Como a desigualdade financeira impacta o futebol
No Blue Connections, Rodrigo Capelo, sócio do Sport Insider, detalhou como a situação financeira impacta os clubes dentro e forma dos gramados

Rodrigo Capelo, do Sport Insider, fala sobre a desigualdade no futebol durante o Blue Connections (Crédito: Eduardo Lopes / Maquina da Foto)
Na manhã desta terça-feira, 11, aconteceu a última edição da segunda temporada do Blue Connections, evento realizado pelo Meio & Mensagem no Blue Note, em São Paulo. Com o mercado se preparando para mais uma edição da Copa do Mundo, o foco da conversa foi sobre futebol.
Rodrigo Capelo, sócio do Sport Insider, esteve no palco para apresentar o Relatório Finanças do Futebol no Mundo, que traça um panorama financeiro das principais ligas. Para elaborá-lo, o jornalista extraiu de informações contábeis dos clubes e documentos produzidos pelas ligas ou órgãos regulamentadores consolidados para entender as desigualdades financeiras.
Com as análises, Capelo explica como a disparidade financeira impacta diretamente dentro dos gramados, já que quanto mais dinheiro, mais investimentos e mais participações em campeonatos, maior é a margem de lucro, virando um ciclo virtuoso para os clubes.
“O futebol é profundamente marcado por desigualdades financeiras. O Flamengo sozinho tem mais faturamento que os clubes colombianos e o Palmeiras mais que os Chilenos”, disse durante a apresentação.
Segundo a análise, a receita do rubro negro carioca representa 13% de todo o faturamento da liga brasileira, com um valor em torno de R$ 134 milhões, enquanto o alviverde paulista fatura R$ 116 milhões.
A liga colombiana, por sua vez, angaria R$ 1,2 bilhão, que representa apenas 12% da receita da elite do futebol brasileiro, que hoje supera os R$ 10 bilhões. “Essa desigualdade marca o futebol e determina quem tem acesso ao dinheiro e quem tem acesso a resultado”, afirmou.
Reflexo disso, tem sido a Libertadores. Ao avaliar a final dessa temporada, Palmeiras e Flamengo, chegaram com sobras e resultados expressivos a uma reedição da final de 2021. O clube carioca é um dos recordistas da competição, chegando a quatro decisões desde 2019, enquanto o Palmeiras esteve em três.
Para Capelo, esse ciclo é agravado pelas competições continentais, tanto a chancelada pela Conmbeol, quanto a Uefa Champions League, já que os clubes que ficam fora perdem uma receita expressiva, mesmo que seja só de participação. “O que mais importa hoje é não ser tirado dessas competições”, diz.
Futebol cresce com a distribuição de renda
Embora a desigualdade seja um padrão que se repete em outras federações, é possível ter uma lógica que seja diferenciada. A Premier League, uma das ligas mais valiosas e mais competitivas do mundo, tem uma receita que supera os R$ 52 bilhões, mantem um esquema de distribuição e arrecadação de verbas que virou modelo para outros países.
Uma das principais fontes de receita, nesse caso, é a venda de direitos de transmissão, que representa 34% de toda a verba. O futebol inglês garante, hoje, boa parte de suas vendas para o mercado internacional, pegando uma fatia que vai além das comercializações domésticas.
Segundo o relatório, a Premier League mantém contratos para o mercado doméstico com Sky Sports, TNT Sports e Amazon Prime, que rendem 1,7 bilhão de libras por temporada, já no exterior, esse valor soma 1,8 bilhão de libras por ano, somando 3,5 bilhões de libars.
O Brasil, por sua vez, mesmo com a pulverização de direitos, com vendas da Série A do Brasileirão para CazéTV, Globo (com TV Globo, SporTV, Premiere e GETV), Prime Video e Record, soma 2,9 bilhões de libras repassados à elite.
“A Inglaterra tem um mercado que distribui bem as receitas que faz com que os pobres dela sejam menos pobres que o das outras ligas”, apontou.
A fórmula usada pela liga que abriga clubes como o atual campeão da Copa do Mundo de Clubes da Fifa,
Chelsea, Manchester City, Manchester United e outros, é baseada em equiparidade e performance.
Isso significa que 50% da verba é distribuída de forma igualitária entre os times, enquanto 25% é por performance esportiva e 25% por número de transmissões.
“A grandeza de um clube é fluida, falando de dinheiro e não de história. De todas as fontes de receitas do futebol, o direito de transmissão é a única maneira de guiar a distribuição”, afirmou.
