A todos nós, que fazemos pessoas estúpidas famosas
Há séculos temos uma atratividade pelo entretenimento e influenciadores fúteis são parte da nossa política pós-moderna de pão e circo
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*Não, não citarei o nome da nossa querida influencer e seu famoso copo rosa. Você já deve ter visto muitos posts sobre isso nos últimos dias, vou te poupar. Mas seria mentira se eu dissesse que ela não tem nada a ver com minha escolha de fazer este texto.
Toda vez que alguém viraliza por ter feito algo patético, criticável ou até mesmo absurdo, uma onda contrária surge automaticamente para lembrar que precisamos nos acalmar, segurar o dedo do share e parar de fazer com que pessoas estúpidas se tornem ainda mais famosas (ou, em inglês, “stop making stupid people famous”). Mas sejamos sinceros aqui: você consegue mesmo ignorar um assunto quente, em que todo mundo parece estar se engajando, por pura consciência de que seu like pode estar contribuindo para que aquela conversa cresça? Somos brasileiros e não há consciência que vença o interesse por uma boa fofoca.
Para piorar, a gente foi ensinado como espécie – e não apenas como povo – que gastar nossas moedas de atenção e engajamento com o que nos entretém é nosso direito. Lembremos da Roma Antiga por um momento (se não lembrar, mentalize um filme desses do Coliseu com um monte de gente nas arquibancadas assistindo pessoas lutando com animais pelas suas próprias vidas). O que rolava ali, começou a ser chamado de “política de pão e circo” porque o entretenimento servia como um desvio de foco, criado pelo Estado, para que os problemas reais da sociedade ficassem um pouco esquecidos, ou minimamente em segundo plano.
De um lado, tínhamos um Estado lucrando com a mudança de foco das pessoas. Do outro, tínhamos pessoas felizes e entretidas, reclamando de lutadores ruins e não da desigualdade, corrupção e outros absurdos.
Séculos passaram, o Coliseu virou atração turística, a internet e as redes sociais surgiram, mas o comportamento social continua muito parecido: ainda nos distraímos dos problemas reais com facilidade quando o entretenimento é bom. No caso da nossa “amiga” do copo rosa, memes sobre pelo menos cinco frases dela foram muito mais viralizados do que os números críticos e sérios da crise gerada pelas bets no Brasil.
O fato é: sim, nosso like, quando transformado em um movimento coletivo, é uma moeda valiosa para que influenciadores cresçam, conteúdos viralizem e pautas sejam vistas como importantes. Mas julgar as pessoas que compartilharam os memes e não os dados não é o caminho, a meu ver, por ser pouco resolutivo, já que há séculos temos uma atratividade pelo entretenimento e que Influenciadores fúteis são parte da nossa política pós-moderna de pão e circo. No lugar disso, precisamos ensinar desde o ensino básico sobre consequências envolvendo redes sociais, que há poder em nosso engajamento e também que podemos usá-lo para pressões reais e mais estratégicas. E, claro, precisamos trazer mais entretenimento para as discussões densas e sociais, para que atraiam nossa atenção assim como capivaras e vídeos de cravos têm atraído. Ou pelo menos parte disso.
**Esta é a última parte de uma série de três textos que criei para refletirmos sobre o uso que estamos fazendo das redes sociais e os impactos negativos gerados a partir disso. No primeiro deles, escrevi sobre “Meus amigos, robôs de LinkedIn” e comentei sobre os riscos de esconder nossa personalidade atrás de posts padrões, comentários feitos por inteligência artificial e regras limitantes sobre o que pode e não pode na plataforma. Na parte dois, ao falar sobre “Meus amigos, influencers forçados”, abordei a obrigatoriedade não dita de produzir conteúdo sobre nosso trabalho. Como se trabalho que não está no feed ou story não existisse de verdade. Nesta parte três, caí na armadilha da discussão da semana e acabei falando sobre a Virgínia. Opa, não era para falar o nome dela.
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