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De 7 a 15 de março de 2025 I Austin - EUA
SXSW

Not So Guilty

Como o medo do julgamento pode limitar a criatividade e a inovação no trabalho


11 de março de 2025 - 18h15

Já me eximindo de qualquer culpa, admito: não fazia ideia de quem estava falando no palco principal do SXSW quando entrei na manhã de domingo. Eu só queria garantir um lugarzinho bom para a próxima atração.

Enquanto esperava, sorte grande: assisti à gravação ao vivo de um podcast famosíssimo (que, também admito, não conhecia). No palco, Kenya Barris e Malcolm Gladwell comandavam “Unusual Suspects” diante de 1.700 espectadores.

A convidada? Brené Brown. Foi boa? Olha, deve ter recebido umas oito salvas de palmas por motivos diferentes ao longo de uma hora de conversa. Isso já devia dizer tudo. Mas a Wikipedia diria algo a mais.

Tipo ela ser uma professora, pesquisadora, palestrante, escritora e apresentadora, conhecida principalmente por sua pesquisa sobre vergonha, vulnerabilidade e liderança.

Brené tem um raciocínio no mínimo provocador sobre a diferença entre “shame” e “guilt”. Uma reflexão em que a culpa é vista como algo que pode ser possivelmente positivo, logo trabalhado, enquanto a vergonha é algo tão profundo e doloroso que nos inibe de nos considerarmos capazes ou até mesmo merecedores de qualquer reconhecimento.

A culpa é absolutamente atrelada à perspectiva. Você “sentindo” as emoções de pessoas que não necessariamente, nem provavelmente, pensam como você.

Talvez nem todo mundo tenha aceitado isso, mas vamos aos fatos: nosso trabalho hoje existe num lugar de medo. Medo de sermos julgados, medo de sermos cancelados. Medo de fazer algo que possa terminar com a sua carreira na velocidade de um “share”.

E é justamente esse medo que, invariavelmente, faz nós profissionais e agências, assim como muitas marcas, deixarem de ousar, operando no modo feijão com arroz. E convenhamos? Feijão com arroz é muito bom. Mas cansa. E dificilmente você vai ouvir nas notícias “Feijão com arroz faz fila de três quadras na Faria Lima”.

A culpa é um mecanismo de defesa. Ela está aí para nos proteger. Seria ignorância não usá-la. Mas isso não significa ter apenas medo  do medo. Sinta a culpa. Compreenda-a. Permita-se tentar inventar um sushi com maracujá. Um bolinho de feijoada. 

Você nem sempre vai acertar. Só não opere na base da “guilt”. O que parece ser um caminho seguro invariavelmente acaba levando você à “shame”. Então, sinta a culpa. Mas não tenha medo dela.

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