49% das brasileiras foram vítimas de violência em relacionamentos
Levantamento da MindMiners traz dados sobre a discriminação de gênero no ambiente de trabalho, nos relacionamentos e na sociedade
49% das brasileiras foram vítimas de violência em relacionamentos
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Lidia Capitani
17 de junho de 2024 - 15h10
Pesquisa revela que 49% das mulheres já sofreram algum tipo de violência durante relacionamentos interpessoais. O estudo é da MindMiners, empresa de consumer insights, e se chama “Elas sobre Elas – Testemunhos e reflexões das mulheres sobre suas percepções e vivências na sociedade em múltiplos contextos”.
O dado corrobora com a realidade encontrada pela Agência Brasil, que destacou ao menos oito mulheres vítimas de violência doméstica a cada 24 horas em 2023. Ao todo, foram registradas 3.181 vítimas de violência do gênero feminino, representando um aumento de 22% em relação a 2022. Destas, 586 foram vítimas de feminicídios. Isso significa que, a cada 15 horas, uma mulher morreu por conta do seu gênero, majoritariamente pelas mãos de parceiros ou ex-parceiros (72%).
“Esse número não só destaca a urgência de abordar a questão da violência contra as mulheres, mas também ressalta a necessidade de criar espaços seguros e empoderadores, onde todas as mulheres possam viver livres do medo e da intimidação. Nunca se falou tanto de violência contra mulher como temos escutado atualmente. A verdade é que desde que a mulher é mulher, elas lutam e tentam ao máximo combater a violência”, explica a psicanalista e CEO do Ipefem (Instituto de Pesquisa de Estudos do Feminino e das Existências Múltiplas), Ana Tomazelli.
Para além do feminicídio, as mulheres revelaram uma variedade de violências que já sofreram, incluindo violência psicológica (33%), verbal (33%), física (16%), sexual (14%), financeira (12%) e digital (12%).
Existe uma percepção generalizada de que o Brasil é bastante machista, visto que 6 em cada 10 mulheres compartilham dessa visão. Esse sentimento é ainda mais pronunciado entre a geração Z, que destaca a importância de abordar o machismo de maneira eficaz para criar um futuro mais igualitário.
Além disso, o fato de que 4 em cada 10 mulheres dizem conviver com pessoas machistas e 15% consideram seus parceiros machistas destaca a persistência desse problema em níveis individuais e interpessoais. No entanto, 14% das respondentes já tiveram comportamentos machistas e buscaram mudança, o que demonstra uma disposição para o crescimento e a transformação pessoal.
“Nosso papel, enquanto empresa de pesquisa, é dar visibilidade a temas importantes como esse. Os dados do estudo mostram que precisamos de mudanças urgentes. Como mulher, acredito que, para combater o machismo enraizado na sociedade, é essencial uma abordagem multifacetada que inclua educação, conscientização e ação concreta. A responsabilidade de promover a igualdade de gênero recai sobre todos, incluindo empresas e marcas”, comenta Danielle Almeida, CMO da MindMiners.
A executiva também destaca o quanto é crucial que as marcas estejam atentas ao papel que desempenham na perpetuação e combate ao machismo. “Isso inclui não apenas evitar estereótipos de gênero em suas campanhas publicitárias, mas também adotar políticas internas que combatam o machismo no ambiente de trabalho e ofereçam suporte às mulheres que enfrentam discriminação”, afirma Danielle.
A pesquisa também revela como o machismo se manifesta na vida profissional das mulheres. Quase metade das entrevistadas (47%) percebem uma discrepância nas oportunidades de carreira disponíveis em seus locais de trabalho, com uma tendência de serem mais ocupadas por homens do que por mulheres.
Com relação ao salário, 43% afirmaram que existe uma diferença salarial na empresa ou área em que atuam, na qual mulheres recebem menos que homens na mesma função.
E, se no Brasil as mulheres seguem sofrendo violências e assédios, isso não é diferente dentro das empresas. Uma parcela significativa (37%) revelou que já foi vítima de assédio sexual no ambiente de trabalho, e 29% afirmaram que já sofreram discriminação de gênero no trabalho.
Neste contexto, a maternidade ainda é enxergada como um obstáculo para a carreira das mulheres. A maior parte delas (73%) relatou ter sido questionada se tinha filhos durante entrevistas de emprego. Além disso, 26% disseram terem sido dispensadas de uma vaga de emprego após afirmarem que eram mães. Consequentemente, 19% revelaram ter sido demitidas depois de se tornarem mães.
“Estou cansada de ir a uma entrevista de emprego e sempre ser questionada sobre como eu trabalharia e cuidaria dos filhos. Devemos educar nossos filhos para que, no futuro, todos sejamos iguais”, afirmou uma das respondentes.
Neste contexto desafiador para as mulheres, no qual precisam enfrentar diferentes obstáculos e discriminações, existe uma consequência mais silenciosa que impacta a saúde mental e autoestima delas. A pesquisa trouxe que apenas 4 em cada 10 mulheres estão satisfeitas com sua imagem.
O número baixo é reflexo do alto nível de críticas que recebem. A maioria das entrevistadas (52%) já foram criticadas por sua aparência, sendo que a grande parte dessas críticas vieram de outras mulheres (81%).
A mídia e a publicidade exercem grande influência sobre as expectativas do corpo feminino ideal. Apenas 17% das mulheres se sentem representadas nas propagandas, e somente 22% acreditam que se encaixam nos padrões de beleza impostos pela sociedade.
Dentre as entrevistas, a maioria das mulheres (56%) está atualmente em um relacionamento estável. Por outro lado, 44% das participantes estão solteiras, apesar de mais da metade (51%) expressarem o desejo de estar em um relacionamento estável. Essa discrepância sugere uma lacuna entre as expectativas e a realidade das experiências de relacionamento, evidenciando possíveis desafios na busca por parceiros compatíveis.
Não é surpreendente, portanto, que mais da metade (53%) das respondentes enfrentem dificuldades para encontrar alguém que esteja interessado em um relacionamento sério, apontando para a complexidade das interações afetivas no cenário atual.
Além disso, os dados revelam questões sensíveis relacionadas à confiança e à fidelidade nos relacionamentos. 50% das mulheres admitiram ter sido traídas em algum momento, enquanto 21% confirmaram ter traído seus parceiros. Por esse e outros motivos, 46% declararam ter traumas de relacionamentos.
Segundo o estudo, uma parcela considerável da população (38%) sente uma forte pressão para encontrar um parceiro e estabelecer um relacionamento sério ou casamento. Tal dado reflete uma persistência de normas sociais que valorizam a vida conjugal como medida de sucesso, especialmente para mulheres.
Além disso, 35% relatam sentir pressão para terem filhos, evidenciando como as expectativas sociais em torno da maternidade podem exercer um peso significativo sobre os indivíduos, independentemente de suas próprias aspirações e desejos. “Nesse contexto, as marcas têm a oportunidade de desafiar essas normas restritivas e promover a diversidade de escolhas, oferecendo apoio e reconhecimento às pessoas que optam por seguir caminhos não convencionais em suas vidas pessoais e familiares”, analisa a CMO.
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