Camila Fremder: a voz que transforma crônicas em conversas
A escritora e podcaster fala sobre sua carreira, a potência dos podcasts para as marcas e a importância de conversar sobre temas femininos
Camila Fremder: a voz que transforma crônicas em conversas
BuscarA escritora e podcaster fala sobre sua carreira, a potência dos podcasts para as marcas e a importância de conversar sobre temas femininos
Lidia Capitani
22 de maio de 2024 - 15h29
Desde jovem, Camila Fremder gosta de texto. Ao escrever crônicas e livros, encontrou nas palavras um refúgio e uma maneira de se expressar. Mas a transição para o universo dos podcasts, especialmente em um cenário brasileiro ainda carente de produções locais, foi um passo natural e ao mesmo tempo inovador para a escritora.
“Sempre curti bastante podcast, principalmente os de true crime. No Brasil, na época, não havia tantos, então minha primeira referência foi Um Milkshake Chamado Wanda. Mas eu consumia muito mais os americanos, sobre crime”, revela Camila. A sugestão para explorar o formato áudio veio de Bruno Porto, seu editor na Companhia das Letras, que viu potencial em expandir suas crônicas para o formato de podcast. Assim nasceu o É Nóia Minha?, um projeto que completou cinco anos em março.
O processo criativo de Camila no podcast não é muito diferente do que ela já fazia em suas crônicas. “Construo os episódios da mesma forma que crio uma crônica. A única diferença é que escrever um livro ou uma crônica é bem solitário, já o Nóia tem sempre o lado do convidado. Gosto dessa combinação de ter sempre dois convidados, porque às vezes eles se complementam e às vezes discordam totalmente,” diz.
Ao longo dos anos, Camila se envolveu em diversos projetos de podcast. Além do É Nóia Minha?, ela integrou o Calcinha Larga por dois anos, juntamente com Tati Bernardi e Helen Ramos.
Mais tarde, veio Indiscutível, com Déia Freitas do podcast Não Inviabilize, no qual discutiam “notícias indiscutivelmente indiscutíveis”. Recentemente, Camila lançou E Os Namoradinhos? com Pedro Pacífico (@Book.ster), um projeto que combina humor e literatura. “Já tivemos uma recepção incrível, alcançando o segundo lugar entre os podcasts mais ouvidos do Brasil e o primeiro em comédia com apenas o primeiro episódio,” comemora.
No momento, Fremder lança três episódios por semana: dois para o Nóia, publicados às segundas e quintas, e um para E Os Namoradinhos?, às quartas. “É bastante conteúdo, mas eu realmente gosto do que faço”, diz.
O Nóia passou por várias fases, começando com gravações caseiras até se tornar o primeiro podcast exclusivo do Spotify no Brasil. Contudo, a decisão de não renovar o contrato com a plataforma veio da necessidade de explorar melhor o potencial comercial do programa por conta própria. “Desde então, consegui fechar parcerias com diversas marcas, incluindo Natura, QuintoAndar, Cheetos, McDonald’s e mais,” afirma.
A relação com a audiência é uma das prioridades da apresentadora, que usa um grupo no Telegram para selecionar áudios e casos que leva para os episódios. “Minha política é clara: o conteúdo é gratuito para os ouvintes, mas cobro das grandes marcas que se associam ao projeto”, destaca.
Durante os cinco anos de Nóia, Camila construiu uma voz e uma audiência cativa de maneira orgânica, conquistando ouvintes de diferentes idades, mas que se identificavam com as “nóias” dela. “Cerca de 90% do meu público são mulheres, e o que percebo é que são bem mais jovens que eu. Aos 42 anos, minha maior audiência está na faixa dos 24 aos 34 anos,” observa. Além do público feminino, também há uma quantidade significativa de ouvintes LGBTQIAPN+, o que reforça a importância de abordagens inclusivas e diversas no podcast.
O que começou de forma caseira se transformou numa mídia valiosa para as marcas. “Percebi ao longo desses cinco anos que o mercado e as marcas entenderam a importância e o alcance do podcast”, reflete. “O caso da Mulher da Casa Abandonada foi emblemático, demonstrando como o podcast pode influenciar outras mídias”, lembra Camila, referindo-se ao podcast produzido por Chico Felitti em parceria com a Folha de S.Paulo e publicado em 2022.
A publicidade e o conteúdo de marca se tornaram a principal fonte de renda para os podcasts de Camila Fremder. “No Nóia, temos diferentes formatos de anúncios e parcerias. Por exemplo, temos o spot, onde falo rapidamente sobre um produto ou lançamento. Mas também montamos projetos especiais, como no mês da mulher, quando a Natura patrocinou episódios com duas convidadas cada”. Esses projetos permitem uma integração criativa e personalizada para cada marca, mas mantêm a essência do podcast, que é fundamental para a conexão com a audiência.
