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Como é ser um creative hacker em Cannes

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Diário de Cannes

Como é ser um creative hacker em Cannes

Gustavo Perez, digital strategist da Havas Life São Paulo, conta como foi participar do RB Innovation Hack em Cannes


24 de junho de 2017 - 10h26

Incroyable! Já que estive em terras francesas, é o que posso dizer da experiência que acabo de viver. Sim, foi incrível. Muito incrível. Desde o início. Desde quando soube que fui selecionado pelo Festival de Cannes para participar do hackathon de inovação, organizado pela Reckitt Benckiser, até o ultimo momento de nossa apresentação.

Cheguei em Cannes e me integrei a um time seleto, com trinta profissionais de diversas nacionalidades, escolhidos para desenvolver soluções de inovação em healthcare para alguma população carente do mundo. Uma missão que não tem preço.

O briefing só nos foi apresentado na véspera, com um único desafio: melhorar a vida de crianças no inverno poluído da China. Foi um briefing de fazer inveja a qualquer time de criativos. Um deck completo com dados globais sobre a poluição do ar, dados de pesquisa sobre a poluição do ar na China e explicações médicas de como a mesma poluição afeta o desenvolvimento dos pulmões das crianças. No material de apoio pudemos estudar insights culturais e entender como a poluição afeta o dia a dia dessas crianças.

Ficamos sabendo que coisas que jamais imaginaríamos: hoje o índice de obesidade em crianças chinesas é alto porque seus pais as proíbem de sair de casa em dias de alto índice de poluição. E, acredite, o mesmo acontece com o rendimento escolar, que está caindo drasticamente por conta da proibição de ir à escola para não respirar o ar das ruas. As crianças chinesas são prisioneiras em seus próprios lares, na tentativa (fracassada) de respirarem um ar pouco menos poluído. As famílias mais abastadas conseguem ter um purificador em casa, mas isso é privilégio para poucos. À medida que líamos o briefing, ficávamos mais envolvidos com a causa.

Depois do briefing, nos apresentaram cases inovadores em healthcare para servir de inspiração para nosso trabalho. Foram mencionados os casos de um sutiã que detecta o câncer de mama logo no início, de lâmpadas antibactericidas para utilização em salas de cirurgia, e, qual não foi minha surpresa ao ver ali no material entregue para todo o time, do aplicativo Parkinsounds, que auxilia pacientes com Parkinson a caminhar melhor através do uso da música.

Este trabalho foi realizado por nós, da Havas Life São Paulo, para a Teva Neurociência Brasil, e no ano passado já levou dois leões neste mesmo festival. O peito encheu de orgulho. Briefing recebido, debrief feito, o trabalho começa. O ritmo fica alucinante. O tempo corre contra o relógio. Os trinta especialistas se viraram em três times de dez, que competiram entre si em um ambiente super saudável. Entrei no Team 1. Nunca vi um time tão heterogêneo, a escolha foi muito feliz.

Em todos os times existiam especialistas da Reckitt: médicos, químicos, cientistas, regulatório, business, e por aí vai. Eles somavam-se ao time criativos com vários backgrounds: VPs de criação, diretores de arte, redatores e digital strategists, como eu. O primeiro dia de trabalho acabou e, confesso, não vimos passar.

O segundo dia começa cedo, às 8 da manhã, com nosso mentor pedindo um overview do trabalho. Apresentamos nossas ideias, e ele nos deu um rápido feedback para voltarmos com força total. Arredondamos a ideia e partimos para a prototipação. Nessa hora eles se ofereceram para comprar qualquer coisa de que precisássemos para aprovar o conceito. Fizemos nossa lista e lá se foi o nosso mentor. Ele sai e, na mesma hora, entra na sala um super desenhista, colocando-se à disposição para ilustrar o passo a passo do projeto. Sério, que mundo é esse? Essa organização impecável só contribuiu com nosso processo criativo.

O segundo dia acabou com gente espalhada por todos os cantos, alguns acompanhando o desenhista, outros pensando em novas soluções. Eu estava totalmente envolvido na construção do protótipo. A nossa ideia? Um Dream Cocoon. A lógica foi: se uma criança passa a maior parte do tempo dormindo e, na China, nesse tempo ela está inalando um ar muito poluído, algo precisa ser feito.

