre IA generativa.

Esses números revelam uma dissonância relevante. A inteligência artificial está no centro da transformação digital e da competitividade contemporânea, mas o preparo das equipes para operar esse novo cenário ainda é incipiente. E isso precisa mudar.

Capacitar é mais do que ensinar a usar ferramentas. É cultivar pensamento estratégico, espírito crítico e familiaridade com novos padrões de trabalho baseados por IA. Significa habilitar profissionais para que pensem, decidam e façam melhor — com apoio da tecnologia.

Tenho uma empresa que faz exatamente isso, e sempre preciso explicar aos clientes que por mais potente que seja, nenhuma IA, mesmo autônoma, opera com inteligência se quem a aciona não estiver preparado para explorar o que ela pode oferecer.É isso que se chama de AI Strategy: construir capacidades organizacionais que tornem o impacto desta tecnologia relevante, sustentável e lucrativo. E isso começa por onde sempre começou: pelas pessoas.