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A revolução dos dados

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Opinião

A revolução dos dados

O binômio redes sociais+dados dos cidadãos deu a faca e o queijo às big techs e somente a relevância dos meios de comunicação poderá devolver a dignidade aos habitantes, afastar os ditadores e fazer a informação de qualidade ganhar espaço outra vez


8 de maio de 2025 - 14h00

OK, você perdeu.

Não importa o quanto você tenha sido cuidadoso, a quantidade de vezes que disse não a sites que perguntam se podem utilizar cookies e armazenar seus dados. É tudo uma tentativa de amenizar o problema. Mas – desculpe a sinceridade – você já está nas mãos das big rechs.

Conhecer as pessoas é a moeda mais poderosa do mundo digital. Quando Google oferece quase todos seus serviços grátis ao cidadão, está apenas abrindo as portas para a maior coleção de informações da humanidade. E quando a inteligência artificial (IA) coloca sentido nesse armazenamento, nos tornamos ainda mais insignificantes, apenas uma fonte de receita para as gigantes da tecnologia.

A jornalista britânica Carole Cadwalladr, muito conhecida por escancarar a relação entre Facebook e o Brexit – que lhe rendeu processos e dívidas absurdas – explica o que está em jogo nesse vídeo de um TED. Vale cada segundo de atenção.

Mas e os meios de comunicação com isso?

O esquema de dominação pelos dados foi tão bem montado que já elegeu presidentes de várias repúblicas, parlamentares, prefeitos, governadores – se você identifica algum no Brasil não se trata de mera coincidência. Só que agora o binômio redes sociais+dados dos cidadãos deu a faca e o queijo para as big techs. E somente a relevância dos meios de comunicação poderá devolver a dignidade aos habitantes, afastar mais uma vez os ditadores e ditaduras e fazer a informação de qualidade ganhar espaço outra vez. Hoje, entre a verdade e aquilo que eu desejo que seja real, está ganhando a segunda opção. É como se o Flamengo ganhasse 100% de seus jogos – mesmo perdendo na vida real, para delírio da nação rubro-negra. Não importa o resultado do campo, mas sim a informação que será distribuída à torcida.

Um veículo jornalístico tem responsabilidade com a verdade. Ele pode ter opinião, preferir este ou aquele candidato, defender suas ideias em espaços editoriais. Mas jamais vai alterar a verdade, base do seu negócio. No mundo das bolhas de redes sociais, verdade ou inverdade é detalhe, o que importa é o engajamento, a captura de informações valiosas sobre as pessoas: os dados.

Os meios líderes do país deveriam dar exemplo: basta de aceitar as esmolas das gigantes de tecnologia, que utilizam conteúdo jornalístico de qualidade em troca de migalhas. Programática é um tiro no pé. É aceitar o anúncio de um cliente habitual vindo por um intermediário poderoso – por um valor muito abaixo do justo. Mas, claro, pouco é melhor do que nada. Quando se tem um departamento comercial ineficiente é preciso topar tudo por dinheiro – e pagar as contas. Só que esse é o jogo que faz com que os veículos sejam cada vez mais irrelevantes.

Também os gigantes de IA estão aproveitando essa desorganização do jornalismo. Tanto ChatGPT como outros expoentes de IA utilizam informações (e dados) de qualquer fonte. A sua, por exemplo. E seus algoritmos reorganizam conteúdos, criando uma nova unidade informativa. Ou seja, a propriedade desses mesmos conteúdos não existe mais. É burlada de forma rápida e sem ética pela big techs. Essa é a (falta de) regra do jogo.

OK, você perdeu. Eu também perdi. Todos perdemos, exceto os amigos do Rei. A devassa no serviço público dos EUA promovido pela equipe de Elon Musk é, possivelmente, a maior ameaça às liberdades tão defendidas na Primeira Emenda da Constituição americana desde 1791. E ainda há quem aplauda. Meios de comunicação aplaudiram – e sequer questionaram.

As grandes marcas de jornais do mundo inteiro são a última esperança para que a democracia saia viva desse momento. The New York Times deu o exemplo, discutindo com as Gigantes – e passou de dez milhões de assinantes, que entendem a necessidade de apoiar um veículo como esse. Quem sabe no Brasil alguém se inspire no Times e defenda sua audiência? Já está tarde, mas sempre há esperança de salvar a democracia.

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