Solidão e supercomunicação: a conexão pode ser ensinada?
Chief purpose officer da Calm, Jay Shetty, e o autor do best-seller O Poder do Hábito, Charles Duhigg, apresentam seus antídotos ao distanciamento social
Chief purpose officer da Calm, Jay Shetty, e o autor do best-seller O Poder do Hábito, Charles Duhigg, apresentam seus antídotos ao distanciamento social
Taís Farias
13 de março de 2024 - 19h14
Enquanto a “epidemia da solidão” avança como um dos tópicos mais citados ao longo do South by Southwest, o festival reuniu em 2024 alguns pensadores que prometem o antídoto para a solidão ou, pelo menos, estratégias para construir relações mais significativas. Você já se sentiu sozinho quando estava em uma sala cheia de pessoas? Ou mesmo ao lado de quem ama?
Esse fenômeno é o objeto de estudo do podcaster, ex-monge, e chief purpose officer do aplicativo de meditação Calm, Jay Shetty. Ele explica que, desde a infância, somos ensinados que estar sozinhos é ruim. No intervalo da escola ou sem amigos por perto. Na vida adulta, esse anseio se consolida com a busca pelo amor romântico. Ainda assim, estaríamos nos sentindo sozinhos.
A reposta, para Shetty, passaria pela tecnologia. Na pesquisa desenvolvida pelo CPO, três em cada dez pessoas reclamavam querer passar mais tempo de qualidade com quem amam. No entanto, semanalmente, elas dedicariam oito horas em média falando com a pessoa em questão. Enquanto isso, o tempo médio na TV e redes sociais seria de 36 horas. “O que nós fazemos com o tempo e como encaramos a distância social é algo para que precisamos olhar”, afirmou o executivo da Calm.
Nesse sentido, ele apresentou maneiras de diminuir essa distância emocional. O entretenimento seria uma delas. No entanto, ele defende que é preciso diminuir o número de telas quando se está dividindo o momento com alguém. “Entretenimento é uma forma de conexão se estiverem os dois fazendo a mesma coisa ao mesmo tempo”, explica Shetty.
Outra chave da desconexão estaria no fato de que perdemos a curiosidade pelas pessoas que já conhecemos e buscamos, consistentemente, reviver velhas memórias. “Quando você conhece alguém novo e descobre algo antigo sobre vocês, isso os torna mais próximos. É o contrário para relacionamentos longos. O que você descobre de novo é que aproxima”, afirma. O engajamento em assuntos afins e a capacidade de verbalizar sentimentos e necessidades também ajudariam a combater o distanciamento.
A comunicação também se tornou o tema do livro mais recente de Charles Duhigg, repórter ganhador do prêmio Pulitzer e autor do best-seller O Poder do Hábito. Em Supercomunicadores: desbloqueando o segredo da linguagem da conexão, Duhigg explica que existem três tipos de conversas.
As conversas práticas que servem para resolver problemas, oferecer informações; as conversas emocionais, em que alguém comunica como se sente a respeito de algo; e as conversas sociais que dizem respeito a quem você é. Esses três tipos de comunicação ativariam, inclusive, partes diferentes do cérebro humano. “Se você está tendo tipos de conversas diferentes com uma pessoa, vocês não vão se entender”, defende o autor.
Para ele, esse seria um conceito valioso especialmente em tempos difíceis para a comunicação, com a polarização e disputas eleitorais ao redor do mundo.
A maneira mais efetiva, então, para sintonizar essas propostas de conversa, seria com o que ele chama de perguntas profundas. Elas seriam categorizadas como profundas exatamente por trazerem valores e crenças do interlocutor. Por exemplo, ao invés de questionar “Onde você trabalha?”, uma pergunta profunda seria: “O que você ama a respeito do seu trabalho?”.
“Fazer perguntas profundas permite que as pessoas digam o que elas querem daquela conversa”, explica Duhigg. Mas fazer as perguntas não seria suficiente para criar uma conexão. É preciso também provar que você está ouvindo e deseja, genuinamente, se conectar. Essa seria a chave da supercomunicação. “Quanto mais nós mostramos que estamos interessados, mais somos supercomunicadores”, defende.
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