Opinião

Sentido Insurgente | O que vem depois da economia da atenção

Em um mundo exausto, capturar atenção é só ruído; o verdadeiro desafio das marcas agora é conquistar intenção

Rafael Silva

Strategy & Trends Director na Box1824 17 de setembro de 2025 - 14h00

Um burburinho recorrente do mercado nos últimos anos é de como de todos os discursos ouvidos nos eventos de inovação muito pouco se traduzem em prática. Ao mesmo tempo, estamos imersos num tempo marcado por mudanças constantes e velozes, de alta volatilidade cultural, tecnológica e de mercado.

Nunca foi tão crítico tomar decisões claras diante de futuros incertos. O tempo do amanhã já não espera – ele nasce agora, se transforma na velocidade de um update e exige das organizações uma prontidão inédita.

Essa nova condição revela um espaço entre o que o mundo exige e o que as organizações conseguem entregar: aqui na Box1824 chamamos de Future-Readiness Gap. A lacuna surge quando sinais são captados, mas não se traduzem em ação, quando há abundância de dados e escassez de decisão. Não basta inovar reativamente; é preciso inovar com propósito e direção.

No universo saturado por hits que pautam as discussões nas redes por algumas poucas semanas como Labubus e bebês Reborn, não há como prever o instante seguinte de forma pontual, é preciso primeiro compreender as forças estruturantes e duradouras que sustentam os grandes movimentos.

Para entender qual pode ser o próximo Morango do Amor, é necessário diagnosticar como a nossa era responde às grandes questões filosóficas e existenciais que perpassam diferentes esferas da vida, tensões que atravessam gerações.

Nosso último mapeamento de macrotendências lançado em agosto começa entendendo essas forças base, especialmente como vivemos, simultaneamente, no universo físico e digital. Se o digital oferece controle, personalização e refúgio, o físico cobra o preço da imprevisibilidade, das consequências inevitáveis da vida e das estruturas sistêmicas.

O resultado é o que nomeamos como uma condição suspensa: pessoas que se adaptam o tempo todo, alternando entre dois territórios que exigem competências contrastantes.

A exaustão não provém apenas do ritmo acelerado, mas da necessidade incessante de transitar entre realidades, sustentar múltiplas versões de si mesmo e equilibrar expectativas contraditórias. O digital suaviza, filtra e valida; o físico reintroduz o atrito, as perdas e as limitações. Coordenar esse equilíbrio é a nova fronteira estratégica — para indivíduos, marcas e sociedades.

Como resposta, apresentamos o Sentido Insurgente, a macrotendência que explica os movimentos que irão deslocar da Economia de Atenção, onde todos brigam por cliques e tempo de tela, para uma nova dinâmica cultural que prioriza a Economia da Intenção como força motriz dos desejos e decisões.

No lugar da saturação pela visibilidade, o que importa será a ancoragem de significado. E o indivíduo passará a buscar experiências que superem o ruído, que gerem agência, sensação genuína e confiança. 

Compondo a macrotendência está a tríade do sentido – Agência, Sensação, Confiança –  aspectos que passam a orientar escolhas e relações. 

  • agência resgata o poder de decisão consciente em meio à anestesia algorítmica. 
  • sensação recupera o valor da experiência, do espanto e da profundidade emocional. 
  • confiança, por sua vez, se torna infraestrutura emocional: mais que inspirar credibilidade, sustentar relações transparentes e estáveis.

Marcas e instituições que desejam se manter relevantes devem priorizar a construção de vínculos autênticos, oferecer clareza e estabilidade, proporcionar espaços de respiro e fortalecer experiências emocionais. Alternativas para ação com intencionalidade são essenciais, e a tecnologia passa a ser aliada na orientação do indivíduo para escolhas ativas e conscientes — com pequenas e fundamentais fricções que devolvem sentido ao processo.

Setores inteiros já vivem essa transformação.

  • Nos pagamentos, cresce a demanda por tangibilidade em vez da abstração do dinheiro.
  • Na beleza, o foco migra da simples otimização estética para a fortificação psicológica.
  • No varejo e alimentação, o consumo massificado cede espaço à busca por curadorias confiáveis.
  • No entretenimento e tecnologia, a promessa não é mais apenas engajamento, mas experiências que sustentem confiança e significado.

O futuro dos negócios será guiado pelo discernimento, pela honestidade radical e pela inspiração em sistemas “sábios” e marcas verdadeiramente relevantes.

Em um mundo cansado e exausto, simplesmente capturar a atenção acaba sendo apenas gerar mais barulho. Até pode dar algum resultado, mas é apenas fogo de palha. As marcas precisam direcionar seus esforços para reconstruir relacionamentos significativos e fomentar relevância duradoura em meio à instabilidade.

O convite, então, é claro: construir futuros mais positivos para pessoas e negócios não pode se basear apenas em capturar olhares, mas cultivar escolhas autênticas e experiências profundas. É devolver sentido ao presente e à relação entre humanos, tecnologia e o mundo que se desenha em tempo real.