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99Food se une à Abrasel antes de estreia em São Paulo

Empresa aposta em parceria institucional para mudar ecossistema de entregas de comida, a exemplo da Rappi

i 7 de agosto de 2025 - 6h02

99Food retorna ao Brasil com investimento bilionário de grupo chinês

99Food retorna ao Brasil com investimento bilionário de grupo chinês (Créditos: Leonidas Santana/Shutterstock)

A 99Food anuncia uma parceria estratégica com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), reforçando seu plano de expansão nacional e sua proposta de um modelo mais equilibrado e sustentável para o delivery de comida.

A ação marca a chegada oficial do aplicativo a São Paulo ainda neste mês, pouco tempo após o lançamento em Goiânia. A expectativa é de que, até 2026, a operação se expanda para mais de 100 cidades.

Ao Meio & Mensagem, Daniel Fichmann, diretor de aquisição de restaurantes da 99 afirmou que o retorno da sua operação ao Brasil é estratégica e que a parceria com a Abrasel é essencial para isentar restaurantes de comissões e mensalidades, além de incentivar o preço de balcão para o consumidor.

Como vai funcionar a parceria da 99Food com a Abrasel?

A aliança entre a empresa e a Abrasel prevê ações voltadas à capacitação de empreendedores, produção de estudos sobre o setor e iniciativas que promovam mais sustentabilidade, competitividade e transparência para bares, restaurantes e entregadores.

Para os estabelecimentos, a plataforma oferecerá isenção de comissões e mensalidades por 24 meses.

Já os entregadores terão acesso a ganhos mínimos de R$ 250 por dia ao realizarem 20 corridas, sendo cinco delas de entregas de comida.

Com essa conta, a 99Food prevê que, se o entregador se organizar e atuar exclusivamente na plataforma, poderá ter uma previsibilidade de ganhos que pode chegar a R$ 5,5 mil por mês.

A proposta ecoa o movimento recente da Rappi, que em julho também firmou parceria com a Abrasel para expandir sua base de restaurantes.

Na ocasião, o app prometeu taxa zero de intermediação e entrega por três anos para os estabelecimentos, com adesão imediata para novos restaurantes e transição gradual para os já cadastrados. A estratégia integra um plano de investimento de R$ 1,4 bilhão da empresa, com meta de dobrar a base de parceiros até o fim do ano.

Os estabelecimentos que aderirem ao programa do Rappi não pagarão taxas de intermediação e de entregador durante três anos. A única taxa que será cobrada é a de adquirência (valor cobrado pelas empresas de meios de pagamento), fixada em 3,5% do total do pedido. A contrapartida exigida para os restaurantes, segundo Felipe Criniti, CEO do Rappi Brasil, é oferecer ofertas exclusivas no app.

Ainda de acordo com o executivo, a composição de taxas no delivery varia de 10% a 15%, na modalidade marketplace, e vai até 35%, no full service (apps de entrega). No caso do Rappi, a média é de 17%.

A perspectiva da empresa é atrair 30 mil novos restaurantes para o app e encerrar o ano com o dobro da base.

No caso da 99Food, o investimento de R$ 1 bilhão sustenta o modelo de isenção por dois anos, com rentabilidade limitada às taxas de transação e entrega.

Segundo a empresa, o objetivo é “devolver aos donos de estabelecimentos o poder sobre o valor de seus próprios produtos”.

“Nosso plano é de longo prazo e prevê margem de crescimento. Hoje, mais de 400 mil restaurantes estão fora das plataformas por discordarem das condições ou não terem como arcar com taxas e mensalidades”, afirma Fichmann.

Equilíbrio e confiança são os novos desafios

Para Cristina Souza, CEO da Gouvêa Foodservice, empresa da Gouvêa Ecosystem, o movimento das plataformas em busca de alianças institucionais é reflexo da transformação do setor.

“A Abrasel atua como ponte entre empresários e políticas públicas. Parcerias como essa constroem um ambiente mais equilibrado, promovendo ganhos mútuos para todos os players do mercado”, afirma.

Segundo ela, a entrada de novos players como a 99Food e Keeta é bem-vinda por estimular a competitividade, mas o desafio vai além: “Conquistar a confiança de restaurantes e consumidores exige uma estratégia sólida e inovação constante. Mudar o equilíbrio do setor não é um sprint rápido.”

A proposta de isenção de taxas, apesar de atrativa, levanta pontos de atenção. “É uma estratégia eficaz para atração no curto prazo, mas difícil de sustentar por muito tempo, principalmente para empresas ainda buscando escala. O maior risco para os restaurantes é a dependência excessiva de um único canal”, analisa Cristina.

A CEO também aponta que o futuro do delivery brasileiro será moldado não apenas pela guerra entre grandes plataformas, mas por tendências como dark kitchens, personalização da experiência, serviços de assinatura e integração entre canais físicos e digitais.

“É um ciclo ativo de aprendizado e adaptação. Só prospera quem entrega valor com propósito”, finaliza.

Campanha no Conar

A chegada da 99Food ao mercado paulistano já vem causando movimentos também na indústria publicitária. Na semana passada, o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) pediu alteração das peças da campanha  “Taxa Zero por 2 Anos 99Food”.  A decisão foi decorrente de uma representação movida pelo iFood, concorrente direto do aplicativo.

Pelo argumento do iFood, os anúncios da 99Food são enganosos, pois oferecem taxa zero por dois anos e com isenção da comissão e da mensalidade aos restaurantes que se cadastrassem no app até 30 de junho.

No entanto, em seu regulamento, a 99Food citava a incidência de outras taxas, como de entrega e de processamento de pagamento, e a exigência de investimento adicional em letras miúdas, assim induzindo os restaurantes parceiros ao erro.

Ao Meio & Mensagem, a 99Food informou que as recomendações do Conar eram aplicadas a uma campanha que já havia sido encerrada e os ajustes sugeridos pelo conselho coincidem com as atuais campanhas.

Segundo a empresa, a isenção de comissões e mensalidades promovem um modelo de negócio que dá mais ganhos aos comerciantes e mais economia aos consumidores.