2019, o ano em que o mundo caiu

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Opinião

2019, o ano em que o mundo caiu

Recuamos na educação, segurança, no bom senso, na valorização da cultura e no respeito às opiniões divergentes


10 de dezembro de 2019 - 13h30

(Crédito: Smshoot/ iStock)

Caiu de nível, de costas, de quatro, de testa, de joelhos, de mau jeito… Caiu na malha fina da dignidade, do respeito humano e das condições sociais. De um espirro norte-americano a uma pneumonia em toda a América Latina e Europa, deixando por aqui um triste tsunami chamado Brumadinho e uma Amazonas em chamas. Como se não houvesse evolução humana, recuamos na educação, segurança, no bom senso, na valorização da cultura e no respeito às opiniões divergentes. Chegamos à “democradura”, como se o voto nas urnas desse legitimidade para tudo. Desprezamos a República, sob a ilusão de um Império cor de rosa (ou azul). Voltamos, enfim, à Idade Média, desprezando a ciência, academia, os índios e abandonamos, numa irresponsabilidade sem precedentes, o meio ambiente que nos manteve vivos até o momento. Mesmo que caibam (sejam necessários e bem-vindos) alguns argumentos e iniciativas econômicas, não passamos de números, detalhes, de vidas de gado. São tempos de trevas, de obscuridade que abalam as esperanças de dias melhores.

Faz muita falta…

Em um ano marcado por tragédias e sobressaltos, morreu, em fevereiro, Ricardo Boechat. Âncora do Jornal da Band e da Band News FM, ele conquistou a todos com seu jeito franco e despachado de lidar com as agruras e desatinos do País. Era experiente, malandro, bem-humorado e, principalmente, sincero em suas opiniões. Voluntarioso e apaixonado pela vida, tornou-se uma unanimidade junto aos espectadores, leitores, ouvintes e até mesmo junto aos seus pares jornalistas. Uma tragédia para um país em busca de pontes para construirmos uma nação de verdade.

O Amazon é aqui

Após anos de pistas falsas e desmentidos, o Amazon Prime chegou chegando com todo o seu portfólio de segmentos, canais e entrega, por menos de R$ 10. Em uma só cartada, de forma inédita na América Latina e sem pedir licença aos gigantes locais do comércio, veio para incomodar também a Netflix, Apple TV+ e o Spotify, já começando a emparelhar com os gigantes Google e Facebook. Com essa chegada, o ROI, agora com o frete incluído, nunca foi tão rei.

Uma só Globo

Corajosa e surpreendentemente, a Globo abriu mão de seu estilo para abraçar um modelo de integração geral e com total sintonia digital. Mudou as normas de comercialização para provar que é tão flexível quanto os grandes players mundiais, com a vantagem de saber como ninguém preparar o conteúdo que os brasileiros mais gostam. Para reforçar essa tese, a cada dia surgiu um case criativo. São duas frentes simultâneas. Um enorme investimento em conteúdo e tecnologia para transformá-la num grande hub de produção latino e, para modernizar o posicionamento comercial, uma promessa de orientação por dados, mesmo que eles sejam diferentes dos que os nativos digitais entregam & integram. Tudo para ser percebida como uma empresa de media tech. É uma missão para Hércules, mas, talvez, só uma Globo (e “uma só”) consiga fazer isso.

São Tomé dos Ads

Foi o ano de virada das agências onde viraram de vez uma extensão de seus clientes. Elas abraçaram as especializações, montaram estruturas de percepção de mercado e execução das campanhas, não importando mais o local. Foi o espírito do ROI que começou a dar mais resultados na delimitação de KPIs específicos e o critério de anunciar passou a levar em conta a qualidade das campanhas e o retorno medido das programações anteriores.

A dona da loja

Este ano, quando faz 60 anos, também floresceu o trabalho da Associação Brasileira de Anunciantes (ABA). Formal e cerimoniosa, como convém aos anunciantes, ela se transformou na mais eficaz associação do mercado. Ao invés das desgastantes batalhas do passado, optou por blitz localizadas onde, após identificar um problema, propõe uma estratégia de evolução, já com a legitimidade entre as partes. No passado, ajudaram a construir o projeto das métricas em out-of-home (OOH) e, neste ano, destaco como harmonizaram os critérios de audiência para os vídeos online e off-line.

