Zica Assis: de vítima do racismo a desbravadora de um segmento de mercado
Fundadora do Instituto Beleza Natural relembrou sua história no Marketing Network Brasil e disse que, assim como os profissionais do setor, sempre teve que se reinventar
Zica Assis: de vítima do racismo a desbravadora de um segmento de mercado
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Roseani Rocha
20 de maio de 2024 - 13h19
Muitos negócios surgem com o objetivo de resolver “alguma dor” do cliente. Outros surgem da própria dor de quem fundou. É o caso do Instituto Beleza Natural, que a carioca Zica Assis criou oficialmente quando tinha 33 anos, após dez de tentativas de elaboração de um produto, e conseguiu finalmente registrar a fórmula daquele que tinha objetivo de tratar e não alisar cabelos crespos e cacheados.
Ela contou sua história no terceiro dia do Marketing Network Brasil (MNB), evento promovido pelo Grupo Meio & Mensagem, no Tivoli Eco Resort, em Salvador. Falando a profissionais de marketing, Zica associou sua vida à carreira desses profissionais: “sempre tive que me reinventar”.
Zica, uma de 13 filhos, lembrou que a humildade da família era tamanha que até comida faltava, mas não a força e a união entre pais e irmãos.
Ao começar trabalhar aos nove anos de idade – ia ser babá de outra criança de cinco – já deu de cara com o racismo estrutural no País, pois a recepção da nova “patroa” foi de que com o cabelo que tinha – crespo, ao estilo black power – não entraria na casa. Esse foi o primeiro baque, já que se viu obrigada a cortar e alisar os cabelos para poder trabalhar e ajudar a família.
Anos depois, jovem na faixa dos 20 anos, quando já testava fórmulas de seu produto e estudava como fazer legalmente um negócio, procurou novamente pessoas que tinham sido suas patroas em busca de apoio e das duas primeiras ouviu que só servia para limpar o chão e era aquilo que deveria continuar fazendo. Esse foi o segundo momento de dor que ao invés de arrefecer acabou estimulando sua persistência – uma terceira patroa, enfim, a colocou em contato com uma profissional química que ajudou na elaboração dos primeiros produtos do Beleza Natural.
Quando se inscreveu num curso de cabelereira na paróquia da comunidade onde morava, contou Zica, o interesse era mais sobre aprender a respeito da estrutura dos cabelos do que ser cabelereira em si, mas no fim acabou pegando gosto pela coisa.
No começo, testava os produtos nos próprios cabelos (não sem alguns incidentes e queda dos fios) e do irmão mais novo. Perdeu a cobaia quando ele conseguiu seu primeiro emprego no McDonald’s. Mas voltou como investidor, no momento em que Zica convenceu o marido a vender o fusca no qual trabalhava como taxista para abrir um salão. Mas como os R$ 3 mil não eram suficientes, com o irmão – já gerente de loja – e uma amiga chegou aos R$ 4,5 mil e abriu o primeiro Instituto Beleza Natural.
O marketing, inicialmente, eram folhas impressas coladas nos ônibus que circulavam pelo bairro convidando clientes cansadas de alisamentos a conhecerem o salão. “Ali, começamos a fazer três coisas: cuidar de um nicho de mercado esquecido, com atendimento encantador e inovação, que era o produto em si”, disse Zica, atribuindo o atendimento encantador a esse “nicho” desatendido, que na verdade é a maioria da população do País, e a divisão de tarefas já às lições que o irmão vinha tendo também no McDonald’s.
Quando as filas já eram muitas e o salão começava sua expansão, em 2005, com a Endeavor, Zica teve a chance de conhecer a Disney e levou a lógica do “circuito de entretenimento”, em que a etapa final da visita das clientes pelo salão era na loja que vendia os produtos para manutenção do tratamento.
Zica Assis sempre foi o espírito do Instituto Beleza Natural, mas hoje atua mais como embaixadora do que administradora do negócio em si – a função foi deixada a seu irmão Rogério Assis, vice-presidente.
Apenas há três anos Zica criou um perfil no Instagram, no qual está perto dos 80 mil seguidores. Ela conta que no início tinha certa insegurança de falar sobre vida pessoal, mas que reconheceu o espaço como uma forma de incentivar outras pessoas a buscarem sonhos e estimular a autoestima das mulheres.
Desde a fundação há 30 anos em uma comunidade, o Beleza Natural está presente, hoje, em cinco estados (Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia), possui uma fábrica, oferece 20 tipos de serviços, 80 produtos e tem 1,5 mil colaboradoras (95% mulheres negras).
A empresária exibiu algumas das lojas, em espaços amplos, como a do Largo Treze de Maio, em São Paulo, mas revelou que novos desafios de expansão preveem o crescimento por franquias, em formatos menores. Em seis meses, foram abertas sete unidades no Rio de Janeiro.
Ela encerrou sua apresentação no MNB revelando e engajando o público em seu “mantra de vida”: “eu quero, eu posso, eu consigo”, em relação, respectivamente, a seguir em frente em seus objetivos, a saber que tinha capacidade de ir além de limpar chão e de não ter vergonha de pedir ajuda, “porque ninguém faz nada sozinho”.
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