Para Camila, a liberdade criativa é essencial para fechar um contrato com alguma marca. “Nos trabalhos de conteúdo patrocinado com marcas como QuintoAndar, Natura, e Oya Care, insisto em escrever o roteiro”, ressalta. Um exemplo que a podcaster traz é o projeto especial que fez para divulgar a nova fragrância Luna, da Natura. “Eu já planejava fazer uma série de três episódios sobre amizades, onde apresentaria mulheres incríveis que deveriam se tornar amigas. Apresentei essa ideia à Natura, e eles apoiaram”.
A marca queria trabalhar o conceito de ousadia para divulgar a nova fragrância. “No episódio, incorporamos o tema, introduzindo perguntas sobre momentos ousados das convidadas. Consegui juntar pessoas como Roberta Martinelli e Amanda Ramalho, Carol Ribeiro e Carol Rocha (Tchulim), além de Dandara e Renata Vanzetto, explorando suas compatibilidades e fomentando amizades, tudo entrelaçado com o tema ousadia do perfume”, explica.
“Depois de cinco anos e cerca de 350 episódios, elas confiam na minha abordagem e só orientam sobre a mensagem que querem passar”, afirma Fremder. “Isso é crucial, pois a audiência está acostumada com minha maneira de comunicar, e qualquer desvio disso resulta em menor engajamento.”
A escritora observa que o cenário de podcasts no Brasil cresceu significativamente. “No início, eu não estava muito por dentro, mas mergulhando nesse mundo, percebi que a comunidade é bastante unida. Existe uma bela troca, onde a gente participa do podcast do outro, aumentando a audiência de ambos.”
Essa troca é ainda mais verdadeira entre as mulheres podcasters. “Cada vez que uma mulher lança um novo podcast, fico animada tanto para ouvir quanto para participar. Sou alguém que raramente diz ‘não’ a essas oportunidades, pois acredito no crescimento por meio da generosidade e da troca de experiências. Isso me lembra como o Nóia cresceu”, lembra.
Camila conquistou uma audiência feminina que não se sentia contemplada pelos conteúdos de outros podcasts. “É incrível como as mulheres têm tantas questões importantes para debater. Por exemplo, fiz um episódio sobre hormônios e menopausa, algo que muitos pensaram ser arriscado, mas acabou sendo um dos mais ouvidos. Isso mostra que há uma demanda por discutir tópicos femininos que muitas vezes são ignorados ou abafados”, conta.
As mulheres encontraram nos podcasts um espaço para desabafar e falar sobre assuntos que antes eram vistos como tabu. “Quando eu era mais nova, conversar sobre menstruação era algo proibido, mas agora podemos abordar abertamente assuntos como esse, menopausa, fertilização e a pressão por ter filhos. Essas conversas no Nóia têm levado a relatos incríveis de pessoas que finalmente entendem melhor suas próprias experiências ou as de suas mães”, revela Camila.
O podcast é um meio que cria muita intimidade entre os apresentadores e a audiência. O áudio acompanha o público no seu dia a dia, e os podcasters se tornam uma espécie de amigo para o ouvinte. “Os podcasts são uma constante na minha vida; seja me maquiando, dirigindo ou esperando por uma reunião, estou sempre ouvindo um”, diz Fremder.
A trajetória profissional de Camila Fremder é um exemplo de adaptação e inovação constante. Ela iniciou sua carreira em uma agência de publicidade, mas logo descobriu sua verdadeira paixão pela escrita. Desde a criação do blog “Parece Filme” à produção de livros, a escritora sempre buscou novas maneiras de se expressar. A maternidade também trouxe uma nova perspectiva para sua criação de conteúdo, que ela compartilha nas redes sociais e sob a qual construiu uma base sólida de seguidores.
“Minha habilidade em escrever diálogos, demonstrada no blog, abriu portas para trabalhar como dialoguista em filmes,” lembra. Essa versatilidade a levou à pós-graduação em roteiro para TV e cinema, solidificando sua carreira como roteirista. A entrada no mundo dos podcasts foi um marco significativo, pois com o formato pôde atrelar sua paixão pela escrita com a capacidade de se conectar diretamente com seu público. “Combinei meu trabalho de influência com minha paixão pela escrita, mantendo a escrita como parte central da minha carreira.”
Compartilhe
Veja também
Como Rita Lobo fez do Panelinha um negócio multiplataforma
Prestes a completar 25 anos à frente do projeto e com nova ação no TikTok, a chef, autora e empresária revela os desafios de levar comida de verdade dos livros de receitas para outros espaços
Quais são as tendências de estratégia para 2025?
Lideranças femininas de agências, anunciantes e consultorias compartilham visões e expectativas para o próximo ano