Maximídia

Social e digital: os passos para a inovação inclusiva

Ana Fontes e Carmela Borst analisam como responsabilidade social e inovação digital andam juntas no marketing

i 1 de outubro de 2025 - 6h05

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Regina Augusto (moderadora), Ana Fontes (CEO da RME) e Carmela Borst (sócia da martech.ia) (Créditos: Divulgação)

Duas décadas após a consolidação do termo ESG pelo Pacto Global da ONU, o compromisso das marcas com responsabilidade social e sustentabilidade enfrenta novos desafios. Nos últimos anos, movimentos de retrocesso em agendas de diversidade e clima ganharam força em grandes mercados e colocaram pressão sobre empresas em todo o mundo.

O retrocesso global também ecoa no Brasil, onde os impactos podem ser ainda mais graves. O País ocupa a oitava posição no ranking mundial de desigualdade social: 60% da renda nacional está concentrada nas mãos de apenas 3% da população.

Ana Fontes, CEO e fundadora da Rede Mulher Empreendedora (RME), alerta: abandonar a agenda social abre espaço para um terreno perigoso de exclusão, ainda mais intenso do que o já enfrentado no país.

“Se queremos caminhar para uma sociedade mais justa e inclusiva, uma sociedade que respeita questões climáticas e entende que temos um único planeta, de fato conseguimos entender que a pauta ESG não pode nunca sair do nosso olhar”, explica Ana, no palco do Maximídia.

Mesmo diante do enfraquecimento da pauta em mercados internacionais, Ana ressalta que as empresas brasileiras seguem comprometidas com ESG. Entre as parceiras da RME, praticamente nenhuma cogitou reduzir investimentos no tema — um sinal de que, apesar dos desafios, ainda há uma percepção clara da sua relevância estratégica.

Carmela Borst, sócia da Martech.ia, explica que a importância da causa de estende também para o ambiente digital. Segundo a executiva, é mais importante do que nunca preparar pessoas para um futuro impulsionado por novas tecnologias, como a inteligência artificial.

“Precisamos agir agora, porque daqui cinco anos, o abismo da inclusão digital vai tornar impossível que maioria da população consiga ter acesso ao que estiver acontecendo tecnologicamente”, afirma.

A executiva ressalta ainda a importância de promover o letramento digital em comunidades muitas vezes invisibilizadas, como mulheres agricultoras de cacau. Um dos pilares da Martech.ia é justamente ampliar a competência digital no país, oferecendo uma educação abrangente e de qualidade.

Durante o evento, Carmela anunciou o lançamento do movimento Democracia Digital e IA para Todos, que reúne dez marcas mantenedoras com a meta de formar mais de 500 mil pessoas na indústria de marketing e comunicação nos próximos anos. “Falamos muito sobre o impacto que tem fazer a capacitação de uma pessoa que no futuro vai ser o seu cliente”, acrescenta.

O amadurecimento das marcas nos últimos anos também é visível. Segundo Ana Fontes, as marcas estão, de fato, começando a ouvir as organizações sociais. O desafio agora é educá-las para compreender que, antes de buscar visibilidade ou reforço de imagem, é essencial desenvolver projetos que gerem impacto real e atendam a necessidades concretas do público-alvo. Na RME, ao menos 60% do valor investido em um projeto precisa ser destinado ao impacto final, não à divulgação da marca.

“Nós estamos nesse processo educativo, não é fácil, às vezes encontramos muita resistência, ma so que temos percebido nos últimos anos é que cada vez mais as marcas estão entendendo o que é social, que não é sobre individualismo, é sobre resolver o que está ao alcance da Rede Mulher Empreendedora, mas sim buscando políticas publicas que mudem, de fato, a vida das pessoas”, afirma a executiva.

De olho no futuro, Ana ressalta que o processo exige cada vez mais uma visão de ecossistema, e não apenas o olhar individual de marcas e organizações. Para ela, é necessário que haja uma união entre o setor privado, setor público, organizações e governo, de maneira a levar adiante projetos que gerem impacto realmente transformador, desde as bases da sociedade.

Já Carmela reconhece que é praticamente impossível prever a evolução da inteligência artificial nos próximos anos e, por isso, destaca a urgência de estabelecer formas responsáveis de utilizá-la desde já e de educar as pessoas para acompanharem esse avanço tecnológico de maneira inclusiva.