A voz das ruas

Ninguém poderia imaginar que a comunicação na cidade de São Paulo, que sofreu um freio de arrumação em 2007 com o projeto Cidade Limpa, poderia voltar, 11 anos depois, a um patamar tão bom de share de mercado. Tudo começou com a formação de uma entidade representativa (Abooh), enxergando a amplitude que o OOH proporcionava, como se encaixava na mobilidade das cidades e como cresce integrado ao mundo digital. Foram anos de profissionalização e organização do setor, com a consolidação de empresas, entrada de players e investimentos em métricas de audiência.

A toda voz

Desde o início do ano, o Consumer Technology Association (CES), direto de Las Vegas, já apontava que era a vez da voz. Pesquisas mostraram que 47% dos pais ingleses consideravam os smart speakers como membros da família. E foram crescendo os assistentes de voz como Alexa (Amazon), Siri (Apple), Google Assistant, ou, no Brasil, a Bia (Bradesco) e a Aura (Vivo), entre outros. Nessa mesma vibe, o podcast finalmente explodiu por aqui — como um rádio repaginado — em parte pela adoção de players de plataforma musical, como o Spotify e o Deezer, seguido pela adoção dos produtores independentes e desenvolvedores de conteúdo, como os grupos Globo e Folha, entre outros.

Game is the name

Tempo dos games, quando, enfim, o mercado se dobrou ao imenso consumo e horas dedicadas, não só pelos mais jovens. Um País com mais de 70 milhões de usuários e uma receita mundial de US$ 2 trilhões. Nós já íamos bem devido ao grande volume de mobiles conectados e aí tudo cresceu mais com os e-Sports e os times nacionais, abraçados pela mídia com fortes eventos em transmissão ao vivo e premiação com muito dinheiro.

Eu quero uma pra viver

Na doideira de tudo ser motivo para a luta política, até mesmo a publicidade (por definição um investimento) começou a ser estigmatizada frente às vozes de oposição na mídia. A Secom, órgão técnico federal, suposto guardião do rigor no investimento público, começou a boicotar a Globo e a imprensa em geral, para valorizar os alinhados ideologicamente. Após pedidos do presidente para não anunciar na Globo e na Folha, alguns anunciantes mais primários, e até folclóricos na bajulação, resolveram aderir. Já tivemos comportamentos governamentais e empresariais um pouco mais nobres, não?

O pulso ainda pulsa

Felizmente, surgiu o Cenp Meios para representar bem o investimento publicitário. Agora as agências que participam são 218 (eram 75), oferecendo uma rica percepção da distribuição da verba entre os meios. Para a TV (aberta e fechada) vai 60%, para a internet, 20% (sendo 56% desses para display e 22% para o social:) e, ainda, 11% para o OOH. Para chegar no investimento total, faltam mais agências, os investimentos diretos dos anunciantes e, ainda, a imensa cauda longa que a internet proporciona, numa amplitude de investidores em mídia que nunca tivemos.

Sob demanda

Este, mais uma vez, foi o ano do vídeo sob demanda (SVOD), só que agora sem tanto destaque para a Netflix, e sim para as ações de seus concorrentes. A Disney, agora “solteira”, lançou o serviço Disney+ nos EUA e teve uma demanda maior do que esperava, juntando-se à Amazon Prime Vídeo, Apple TV+ e HBO Go no ataque ao célebre inimigo. No Brasil, a Globo deu prioridade ao GloboPlay e mistura conteúdo nacional inédito com uma curadoria de filmes e séries internacionais. São alternativas que competem com a TV paga, mas ainda mais entre si. Quantos sobreviverão após passar no inevitável teste do bolso do consumidor?

A conferir em 2020: A “fé cega” no (presidente Donald) Trump afastou a Huawei chinesa da concorrência brasileira do 5G? Com a cultura abalroada, a Agência Nacinal de Cinema (Ancine) questionada e corte de recursos, sobrou algo no audiovisual? A CNN Brasil, a inaugurar em março, vai abalar a liderança da GloboNews? E o Gafa (Google, Apple, Facebook e Amazon) escapará das ações antitruste?

Enfim, um ano no capricho e beijos nas crianças!

*Crédito da foto no topo: Tookapic/Pexels

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