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De 7 a 15 de março de 2025 I Austin - EUA
SXSW

A realidade que ainda não vivemos

Depois de 25 anos do lançamento de Matrix, 'spatial computing' e AI trazem um entendimento profundo de que tipo de realidade o futuro nos pode trazer


11 de março de 2024 - 16h26

O SXSW é uma experiência peculiar. É tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, correria de um lado para o outro que, muitas vezes, parece que vivemos realidades paralelas a cada vez que trocamos de prédio para uma palestra. Outras vezes, acabamos caindo de paraquedas em um papo totalmente inusitado. Ou entramos em outro com uma expectativa muito diferente do que experimentamos ali. Ontem isso aconteceu comigo e foi a melhor apresentação que vi até agora.

O tema era ‘Co-Creating the Near Future with Spatial Computing & AI’ feita pelo autor e futurista Neil Redding. Minha expectativa (nos cinco minutos antes da palestra em que decidi entrar) era de uma conversa técnica sobre Vision Pro e AI. Para minha surpresa, o Neil começou nos desafiando filosoficamente sobre como o conceito de ‘realidade objetiva’ está cada vez mais em cheque. Para quem não conhece o conceito é super simples: a realidade objetiva é a realidade que vivemos todos os dias, baseada nos fatos e coisas à nossa volta. Segundo Neil, como cientista, ele sempre acreditou nessa realidade como fato, o que define tudo o que fazemos.

Então ele mostrou como vários experimentos científicos, psicológicos e neurológicos mostram que a realidade é cada vez mais subjetiva. Dependendo do ponto físico de onde estamos, de variáveis colocadas no experimento, mudamos ‘nossa realidade’ ou a enxergamos de forma diferente. Isso fica claro em um experimento do neurocientista Justin Gardner da Universidade de Stanford. Em um tabuleiro simples, como de xadrez, ele tem duas cores: cinza escuro e branco. Ao mudar a perspectiva do tabuleiro e colocar um cilindro em um dos cantos, nosso cérebro enxerga o quadro do meio de outra cor. E por mais que a gente saiba que aquela não é a cor correta, não conseguimos mudar a realidade que nosso cérebro nos colocou. Lembra do experimento do vestido branco? É uma lógica parecida.

Este teste, assim como vários outros, mostram que estamos vivendo cada vez mais conectados à subjetividade da realidade. E é aí que entra o poder de Spatial Computing (ou computação espacial). O que o Vision Pro da Apple, por exemplo, traz não é apenas mais um gadget super caro de realidade aumentada. Ele traz o começo de uma tendência que, segundo o Neil, vai dominar nosso futuro próximo: a capacidade de co-criar, experimentar e moldar realidades subjetivas. E essas realidades mudarão de forma dramática a forma como vivemos.

Segundo o futurista, essa experiência vai ser parecida com o conceito de sonho lúcido, aquele tipo de sonho que temos a capacidade de controlar tudo: voar, fazer coisas incríveis ou moldar o ambiente ao nosso redor. E nesse contexto, AI vai ter um papel decisivo: a combinação do que queremos fazer com o poder do AI vai elevar a criatividade da nossa realidade subjetiva à décima potência, criando um ecossistema que vai parecer tão real e incrível que vai se misturar à realidade objetiva em que estamos acostumadas a viver. É o que ele chama de Quantum Reality. É a tecnologia criando o conceito de ‘contextual everything’, onde todas as experiências serão moldadas de forma única e espetacular. E nosso comportamento e nossas escolhas vão determinar como essa realidade vai se expandir.

Parece que os Wachowski estavam certos quando lançaram Matrix há 25 anos atrás. E, assim como o Neo, a escolha de que realidade queremos viver será sempre nossa. A questão é em que realidade vamos acreditar.

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