Você me vê como uma, mas eu sou 10 mil

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Opinião

Você me vê como uma, mas eu sou 10 mil

Você já viu de pertinho umas das suas maiores inspirações?


24 de abril de 2024 - 7h37

As brasileiras “herdeiras da Oprah”, segundo Kamila Camilo, no evento “Legends In Town”, marca da Alvarez & Marsal e da XP (Crédito: Arquivo Pessoal)

Assistir Oprah Winfrey ao vivo foi a realização de um sonho. Poder respirar o mesmo ar que uma mulher que tem sido uma estrela-guia na minha vida. Lembro que a primeira vez em que ouvi falar dela eu tinha 14 para 15 anos mais ou menos, e ouvi uma entrevista em que ela falava sobre os abusos sexuais que sofreu na infância e toda a violência da família no Mississipi, todas as restrições, entre outros.

Fazem quase 20 anos, e o que mais me marca na sua presença é ela não ter sido condicionada pelas violências sofridas. O futuro da vida dela não foi determinado pelos traumas, e é isso que busco diariamente. Eu vivi traumas na infância bem parecidos com os que ela conta, alguns que também estão presentes, por exemplo, na história da Viola Davis, e olhar para essas mulheres me faz pensar que eu também posso realizar meus sonhos, chegar no topo. Como diz Emicida, “escute o que eu falo, e não as minhas cicatrizes”.

Entendi que quem define esse futuro sou eu, fazendo com que a história desse passado seja sempre viva no meu coração, não para ruminar sentimentos ruins, ou permanecer em um lugar de vítima, mas pra ser uma mola propulsora para continuar fazendo coisas boas, pra continuar focada no propósito.

Desejo chegar aos 70 anos como ela, e poder dizer que eu realmente combati o bom combate. Que também, como profissional, fui guiada pela minha fé, entregando absolutamente tudo que eu posso para ser bem-sucedida e para fazer bem para as outras pessoas. E o legado está exatamente nas outras pessoas. Algo que sempre falo é que “eu sou um pedacinho de cada pessoa que eu toco”, e Oprah trouxe uma ideia muito similar, de que o legado não está nas coisas, mas em “todas as pessoas que você toca”.

Outro ponto que me senti muito representada foi quando ela falou em gratidão. Ela nos aconselhou, a todas, a agarrar as oportunidades com gratidão; que enquanto o que você anseia não te é dado, deve-se aproveitar o que te é oferecido, e fazer daquilo algo melhor. Detesto reclamar, e quando acontece algo e às vezes quero murmurar, eu me condiciono a não fazer isso porque realmente acredito na força das palavras, e ouvir a confirmação dessa crença vindo dela foi muito especial.

Quando escuto ela falando sobre trauma e dor, aprendo muito. Poder ver uma mulher negra tão bem-sucedida numa indústria que estou começando a trilhar faz eu me sentir mais forte. Ela citou uma frase da Maya Angelou, que é: “você me vê como uma, mas na verdade eu estou aqui e represento 10 mil”, e foi exatamente assim que me senti olhando para aquela sala lotada, com tantas outras mulheres negras. Podia olhar para o lado e sentir que não estou sozinha. Eu sei que o caminho não foi e nem é fácil, mas quero finalizar com essa lição de que, quando eu estiver cansada e pensar em desistir, não estou só. Existe uma ancestralidade que se orgulha de mim e toda uma legião de mulheres pretas que precisam que eu siga em frente.

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