Flip 2022: Maria Firmina dos Reis e mais nove mulheres para ler

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Flip 2022: Maria Firmina dos Reis e mais nove mulheres para ler

Annie Ernaux, Maria Firmina dos Reis, Saidiya Hartman, Amara Moira e Cidinha da Silva foram algumas das escritoras que também se destacaram no evento


2 de dezembro de 2022 - 10h36

Annie Ernaux, Maria Firmina dos Reis, Saidiya Hartman, Amara Moira e Cidinha da Silva são algumas das autoras de destaque da Flip (Crédito: Divulgação)

A 20ª edição da Flip, Festa Literária Internacional de Paraty, foi repleta de novidades e marcos. Desde o início da pandemia, esta é a primeira edição presencial, que voltou a preencher as ruas de pedra da cidade histórica carioca. O evento de 2022 também se voltou às pautas sociais mais atuais e se retratou após anos de baixa representatividade feminina e negra. A edição que marca os vinte anos da festa homenageou, pela primeira vez, uma autora negra: Maria Firmina dos Reis.

A festa deste ano ocorreu entre os dias 23 a 27 de novembro, após duas edições virtuais, e marcou um ponto de virada para a curadoria do festival. Além de homenagear a primeira escritora brasileira, a diversidade e a inclusão aparecem como pilares da programação principal.

À frente da curadoria da vigésima edição estavam duas mulheres negras e um homem branco: Fernanda Bastos, jornalista gaúcha; Milena Britto, professora da UFBA (Universidade Federal da Bahia); e Pedro Meira Monteiro, professor da Universidade de Princeton, nos EUA.

Outro ponto de destaque do festival foi a quantidade de mulheres que compuseram as mesas de debates: dos 43 convidados da programação principal, apenas 14 eram homens. Foi a maior proporção feminina de todas as edições do evento, perdendo em números brutos apenas para a edição online de 2021.

A presença massiva de mulheres trouxe à mesa questões como a violência doméstica e o apagamento das obras destas escritoras. A própria homenageada, Maria Firmina dos Reis, apesar de ser considerada a primeira romancista brasileira, teve seu legado apagado por muitos anos e foi resgatada recentemente. Nesta lista, trouxemos algumas das escritoras e artistas destacadas na 20ª edição da Flip.

MARIA FIRMINA DOS REIS

Retrato de Maria Firmina dos Reis, por João Gabriel dos Santos Araújo, e sua obra “Úrsula” (Crédito: Divulgação)

A história de Maria Firmina é marcada pelo apagamento. Apesar disso, e graças aos pesquisadores da história negra, seu legado retorna às prateleiras e sua figura é prestigiada pela maior festa literária do país. Embora não haja um consenso acerca da sua data de nascimento, estima-se que a escritora tenha nascido em 1822.

Em 1859, ela lança seu primeiro livro, Úrsula, e inaugura a literatura abolicionista. Nascida no Maranhão, Maria Firmina era escritora e professora, e ensinava letras em Guimarães, no Maranhão. Sua narrativa conseguiu ler o momento histórico no qual vivia e criar um gênero contra-hegemônico, que apesar das incessantes tentativas de abafamento, se tornou cânone da literatura brasileira.

ANNIE ERNAUX

Annie Ernaux e sua obra “O Acontecimento” (Crédito: Reprodução/Youtube/Divulgação)

Aos 82 anos, Annie Ernaux virou um fenômeno literário após ganhar o Prêmio Nobel de Literatura deste ano. Uma das convidadas internacionais de maior expectativa para a festa, Annie foi a autora mais vendida no festival, acima da homenageada, Maria Firmina, que ficou em segundo lugar.

A francesa ficou conhecida pelos seus romances baseados em sua própria história, que abordam questões de gênero e classe, como divórcio, câncer e aborto. Ela tem cinco obras publicadas no Brasil: “O Lugar”, “O Acontecimento”, “A Vergonha”, “Os Anos” e o mais recente, lançado durante a Flip, “O Jovem”.

CAMILA SOSA VILLADA

Camila Sosa Villada e “O parque das irmãs magníficas” (Crédito: Divulgação)

A 5ª autora mais vendida do festival é Camila Sosa Villada, mulher trans, escritora e atriz argentina. Antes do reconhecimento nas artes, Camila era prostituta, e esta história ela traz no livro “O Parque das Irmãs Magníficas”, romance que aborda a prostituição trans com traços de fantasia. Durante o festival, a autora lançou sua coletânea de contos “Sou uma Tola por te Querer”.

SAIDIYA HARTMAN

Saidiya Hartman e seu livro “Perder a mãe” (Crédito: Divulgação)

Outro grande nome que marcou presença na festa literária foi Saidiya Hartman, escritora e professora da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos. A pesquisadora é uma das referências intelectuais entre estudiosos da escravidão e da diáspora africana.

