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Como a desigualdade financeira impacta o futebol

No Blue Connections, Rodrigo Capelo, sócio do Sport Insider, detalhou como situação financeira impacta clubes dentro e fora de campo

i 11 de novembro de 2025 - 16h57

Rodrigo Capelo, do Sport Insider, fala sobre a desigualdade no futebol durante o Blue Connections (Crédito: Eduardo Lopes / Maquina da Foto)

Rodrigo Capelo, do Sport Insider, fala sobre a desigualdade no futebol durante o Blue Connections (Crédito: Eduardo Lopes / Maquina da Foto)

Na manhã desta terça-feira, 11, aconteceu a última edição da segunda temporada do Blue Connections, evento realizado pelo Meio & Mensagem no Blue Note, em São Paulo. Com o mercado se preparando para mais uma edição da Copa do Mundo, o foco da conversa foi o futebol.

Rodrigo Capelo, sócio do Sport Insider, esteve no palco para apresentar o Relatório Finanças do Futebol no Mundo, que traça um panorama financeiro das principais ligas. Para elaborá-lo, o jornalista extraiu dados de informações contábeis dos clubes e documentos produzidos pelas ligas ou órgãos regulamentadores consolidados para entender as desigualdades financeiras.

Com as análises, Capelo explica como a disparidade financeira impacta diretamente dentro dos campos, já que quanto mais dinheiro, mais investimentos e mais participações em campeonatos, maior é a margem de lucro, virando um ciclo virtuoso para os clubes.

“O futebol é profundamente marcado por desigualdades financeiras. O Flamengo sozinho tem mais faturamento que os clubes colombianos e o Palmeiras mais que os chilenos”, disse durante a apresentação.

Segundo a análise, a receita do rubro-negro carioca representa 13% de todo o faturamento da liga brasileira, com um valor em torno de R$ 1,34 bilhão, enquanto o alviverde paulista fatura R$ 1,16 bilhão.

A liga colombiana, por sua vez, angaria R$ 1,2 bilhão, que representa apenas 12% da receita da elite do futebol brasileiro, que, atualmente, supera os R$ 10 bilhões. “Essa desigualdade marca o futebol e determina quem tem acesso ao dinheiro e quem tem acesso a resultado”, afirmou.

Reflexo disso tem sido o resultado da Libertadores. Nesta temporada, Palmeiras e Flamengo chegaram com sobras e resultados expressivos a uma reedição da final de 2021. O clube carioca é um dos recordistas da competição, chegando a quatro decisões desde 2019, enquanto o Palmeiras esteve em três.

Para Capelo, esse cenário de disparidade é agravado pelas competições continentais, seja a Conmebol Libertadores ou a Uefa Champions League, já que os clubes que ficam de fora deixam de receber uma receita expressiva, mesmo que seja apenas a cota mínima de participação. “O que mais importa, hoje, é não ser tirado dessas competições”, diz.

Futebol cresce com a distribuição de renda

Embora a desigualdade seja um padrão que se repete em outros mercados, é possível ter uma lógica diferenciada. A Premier League, uma das ligas mais valiosas e competitivas do mundo, tem receita superior a R$ 52 bilhões e mantém um sistema de distribuição de verbas que se tornou modelo para outros países.

Uma das principais fontes de receita, nesse caso, é a venda de direitos de transmissão, que representam 34% do bolo total. O futebol inglês tem boa parte de suas vendas nesta frente para o mercado internacional, num montande que supera comercialização doméstica.

Segundo o relatório, a Premier League mantém contratos para o mercado doméstico com Sky Sports, TNT Sports e Amazon Prime que rendem 1,7 bilhão de libras por temporada. Já para o exterior, esse valor soma 1,8 bilhão de libras por ano, somando 3,5 bilhões de libras ao todo.

O Brasil, por sua vez, mesmo com a pulverização de direitos, com vendas da Série A do Brasileirão para CazéTV, Globo (com TV Globo, SporTV, Premiere e GETV), Prime Video e Record, soma R$ 2,9 bilhões repassados à elite.

“A Inglaterra tem um mercado que distribui bem as receitas, o que faz com que os clubes pobres sejam menos pobres que o das outras ligas”, apontou. A fórmula usada pela liga que tem Chelsea, Manchester City, Manchester United, Liverpool, Arsenal e outros é baseada em equiparidade e performance. Isso significa que 50% da verba é distribuída de forma igualitária entre os times, enquanto 25% é por performance esportiva e 25% por número de transmissões.

“A grandeza de um clube é fluida, falando de dinheiro e não de história. De todas as fontes de receitas do futebol, o direito de transmissão é a única maneira de guiar a distribuição”, afirmou.