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Opinião

O cérebro e a máquina

Valor do capital humano é posto à prova com avanço no uso de ferramentas de inteligência artificial, que ganham impulso com a popularidade do ChatGPT e o fôlego da Microsoft na disputa de mercado com o Google


14 de fevereiro de 2023 - 16h00

(crédito: MDV Edwards/Shuttestock)

Um dos maiores fascínios da humanidade é a invenção de máquinas que facilitam, aceleram ou substituem afazeres manuais, poupando tempo e suor. Graças às evoluções industriais e tecnológicas, boa parte do mundo já abandonou o trabalho braçal em diversas atividades cotidianas. Entretanto, antes de melhorar, de fato, as nossas vidas, a interação do homem com a máquina mexe com nosso imaginário — e, aqui, há excitação e medo —, gera enredos de ficção na literatura e no cinema e, assim, alimenta a fantasia coletiva de antecipar o futuro.

Na indústria de comunicação, marketing e mídia não é diferente: busca-se a automação para agilizar tarefas mecânicas e liberar o tempo das pessoas para habilidades mais criativas, inovadoras e estratégicas. Entretanto, com o avanço no uso das ferramentas de inteligência artificial generativas, o valor do capital humano é posto à prova também no trabalho intelectual e criativo, como o desenvolvimento de uma campanha publicitária, o desenhar de uma ilustração ou a escrita de uma reportagem jornalística.

Equipes de criação e produção de conteúdo começaram o ano com um novo colega: o ChatGPT. Lançado no final de novembro pela OpenAI, o robô rapidamente se tornou estrela no universo dos chatbots, com suas respostas rápidas e precisas para consultas complexas, e capacidade de estabelecer diálogos mais dinâmicos e produção de textos mais corretos do que aqueles a que os usuários de inteligência artificial estavam habituados até então.

Para a maioria dos que testam no mercado de comunicação e marketing, a IA generativa funciona como um catalisador criativo, mas, ainda, de consequências imprevisíveis, sobretudo em campos como o dos limites éticos e dos direitos autorais. Entretanto, as aplicações em outras áreas, como a de educação, já geram grandes desconfortos, assim como as consequências para a privacidade e a segurança dos usuários, como mostra a reportagem da jornalista Taís Farias, nas páginas 24 a 26. Para ilustrar a capa desta edição e a matéria, a equipe de arte do Meio & Mensagem, capitaneada pelo diretor Diego Bianchi, alimentou ferramentas de inteligência artificial com informações referentes à pauta e encomendou imagens nos estilos dos movimentos Surrealismo, Cubismo e Expressionismo.

A rápida popularização do ChatGPT contribuiu não apenas para o debate sobre a evolução das aplicações da IA no cotidiano e no trabalho criativo, mas teve grande impacto no mundo dos negócios puxados pelas big techs. Sócia da OpenAI desde 2019, a Microsoft anunciou, no mês passado, novo aporte de US$ 10 bilhões na empresa, de onde espera que saia a impulsão esperada para o seu buscador Bing.

Em contrapartida, com vistas a manter- -se na dianteira das aplicações de inteligência artificial na indústria de comunicação, o Google apresentou, na semana passada, a versão beta de seu chatbot Bard, chamando desenvolvedores, empresas e criadores a experimentá-lo. O convite para adesão pública veio do próprio CEO do Google e da Alphabet, Sundar Pichai, na tentativa de minimizar os efeitos da concorrência para sua companhia. Mesmo reconhecendo que a escala atual de cálculos de IA já dobra a cada seis meses — o que dimensiona a necessidade de decisões rápidas —, ele sustentou que a empresa segue “avançando no estado da arte”.

Para as big techs, a aceleração no uso da inteligência artificial generativa ocorre em um momento pressionado pela desaceleração nas receitas publicitárias de suas plataformas de mídia, como ocorreu com Google e Meta — o que afeta as perspectivas de receita em contraponto à necessidade de altos investimentos demandados pela IA — e, também, de restrições ao compartilhamento de dados — campo minado para a IA quando esbarra-se, por exemplo, em deepfakes e no possível processamento de bases de informações falsas.

O movimento ocorre ainda no momento em que o mundo produz conteúdo como nunca antes, o que faz com que as máquinas sejam novamente vistas como possibilidade de suprir mão de obra, com custo muito menor. Os riscos da tentação de otimizar terão de ser contrabalanceados com o poder de atração e engajamento das ideias genuínas e do pensamento crítico.

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