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Women to Watch

Mariana Youssef, uma mãe em cena

A diretora de cena na Saigon Filmes destaca a importância da rede de apoio para o desenvolvimento das carreiras femininas no setor


10 de novembro de 2023 - 11h53

Mariana Youssef é diretora de cena na Saigon Filmes (Crédito: Divulgação)

Mariana Youssef sempre sonhou em ser diretora, mesmo sem ver uma referência feminina. Ela começou na publicidade, onde permaneceu como redatora por cerca de dez anos, até conseguir encaminhar sua carreira para as produções audiovisuais. Finalmente, conquistou o cargo de “assistente do Manguinha”, apelido do diretor de cena Carlos Manga Jr. 

“Após dois anos com ele, decidi me aventurar como diretora. Nesse período, a presença feminina na direção era limitada, especialmente em produções de maior destaque. Mas eu não aceitei esse cenário”, conta. 

Sua grande oportunidade surgiu em 2020, quando foi convidada para ser diretora da série Lov3, da Amazon. “Foi um desafio enorme, especialmente porque, na época, eu era mãe solteira de um filho de dois anos. Isso só foi possível porque tive o apoio da minha mãe para cuidar dele durante o período de filmagem. Essa experiência foi um divisor de águas na minha carreira”.  

Desde então, emplacou outras séries como “Seguidoras”, da Paramount, e “O Beijo Adolescente”, baseada na HQ de Rafael Coutinho e disponível na HBO Max. Hoje, além de atuar como diretora de cena na Saigon Filmes, produtora de filmes publicitários criada em 2014, com sedes no Brasil e México, Mariana está em fase de pré-produção do seu primeiro longa-metragem. 

“Minha jornada foi longa e desafiadora, mas ela reflete as dificuldades que as mulheres enfrentam no mundo do audiovisual. Precisei trabalhar muito para conquistar minhas oportunidades. Houve momentos em que ganhava menos que meus colegas e precisava competir com preços mais baixos para entrar em concorrências”, lembra.  

O relato de Mariana Youssef destaca a importância da rede de apoio para o desenvolvimento das carreiras femininas. Além do suporte familiar, o ideal, enfatiza a diretora, seria o apoio jurídico, ou seja, que as companhias também entendessem e se adaptassem às demandas das profissionais mães. “É fundamental que as empresas e a sociedade compreendam essas questões, para que as mães possam equilibrar a maternidade e a carreira de forma justa e sustentável”, afirma.  

Mariana foi uma das mulheres que não se contentou com o cenário limitado de oportunidades para as profissionais femininas. “A indústria do audiovisual é desafiadora para as mulheres, especialmente quando precisamos equilibrar a vida pessoal e profissional”, avalia. 

As “explosões” de carreiras femininas no mercado audiovisual são menos frequentes do que a dos homens, e muitas vezes elas demoram a acontecer. As diretoras vivem em um constante limiar entre o desejo de trabalhar em projetos com orçamentos significativos e a necessidade de construir um portfólio com grandes orçamentos. As oportunidades são mais limitadas para as profissionais nesse contexto, reflexo de uma indústria quase clubista, que oferece trabalhos sempre para os indivíduos da mesma cor e do mesmo gênero. 

As poucas que conseguem alavancar suas carreiras pelas frestas que surgem tiveram que batalhar muito para conquistar o espaço que têm. Seja atrás das câmeras ou na gestão, elas sabem que estão em cadeiras de privilégio, e, justamente por isso, usam esse privilégio para escancarar a porta do mercado audiovisual. 

Esta matéria faz parte da série “A lente criativa das mulheres”, que irá trazer histórias de profissionais que, apesar de ocuparem diferentes posições, compartilham o mesmo propósito: promover o talento feminino no audiovisual brasileiro.

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