Dida Silva: “Tão importante quanto ter espaço no audiovisual é virar referência”

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Dida Silva: “Tão importante quanto ter espaço no audiovisual é virar referência”

A VP e diretora geral da Floresta fala sobre sua trajetória e reflete sobre barreiras e tendências da indústria de televisão e entretenimento 


4 de abril de 2024 - 16h51

Adriana Silva, ou Dida, como é conhecida, é VP e diretora geral da produtora audiovisual Floresta, da Sony Pictures Television (Crédito: Arthur Nobre)

Conhecida por ser uma das principais produtoras audiovisuais brasileiras, a Floresta, da Sony Pictures Television, alcançou recentemente uma conquista internacional com sua VP e diretora geral, Adriana Silva, ou Dida, como é chamada no mercado. Há quase 13 anos na empresa e há três na cadeira atual, ela foi eleita uma das 35 mulheres mais poderosas da televisão internacional pela revista norte-americana Hollywood Reporter, veículo relevante da indústria do entretenimento.  

O título faz jus à carreira de Dida. Nos bastidores da televisão há 25 anos, ela tem uma trajetória de sucesso em grandes emissoras e produtoras do Brasil, onde lidera produções de diversos gêneros e formatos, sejam originais ou adaptações de sucessos globais. “Shark Tank Brasil”, “Túnel do Amor”, “De Férias com o Ex”, “Lady Night”, “Soltos” e a série “Da Ponte pra Lá”, que estreia este mês, são algumas delas. Não por acaso, a VP é membro da International Academy of Televison Arts & Sciences, organização responsável pela realização do International Emmy Awards.  

Ao olhar para sua história, o caminho não a surpreende tanto. Dida conta que desde nova era reconhecida por suas habilidades de liderança e queria trabalhar nos bastidores da televisão. Inquieta e curiosa, a executiva, que vem de uma família de classe média com ascendência negra, indígena e branca, nasceu e cresceu em Santo André, no ABC Paulista, onde era muito incentivada a estudar pelos pais. “Mesmo diante de limitações orçamentárias, eles sempre priorizaram a boa educação, e isso me deu uma ótima base para trilhar minha carreira.” 

Mas ela não chegou logo na televisão, e nem na produção audiovisual. Primeiro, fez um trabalho como fotógrafa em um shopping em São Bernardo. Depois, estagiou no telemarketing do jornal “Diário do Grande ABC”. Quando já estava perto de terminar a faculdade de Rádio e TV, teve a grande oportunidade de entrar onde desejava: foi para o SBT. Porém, a vaga era para um período de estágio como assistente administrativa do programa de relacionamento “Em Nome do Amor”, do apresentador Silvio Santos. 

“Comecei em outra área, e esse foi um ponto de virada na minha carreira, porque tive a oportunidade de assistir 9 gerentes do SBT, de todos os departamentos da emissora, e a maioria eram mulheres. Isso me deu uma bagagem enorme. Então, por mais que a nossa vida mostre um caminho diferente, pode ser o diferencial da nossa história. Esse foi o meu caso”. 

Foi no SBT que Dida aprendeu sobre a carreira das mulheres no audiovisual, e onde diz ter vivido uma realidade diferente daquela enfrentada pelas profissionais nessa indústria. “Como as produções do Silvio Santos eram cercadas de mulheres, foi muito acolhedor, porque tive a referência de lideranças femininas logo no início da minha jornada profissional. Me coloco numa situação de privilégio falando isso, porque nunca me senti menor por ser mulher.” 

Equidade no mercado 

Embora o gênero feminino nunca tenha sido uma questão na carreira de Dida, ela acredita que a conquista das mulheres por cadeiras estratégicas no audiovisual é um trabalho desafiador, diário e fundamental para a geração atual e as próximas.  

“Tão importante quanto ter espaço para se destacar é virar referência. Minha história é fora da curva, mas precisamos ver mulheres lá. É significativo para mostrar que podemos. Ainda não estamos perto de ter um mercado igualitário e mais diverso, mas, hoje, as principais produtoras no Brasil são mulheres, e isso é muito relevante. Dá para chegar lá.” 

Para ela, embora as mudanças recentes sejam positivas, alcançar a equidade envolve a transformação de todo o ecossistema da indústria, que por muito tempo foi dominado pela elite. “Por isso, é ainda mais importante promover a diversidade e a representatividade no audiovisual. É uma agenda muito forte da nossa produtora.” 

Na Floresta, as mulheres ocupam posições estratégicas desde quando foi fundada, mas ainda era solitária na missão. Dida entende que, agora, esta é uma agenda de todo o mercado, grandes players, marcas e anunciantes, o que permite mais transformação. “Isso é muito efetivo. Pautas que sempre foram da produtora têm tido mais resultados, porque conseguimos mais apoio.”  

