Cannes
Latrice Royale: humor, autenticidade e talento
Há 30 anos na arte da representação feminina, ela conta como surgiu sua personagem e a estrela que conquistou o mundo com um reality
Latrice Royale: humor, autenticidade e talento
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Roseani Rocha
22 de junho de 2021 - 6h00
Estrela do programa RuPaul’s Drag Race e das campanhas publicitárias da marca de nuts Ruby Royale, da Squirrel Brand, Latrice Royale protagonizou um dos painéis mais divertidos e significativos do Cannes Lions, nos quesitos superação e inclusão & diversidade, uma vez que ela nasceu o menino mais novo de uma família de cinco irmãos criados por uma mãe solteira, em Compton, sul do estado da Califórnia. A mãe – contou Latrice a Jason Musante, CCO da Huge – já percebia que ele era diferente e não seguiria nem o caminho de dois dos irmãos que buscaram a vida militar, para fugir da rotina local de drogas e gangues, nem dos outros dois irmãos, que caíram na vida das drogas e gangues.
Sua vida começou mudar com uma mudança literal de Compton, para o Vale do Silício, onde começou a se envolver com arte, no ensino médio. Latrice lembrou estar na arte da “representação feminina/drag” há 30 anos. Começou num desafio, tentando apaziguar amigos e diverti-los e diz ter acabado encontrando a melhor coisa da vida. “Estive no fogo, tomei algumas pancadas fortes e aprendi algumas lições de vida. Tornei minhas habilidades mais sábias e afiadas, e agora sou uma magnata dos negócios”, contou, bem-humorada. Latrice foi para o RuPaul’s Drag Race, na 4ª temporada e o reality mudou sua trajetória de vida. “Fiquei surpresa em ver dragqueens na TV e queria estar lá. Fiz uma audição e quando é para ser, é para ser”, contou gargalhando.
Sua entrada no programa ocorreu quando ela assistia à 3ª temporada e descreveu a atuação de Stacy Layne Matthew como um fracasso, porque esta não tinha confiança em si mesma, por conta de seu tamanho, usado na análise de Latrice como um obstáculo e não para ser poderosa. “Chunky yet funky”, ou robusta, mas descolada, e cansada de ver garotas irem para a TV chorar pelo fato de serem gordas, mandou fotos e seu telefone à produção do programa junto com “todo esse carisma, singularidade, nervos e talento”. E passou na audição. Também conta que assim que leu os roteiros de Karyn Brinkley sentiu 100% de afinidade.
Assim, sua carreira deslanchou. Quando Jason perguntou a Latrice que conselho daria a performers e influenciadores ainda à procura de sua voz e autenticidade, sua resposta é: “Tenha uma voz, uma direção e propósito, seja lá o que esteja fazendo”. Ela garante ser “um livro aberto”, honesta, genuína e dar a cada pessoa sua plenitude. Não que isso seja fácil. Pontua que é um trabalho em tempo integral, mas que se paga: “Minha mãe sempre disse para não fazer nada pela metade, ir com tudo ou não fazer nada”.
Já sobre como estabelecer com as marcas uma relação colaborativa, Latrice também coloca “100% de autenticidade” como fator-chave para o sucesso. “Se você tenta ser divertido ou colocar algo em torno da marca que não seja adequado a ela, as pessoas saberão que não é real, e elas podem sentir o cheiro de insinceridade em conteúdo de longe”, alertou.
Recomendou que o fato/produto por trás da campanha seja autêntico e bem pensado para o influenciador/a cogitado, tenha sua voz e que por isso pareça tão natural. “Todos pensam que eu criei as nuts, é ótimo quando as pessoas dizem ‘adoro suas nuts’. Adoraria levar o crédito pela receita, mas não, foi branding genial mesmo”, comentou sobre a parceria com a Squirrel Brand. Conta que sua mãe era consumidora do produto, ela própria também. Mas descobriu que os mais jovens não estavam tão bem-informados a respeito. E a campanha construiu uma ponte entre duas gerações, além de usar a pertinência do humor com a associação Latrice e nuts (o termo ‘nuts’, nos EUA, também é usado para falar de alguém “maluco”). Além disso, a comunidade LGBTQIA+ acabou sendo também muito impactada positivamente pelo frisson em torno das nuts. A empresa, analisa Latrice, assumiu um risco e foi muito inclusiva e ousada de ter alguém como ela para ser a voz e face de seu produto. “Essa é a América que eu amo e quero ver. Se for ser uma marca pioneira, estabelecer padrões, faça dessa forma”, aconselhou.
Já a entrevista dada, recentemente, à Variety pelo Black History Month, definiu como “incrível” pela oportunidade de expressar as lutas de um homem negro nos EUA e a sua em especial. Contou já sido chamada de horrosa e outras calúnias, mas que o amor que tem por si mesma, que aprendeu a desenvolver, cultivar e nutrir a tirou da escuridão. E voltou a citar a mãe: “Minha mãe sempre me ensinou que você tem de ensinar às pessoas como tratar você. E é nessa jornada que os EUA e o mundo como um todo estão. Estamos aprendendo de novo a como tratar uns aos outros, porque empatia e compaixão são artes perdidas agora”. Mas é também esse tipo de arte que Latrice Royale está ensinando às pessoas.
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