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Simon Cook: “Ninguém sobe ao palco de Cannes como parte de um acordo comercial”

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Cannes Lions

16 a 20 de junho de 2025 | Cannes França
Cannes

Simon Cook: “Ninguém sobe ao palco de Cannes como parte de um acordo comercial”

CEO do festival comenta a curadoria para a programação e diz que Brasil inaugura homenagem País Criativo do Ano com base em seu histórico no festival


9 de junho de 2025 - 6h00

Parte das atrações do Festival Internacional de Criatividade de Cannes, os seminários, distribuídos por diferentes auditórios e arenas do Palais des Festivals atraem sempre um grande volume de público. Especialmente para as palestras que acontecem nos auditórios Lumière e Debussy, que concentram estrelas da indústria e do mundo pop, esportes e cultura. E costurar essa programação diversa e abrangente, mantendo sua força, é um desafio que se apresenta ano a ano aos organizadores. Simon Cook, CEO do Cannes Lions, explica como essa curadoria é feita e os critérios e valores que pautam as escolhas para refletir, segundo ele, não apenas a indústria publicitária, mas a sociedade como um todo – e isso em âmbito global.  Nesta entrevista, ele também comenta o porquê de o Brasil ter sido escolhido para estrear a homenagem Creative Country of the Year, este ano.

Meio & Mensagem – De forma geral, qual tem sido a filosofia norteadora dos organizadores do Cannes Lions na curadoria do conteúdo dos seminários, que atrai o público tanto quanto os prêmios? E como a equipe vem aprimorando essa oferta ano após ano?

Simon Cook – O programa de conteúdo do Cannes Lions é sempre curado para oferecer o que é mais relevante para a indústria no momento, e nossa chamada aberta para envio de propostas nos permite criar um programa repleto de diversidade de pensamento, oferecendo diferentes perspectivas sobre os desafios globais. Buscamos conteúdos originais para estrear no palco do Cannes Lions. É projetado para desafiar, inspirar e educar nossa comunidade por meio de uma ampla gama de conhecimentos e opiniões, além de representar uma indústria multifacetada que usa toda a extensão da criatividade para impulsionar o progresso e o crescimento dos negócios. No centro do nosso propósito, existimos para fornecer aos criativos e profissionais de marketing as ferramentas, dados, inteligência e evidências de que precisam para conectar o marketing criativo à agenda de crescimento corporativo.

M&M – Especificamente para a edição deste ano, quais temas vocês quiseram priorizar e por quê?

Cook – O programa é desenvolvido para ajudar nossa comunidade global a navegar pelos diversos temas, habilidades e tendências que moldam o futuro da nossa indústria. Todos os anos, estruturamos o programa em cinco pilares de conteúdo, e posso explicar um pouco sobre cada um deles. O Innovation Unwrapped foca nos pioneiros, tecnologias e transformações que já estão moldando o amanhã. Já o The Creativity Toolbox analisa o ofício, os processos e as técnicas por trás da excelência criativa. Como um guia definitivo para comprovar o valor e a eficácia da criatividade, o pilar Creative Impact é cocurado com a WARC, autoridade em efetividade de marketing, oferecendo insights valiosos sobre o ROI da criatividade. Naturalmente, Talento e Cultura também é extremamente importante para nós, então esse pilar é dedicado a mostrar as pessoas e práticas por trás de organizações criativas bem-sucedidas. Por fim, o quinto pilar, com contribuições da Contagious, é Insights e Tendências, que explora os comportamentos dos consumidores, forças culturais e imperativos de negócios que influenciam a tomada de decisão criativa.

M&M – Embora haja figuras que são presenças frequentes no festival, imagino que também haja uma preocupação em abrir espaço para novos palestrantes e renovar a programação. Nesses casos, que perfis vocês têm buscado ou estão abertos a incluir?

