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Opinião

A culpa é da mãe

Que delícia seria morar nas propagandas do Dia das Mães. Mas o que as marcas podem fazer de fato por elas?


17 de maio de 2024 - 10h20

(Crédito: Adobe Stock)

A gente acorda, se veste de coragem e cansaço e sai de casa. Deixa pra trás a cria com um misto de culpa e alegria. Durante o dia, a cada cafezinho, a gente recebe uma foto da escola, da babá, da avó, e a gente sorri e sofre… o quão egoísta a gente precisa ser para ser feliz no trabalho? Feliz longe do seu filho? Quando a gente tá junto, a gente quer compensar, cada uma de nós compensa (ou tenta) de um jeito, e sofremos todas. Eu usei muito a expressão “a gente” até aqui, mas não é por falta de vocabulário, é por excesso de humanidade mesmo, só gente sente isso.

O mundo trata muito mal as mães, mesmo as brancas privilegiadas como eu passam seus perrengues. Começa já na gravidez, que geralmente é quando o mundo adquire uma autorização mágica para se meter na sua vida, autorização essa que você nunca deu. Se perpetua com o tal do instinto materno, um conceito inventado e publicado pela primeira vez por um homem em mil setecentos e alguma coisa [obra “Emilio”, de Jean Jacque Rousseau, de 1762], e que coloca na nossa cabeça que mãe que é mãe tem vocação natural para o cuidado e, portanto, sabe de tudo, se importa com tudo e faz a gente se sentir eternamente insuficiente. E finalmente quando seu filho atinge a vida adulta, todas as questões que ele enfrenta são em geral fruto das suas escolhas, porque a culpa é sempre da mãe… Às vezes parece que a maternidade perfeita é uma corrida que a mãe real nunca vai ganhar, ela larga muito atrás.

Isso porque só estamos falando de problemas da ordem da subjetividade, se a gente for pra vida prática a coisa fica muito pior. O número de mães demitidas pós-licença-maternidade, o número de mães que não têm rede de apoio, que não encontram trabalho, que não se reencontram… isso deveria ser uma questão pública, de estado, porque as mulheres afetadas são da ordem dos milhões.

Só que existe um dia por ano em que todas as críticas desaparecem, somos presenteadas com flores, cartões, homenagens e campanhas para nos lembrarem que somos “a melhor mãe do mundo”, “a guerreira invencível”, “a leoa”. Afinal, mãe é mãe, né… E os filmes têm sempre aquela luz quentinha de pôr do sol, muito colo, ah, que delícia seria morar nas propagandas do Dia das Mães.

Mas o que as marcas podem fazer de fato pelas mães? Políticas. Políticas para acolher as mães na volta da licença, políticas de contratação, de igualdade de salários, auxílio- creche, políticas internas que garantam que as suas funcionárias possam levar suas crianças ao médico… além de oferecer produtos seguros para mães e filhos.

Acredite, as marcas podem fazer muitas coisas, e quem sabe celebrar o Mês das Mães com filmes emocionantes acompanhados por uma grande prestação de contas sobre como tratou as mães durante o ano todo.

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