Somos todos stake holders da bull shit
A ameaça da fake news e a urgência em combater esse mal, segundo o editor da The New Yorker
A ameaça da fake news e a urgência em combater esse mal, segundo o editor da The New Yorker
21 de junho de 2017 - 8h59
Na segunda-feira, primeiro dia do Cannes Lions (mais ou menos pois no domingo já tem muita coisa legal rolando), David Remnick, editor da The New Yorker e vencedor do Prêmio Pulitzer, subiu ao palco para falar sobre bullshit.
Não a boa e velha bullshit com que todos que trabalham com publicidade e marketing estão acostumados, mas uma muito mais ameaçadora: a fake news.
Em sua palestra, Remnick se ateve ao que sabe fazer bem. Tirou do bolso um texto impresso em muitos A4s sobre o assunto e, sem nenhum keynote, passou a ler um editorial brilhante sobre o efeito devastador da fake news sobre a nossa indústria, o meio editorial e a sociedade.
Ele abriu dizendo que somos todos stake holders da fake news. Ao usar esse termo, deixou claro que somos tanto o carrasco quanto a vítima. Anunciantes, usuários, marcas e leitores. Não há inocentes e a ameaça é tão grande que medidas imediatas precisam ser tomadas.
A The New Yorker tem mais de 90 anos e seu título já entrega seu berço. Curiosamente a mesma cidade do Presidente Trump, principal beneficiado desse ambiente criado pela profusão de inverdades, ou bullshit, nas palavras de Remnick.
Trump foi seu principal alvo durante todo o tempo que falou.
Para o editor, talvez tenhamos alcançado o pico da montada de bullshit.
Umas das medidas a serem tomadas para reverter isso passa pela hierarquização dos títulos. As pessoas que scrollam pela timeline precisam entender que existem publicações com melhor reputação do que outras. E por reputação leia-se responsabilidade com a verdade.
A outra seria, obviamente, a distribuição de riqueza. Em outras palavras: Facebook, Google e Twitter precisam remunerar aqueles que deixam suas plataformas menos tóxicas.
O jornalista sabe que a mentira não surgiu com as redes sociais. Mas a principal diferença é que ao serem confrontados com acusações de terem mentido, publicações sérias sempre pediram desculpas, assumiram seus erros, investigaram internamente a origem das mentiras e puniram os responsáveis.
O jornalismo do último século e a sociedade que o formou, e foi formada por ele , foi comprometido com valores como razão, verdade, fatos e ciência. Valores renascentistas e contrários às trevas medievais. Não devemos deixar a luz se apagar novamente.
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