Cook – Queremos que nossos participantes ouçam uma ampla gama de líderes e especialistas, por isso estamos trazendo CEOs, CMOs, líderes criativos, criadores de conteúdo, ícones do entretenimento e do esporte, produtores, diretores — e até mascotes — ao palco. Também temos uma obrigação moral de promover diversidade, equidade e inclusão no LIONS, e estamos comprometidos em aumentar a representatividade nos nossos palcos durante o Festival. Queremos que o festival represente a sociedade, não apenas reflita a indústria publicitária. Em linha com isso, desenvolvemos uma estrutura abrangente de equidade para dar voz às melhores e mais representativas perspectivas do mundo todo. Todos os anos analisamos as palestras mais bem avaliadas do Cannes Lions, e elas compartilham princípios orientadores semelhantes. Ao curarmos o programa, avaliamos cada proposta com base nesses princípios — pensamento não convencional, resolução de problemas, aprofundamento em temas, aprendizados práticos, questões provocativas, relevância extrema — tudo isso é considerado. Também exigimos que o conteúdo se dirija a uma audiência global e diversa. Ou seja, quem envia uma proposta deve se perguntar: isso reflete o mundo em geral? Fala com uma audiência global? A sessão é inclusiva? Oferece diversidade de pensamento? Na verdade, tudo isso serve para dizer que estamos menos preocupados com a mistura entre “novos e veteranos” e mais focados na relevância. Acreditamos que a criatividade pode vir de qualquer lugar, e isso precisa estar refletido nos nossos palcos.

M&M – Nos últimos anos, é perceptível uma queda na presença de celebridades da cultura pop no festival. O que tem dificultado a participação de grandes estrelas no Cannes Lions? (Aliás, ainda há chance de vermos alguma surpresa anunciada na semana anterior ao evento?)

Cook – A composição dos nossos palestrantes está em constante transformação. Todos que sobem ao nosso palco precisam ser relevantes para a nossa comunidade global. Nosso público quer se inspirar, mas também quer entender o “como”. Avaliamos todas as propostas com esse filtro de relevância. Então, se uma celebridade é indicada e consegue abordar de forma relevante os temas mais urgentes para nossa audiência — e achamos que ela pode entregar algo realmente único e tangível — então ela terá espaço no palco.

M&M – Os patrocinadores também têm participado das sessões de seminário. Qual é a importância de incluí-los nas trilhas de conteúdo? E que tipo de orientação é dada para garantir que a participação deles engaje de fato a audiência, e não apenas cumpra um protocolo ou acordo comercial?

Cook – Ninguém sobe ao palco do Cannes Lions como parte de um acordo comercial — não é um espaço “pago”. Nossa chamada aberta para conteúdo, que recebeu um número recorde de inscrições neste ano, significa que qualquer pessoa (e eu quero dizer qualquer pessoa mesmo!) que queira palestrar precisa passar por esse processo, para garantir que ele seja justo e equitativo. Portanto, se você vir alguém no palco que também seja parceiro oficial, não é por causa de um contrato, e sim porque apresentou uma proposta que acreditamos ter potencial para educar, inspirar, entreter e capacitar nosso público.

M&M – O fato de o festival ter escolhido o Brasil para inaugurar o tributo “País Criativo do Ano” terá alguma influência ou presença dedicada dentro da programação de seminários?

Cook – Com certeza. Vamos homenagear o Brasil como nosso País Criativo do Ano com base em seu histórico excepcional no Cannes Lions e sua capacidade de gerar inspiração com impacto global. O Brasil tem mantido uma performance consistente no festival e um impressionante número de Leões conquistados, o que reflete uma nação com a criatividade profundamente enraizada em sua cultura. Como parte dessa homenagem, o Festival de 2025 terá vitrines criativas brasileiras, eventos comemorativos, palestras dedicadas e ativações lideradas por brasileiros pela cidade de Cannes, incluindo o retorno do FilmBrazil, que sediará um evento de networking e reunirá a comunidade brasileira e global em celebração à criatividade do país. Na sexta-feira do Festival, vamos sediar um seminário dedicado — o primeiro Creative Country of the Year Seminar, que celebrará o melhor da criatividade brasileira e fará uma viagem pela rica, diversa e bem-sucedida história da publicidade no país, com trabalhos premiados e conversas com lendas criativas do Brasil, passadas e presentes. Eu mesmo vou apresentar esse seminário e estou muito animado por isso. Além disso, haverá algumas sessões de conteúdo em português e um encontro dedicado ao Brasil na segunda-feira do Festival. Durante o Festival, também faremos uma homenagem especial a Washington Olivetto, o “Padrinho da Publicidade Brasileira”, que infelizmente faleceu em 2024. Washington conquistou o primeiro Leão de Ouro do Brasil e mais de 50 Leões ao longo da carreira — seu impacto e legado na indústria brasileira são absolutamente notáveis.

 

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