Fim da hegemonia do conteúdo norte-americano 

Levar conteúdo para fora do Brasil também é um dos grandes desafios desde que Dida entrou na Floresta, em especial quando passou a comandar a empresa. Segundo ela, eles têm chegado mais perto da missão nos últimos anos, quando o interesse pelas produções brasileiras cresceu, e o conteúdo norte-americano passou a dividir espaço com o de outras nacionalidades. 

“Ainda temos o limitador da língua, mas o mercado audiovisual brasileiro é muito grande, intenso e volumoso. Acho que o mundo todo tem olhado mais para o Brasil. A hegemonia do conteúdo norte-americano acabou. Coreia e Israel têm produzido séries incríveis há um tempo. Esse movimento de diferentes culturas passa pelo consumo de conteúdos diversos.” 

A mudança, para ela, também está relacionada ao título que recebeu da revista Hollywood Reporter. “Foi muito gratificante ver que finalmente estão olhando para nós com interesse, para além da cultura. Os outros países têm percebido que o conteúdo daqui pode viajar, que pode ser interessante ter coproduções conosco, e que há lideranças por trás disso. “ 

O desafio da estabilidade no audiovisual 

Embora as oportunidades estejam melhores para o mercado, Dida acredita que o cenário atual da indústria é de retração, mas encara com naturalidade essas ondas. Para ela, esses altos e baixos do mercado são reforçados pela entrada das plataformas de streaming no Brasil para além da Netflix. “No começo, houve um boom de conteúdo muito grande. Ano passado foi quente, em especial em produções originais. Foi importante, sobretudo para destacar o conteúdo brasileiro. Mas em 2024 o mercado já está um pouco mais retraído. Quando há um boom de produções, em seguida elas vão para a rua, então há uma retração natural”, avalia.

Para se preparar para os momentos de ondas baixas e altas, Dida diz que estar de olho nas tendências é fundamental. “Estamos trabalhando isso aqui. É sobre não olhar apenas para o dia de hoje e entregar bons conteúdos de entretenimento, mas olhar um pouquinho lá na frente.”

“O mundo todo tem olhado mais para o Brasil. A hegemonia do conteúdo norte-americano acabou”, diz Dida (Crédito: Arthur Nobre)

Além disso, a visão multiplataforma é crucial para seguir com relevância em um mercado que não é mais concentrado apenas nas emissoras. “Muitas vezes o filé mignon da programação é feito por produtoras independentes. O mercado de produção saiu da caixa das emissoras, sobretudo com o avanço da tecnologia. Hoje, quando desenvolvemos um projeto para a televisão, já pensamos nos outros caminhos que ele pode ter, em outras plataformas. Nosso DNA são os programas de TV, mas tentamos ver de que maneira ele pode estar em espaços diversos.”

Os gêneros da vez 

Ser uma empresa da Sony ajuda a Floresta nesta jornada. Segundo Dida, há muitas pesquisas globais e locais que contribuem para que a produtora tenha essa visão. Algumas perspectivas: antes, tudo era TV aberta. Depois, o mercado passou para a televisão paga, que agora está dividindo este espaço com streaming. Há ainda o digital, que tem entrado com força, além de toda a discussão dos influenciadores.

Apesar de tantas mudanças, Dida acredita que algumas coisas continuam as mesmas. “Estamos muito saudosistas. São vários remakes na rua e em produção, títulos do passado revisitados, programas de televisão de décadas atrás bombando. O conteúdo que a audiência consome não mudou, embora algumas temáticas, sim. Mas o que avançou mesmo foi a tecnologia e, por isso, novas formas de contar esse conteúdo. Além da pulverização, claro. O jovem não senta mais na frente da TV para consumir conteúdo”, avalia.

Sobre os próximos gêneros em alta, Dida segue apostando nos realities de competição e relacionamento, nos documentários, com destaque para os true crimes, no conteúdo infantil e na comédia. “As comédias muitas vezes têm um tempo de realização mais curto, e às vezes também têm orçamentos mais acessíveis do que uma série de drama, por exemplo.”

De olho no futuro

Além de um olhar atento para as próximas tendências, Dida diz que a Floresta tem se voltado para uma demanda forte do mercado: os TV movies, filmes para televisão. São peças de cerca de 90 minutos com tempo de desenvolvimento e produção menor do que os de uma grande série, o que também é interessante para produtoras.  

“Estamos muito focados nisso, olhando para diferentes livros, projetos de diversos talentos e criadores, para podermos mapear oportunidades de produzir nesse formato, além das séries e dos projetos de entretenimento que já fazemos.” 

Pessoalmente, ela deseja se aposentar antes dos 55 anos e sair da cidade. “Sou de mato e água doce. Gosto de rio. Brinco que assim que me aposentar, e vou conseguir, vou comprar uma casinha em um lugar pouco explorado, com uma beleza natural, para ficar sentada em uma cadeirinha na frente.” 

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