De sua viagem à Gana, Saidiya escreveu “Perder a Mãe — Uma jornada pela rota atlântica da escravidão”, numa trajetória pessoal e acadêmica para entender as raízes da sua ancestralidade. Outros títulos da autora lançados no Brasil foram “Vênus em Dois Atos”, “Cenas de Sujeição”, “O Fim da Supremacia Branca” e “Vidas Rebeldes, Belos Experimentos”.

BESSORA

Bessora e sua obra “Os Órfãos” (Crédito: Divulgação)

Antes de adentrar no ramo da literatura, Bessora trabalhava com finanças internacionais em Genebra, quando largou tudo para estudar Antropologia em Paris. Com tripla nacionalidade, francesa, gabonesa e suíça, a escritora trilhou sua trajetória acadêmica atrelada à escrita.

Em 1999, lançou seu primeiro livro e desde então não parou mais. No Brasil, “Órfãos” é o primeiro livro traduzido e conta a história dos irmãos alemães enviados para a África do Sul em meio ao fim do nazismo e o surgimento do apartheid.

NASTASSJA MARTIN

Nastassja Martin e o livro “Escute as feras” (Crédito: Divulgação)

Antropóloga e escritora francesa, Nastassja se destacou no meio literário em 2015, quando lançou “Escute as Feras”, um relato pessoal do ataque que sofreu de um urso na Sibéria, em que sua mandíbula foi arrancada. O acidente é a faísca que a leva a uma reflexão sobre o humano e o natural, as fronteiras e a identidade.

A pesquisadora estava numa viagem em que estudava os povos “even”, que viviam nas florestas siberianas. Seu próximo livro, justamente sobre as famílias “even”, será lançado em 2023, pela Editora 34.

AMARA MOIRA

Amara Moira e sua obra “E se eu fosse puta” (Crédito: Divulgação)

Doutora em teoria literária pela Unicamp, Amara Moira é a primeira mulher trans a assinar uma tese usando o nome social. A escolha do nome é uma referência às videntes que previam o destino de Ulisses na obra Odisseia, de Homero.

Seu livro de estreia, “E se eu fosse puta”, de 2016, traz suas reflexões pessoais dos tempos em que trabalhou como prostituta, numa mistura de relatos ficcionais com biografia, e de uma forma que trata a literatura como ferramenta de transformação social.

CIDINHA DA SILVA

Cidinha da Silva e seu livro “Um exu em Nova York” (Crédito: Divulgação)

A mineira não apenas é um expoente da literatura nacional, como também teve seu livro incluído no Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), que distribui gratuitamente edições em escolas públicas do Brasil. Cidinha da Silva é graduada em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e, além de escritora, presidiu o Geledés – Instituto da Mulher Negra e foi gestora de cultura na Fundação Cultural Palmares.

Suas obras abordam as raízes afro-brasileiras, a ancestralidade negra, autoestima, autoconhecimento, feminismo e antirracismo. Dentre as suas obras de destaque estão “Um Exu em Nova York”, “Os nove pentes d’África”, “Parem de nos matar” e “Cada tridente em seu lugar”.

CAROL BENSIMON

Carol Bensimon e o livro “Diorama” (Crédito: Divulgação)

A gaúcha Carol Bensimon é uma das novas vozes da literatura nacional. Ganhou destaque quando conquistou o prêmio Jabuti por “O Clube dos Jardineiros de Fumaça”. Na Flip, a escritora lançou seu novo livro “Diorama”, sobre uma taxidermista que precisa enfrentar os fantasmas do passado violento de sua família. Suas outras obras são “Todos nós adorávamos caubóis”, “Sinuca embaixo d’água”, “Pó de parede” e “Uma estranha na cidade”.

TERESA CÁRDENAS

Teresa Cárdenas e sua obra “Awon Baba” (Crédito: Divulgação)

Cubana e escritora de livros infanto-juvenis, Teresa Cárdenas leva temáticas difíceis e importantes para o público infantil. A literatura foi inserida na vida da escritora ainda durante a infância, mas a relação se tornou uma mistura de frustração e amor. Ela sentia falta de personagens negras nas histórias que lia, por isso, se tornou escritora para reverter a situação. “Cartas para Minha Mãe” foi o primeiro livro que a levou ao reconhecimento internacional, onde traz uma menina órfã que vive com a tia e a prima e sofre racismo da própria família.

Na Flip, ela lança o título “Awon baba”, expressão em iorubá que significa os ancestrais, que traz contos sobre famílias que viveram durante o período escravocrata em Cuba e tentavam resgatar as tradições de seus antepassados. Apesar de se dirigir ao público infanto-juvenil, a escritora aborda temas como abuso sexual, maus-tratos, violência e racismo, e afirma que as crianças não precisam ser poupadas de temas difíceis.

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