No material que recebemos, vimos que a maior parte da população da China não tem condições de comprar um purificador de ar. Dados científicos mostraram que o primeiro ano de vida da criança é fundamental para a boa formação do seu pulmão, tornando-a um adolescente forte e sem problemas respiratórios como asma, bronquite, rinite e todas as “ites” que conhecemos.

Então, trabalhamos em algo que nos pareceu claro: nesse primeiro ano, as crianças devem inalar um ar puro, nem que para isso fosse necessário fazer um berço que servisse como uma estufa de ar puro. Isso! Um berço coberto, com purificador de ar, onde a criança durma e descanse respirando um ar da melhor qualidade. Vai melhorar sua capacidade respiratória, sua qualidade de vida. Healthcare da mais alta relevância.

Antes do fatídico dia, um ensaio para o júri. Tensão, daquelas que me fez lembrar do dia da apresentação do meu TCC, long long long time ago. Fomos super bem, mas o júri pediu vários ajustes. Não era pra menos. Estavam ali na nossa frente o Roberto Funari, VP de desenvolvimento de categoria da Reckitt Benckiser, a Carolyn Gargano, VP e diretora de Criação da Saatchi & Saatchi Wellness, Jingang Yang, diretor do departamento de saúde do Fuwai Hospital e Joy Braunstein, president da Eco-Soap Bank. Nós, do Team 1, voltamos ao trabalho. Soubemos depois que os outros dois times passaram por processos semelhantes. O resto do dia foi de refação para os três grupos. Hora de aparar as arestas, preparar o discurso e deixar o ppt tinindo.

Quarto e último dia: apresentação final para o júri e para a plateia. A apresentação foi num dos palcos principais do Palais. Frio na barriga, troféus em exibição e as apresentações começam. Sete minutos para cada grupo. Foi um esforço gigante para fazer todo aquele trabalho caber em apenas 7 minutos. Cada palavra valeu ouro na batalha para passar o conceito. O Q&A foi treinado com maestria por nosso mentor Mattia DeDominicis.

Os outros grupos também apresentam. Todos recebem perguntas do júri e da plateia. Minutos em silêncio. As três soluções eram passíveis de produção e muito bem produzidas. Mais tensão. Disputa acirrada. Júri anuncia o vencedor: Team 3. Festa geral dos três times, afinal foram três ótimas ideias e um só ganhador: as crianças e adolescentes da China.

Imediatamente os três times são chamados para um debrief. Somos recebidos em frente à praia com champanhe (bastante champanhe) e um belo discurso do Funari, comovente mesmo (mais champanhe). As organizadoras também falam. Mais comoção. As pessoas começam a se abraçar por sentir que a meia noite da cinderela está chegando (viva o chamapanhe). Funari volta a falar sobre a nossa apresentação, elogiam nosso storytelling e a ideia inovadora do produto, aproveitando para anunciar que vão trabalhar para a execução do Dream Cocoon também (mais champanhe).

A essa altura eu ria, mas ria tanto que, quando vi, o Funari estava na minha frente olhando para o meu crachá. Ele disse: “Eu sabia. Um sorriso desse só podia ser de um brasileiro”. Agradeci pela oportunidade de estar ali, pela organização impecável, por tudo, tudo perfeito. Apertei sua mão, mas era muito pouco para um brasileiro na frente de outro, especialmente naquele momento. Deixei todo o protocolo de lado e tasquei-lhe um mega abraço. É, assim acabou meu RB Hack Innovation (mas, antes de acabar, mais champanhe). Resultado de toda o esforço e stress: o nosso grupo de WhatsApp apita a cada minuto todos os dias, todas as horas, por conta dos fusos all over the world.

E, pra deixar as coisas ainda mais animadas, em breve teremos um call para entender os próximos passos para fazer o nosso produto se tornar real. Eu só tenho a agradecer. Obrigado a todos vocês que puderam tornar esses momentos possíveis. Merci à tous!

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