Como jogar o jogo dos gamers?
Profissionais do segmento de games aconselham marcas que querem ingressar neste universo e comentam a ascensão da comunidade gamer no País
Profissionais do segmento de games aconselham marcas que querem ingressar neste universo e comentam a ascensão da comunidade gamer no País
Giovana Oréfice
5 de outubro de 2023 - 16h53
Um homem branco com um setup completo e impecável: o senso comum do perfil do gamer é um dos diversos estereótipos que a indústria de games enfrenta hoje. A pesquisa Gamer Brasil revelou que, em 2022, as mulheres já representavam 51% do contingente de gamers no Brasil. O dado levanta o questionamento de como um segmento, relativamente novo, está sendo encarado e inserido no circuito de estratégias das marcas.
“Um gamer não é uma pessoa, ele é um pedaço do dia da pessoa”, destacou Pedro Derbli, head de Gaming da Cheil, durante o painel “Mais que um jogo: como a cultura gamer redefiniu as comunidades e inspira a publicidade”. Além do momento do jogo, os gamers são consumidores como qualquer outro nicho. Derbli apontou, ainda, que tais indivíduos tornaram-se uma plataforma diversificada, assim como um streaming tem diversos títulos e formatos.
Andreza Delgado, fundadora da PerifaCon e da Gamer Perifa, corroborou: “É preciso quebrar um pouco essa imagem cristalizada de que o gamer é um homem branco”. Segundo ela, a comunidade se assemelha a dos quadrinhos, filmes e séries, no sentido de ser apaixonada pelo universo gamer. Além disso, é atenta quanto às marcas que se inserem neste nicho acreditando que trata-se apenas de jogos, e não de uma narrativa.
“Existem exemplos de marcas que foram oportunistas nesse ambiente e não se deram bem”, lembrou Roberta Coelho, CEO da MIBR. A executiva endossou que a autenticidade é um ponto de atenção para marcas que desejam atuar junto ao universo gamer. Para maior conexão, é preciso conhecimento: comunidades, cada vez mais, demandam pesquisas e análises – o que guia a produção de um conteúdo que gere identificação. “A marca tem que descobrir o caminho que vai realmente fazer esse casamento entre ela e a comunidade”, acrescentou.
A Natura, por exemplo, firmou parceria com o MIBR para levar a inclusão e o empoderamento ao universo do eSports. A marca irá particiár da criação de um novo time de League of Legends. Além disso, é apoiadora do time de Valorant inclusive e da iniciativa Women in Brazil (WIBR). Todo o investimento resultou em apoio para a comunidade.
De acordo com o head de gaming da Cheil, um de seus maiores desafios é fazer a conexão real do gaming com as marcas, uma vez que há um interesse em conversar com comunidades de forma orgânica e verdadeira. Para que isso aconteça, as marcas podem pertencer a qualquer segmento, uma vez que consigam traduzir suas estratégias de negócios, produtos e serviços para o comportamento do público que desejam atingir.
“Às vezes a agência ganha um prêmio com um conteúdo de gaming que é suepr criativo, mas que não falou tanto com a comunidade. Às vezes, um projeto que fala com a comunidade, não é sexy o suficiente para ganhar um prêmio, mas a comunidade abraça”, pontuou Derbli.
Para fugir de caminhos pouco pertinentes, Andreza aconselhou que marcas procurem especialistas no universo para entender o que funciona em termos de publicidade, bem como evitar repetições de figuras em peças. Isso pode causar dificuldade de assimilação de marcas por parte do consumidor. Ela alertou, ainda, que marcas devem pensar em impacto social, uma vez que oportunidades de crescimento para gamers muitas vezes não levam em consideração a dimensão da diversidade do Brasil.
A popularização de plataformas como a Twitch na modalidade de stream foi uma das responsáveis pela grande disseminação do universo. Tantas outras contribuem para uma audiência segmentada e diversa. “Temos uma série de plataformas que geram o que chamamos de fama segmentada. Quem nunca foi ao shopping e viu uma fila cheia de jovens desesperados para tirar foto com alguém que nunca viu na vida?”, ilustrou o head da Cheil.
Além disso, a aproximação vale tanto para as marcas, quanto para as plataformas. “O mais interessante, e que fica lição pra essa plataformas, é chamar para perto esses influenciadores, essas pessoas que estão de certa forma construindo a plataforma”, sugeriu a fundadora da PerifaCon e da Gamer Perifa.
Com a ascensão dos games, surgiu a necessidade de regulamentação. Está em discussão no âmbito público o PL do Marco Legal dos Games. O projeto estabelece critérios de caracterização, regulamentação e estabelecimento de benefícios fiscais para o segmento. Para Roberta, da MIBR, este é um avanaço do reconhecimento dos games como indústria. Já para Derbli, é preciso que a regulamentação seja feita também pela ótica dos gamers, havendo, assim, cocriação entre a comunidade e o âmbito público.
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