Imaginei um Ig Nobel de comunicação e gostei do que vi
A existência de um espaço para o absurdo tem o poder de expandir as paredes do que é possível criativamente
Com toda certeza você já ouviu falar no Prêmio Nobel, a mais alta distinção em diversas áreas do conhecimento humano. Deve até saber o nome de alguns vencedores do Nobel da Paz ou da Física, como Nelson Mandela, Malala Yousafzai, Martin Luther King Jr. e Albert Einstein.
Mas a pergunta que te faço é: você acompanha os vencedores do Ig Nobel? Se a resposta for não, me deixe explicar o prêmio em um parágrafo.
Trinta e cinco anos atrás uma revista científica de humor chamada “Annals of Improbable Research” ou “Anais da Pesquisa Improvável”, em português (palmas para o nome) decidiu criar uma premiação e a sediar nas maiores Universidades dos Estados Unidos.
Para melhorar, chamaram cientistas reais, ultra renomados e laureados com o Prêmio Nobel (sim, o de verdade) para entregar troféus para pesquisas que beiram o absurdo, mas que têm o poder de fazer as pessoas rirem e refletirem sobre algo que talvez ninguém parasse para pensar se não fosse assim.
No ano passado, por exemplo, pesquisadores do Japão, Estados Unidos e Alemanha foram premiados porque descobriram que alguns mamíferos são capazes de respirar pelo ânus em situações de emergência.
E os pesquisadores Jacob White e o brasileiro Felipe Yamashita foram premiados por encontrarem evidências de que a planta Boquila trifoliolata consegue imitar as folhas de plantas artificiais de plástico que estão por perto. Você não leu errado: uma planta de verdade imitando uma de plástico. E isso fez as pessoas se perguntarem se essas plantas enxergam. Queria poder usar um emoji de cabeça explodindo nesta parte do texto.
Pois bem. Esta semana, ocorreu, na Universidade de Boston, a edição 2025, e eles se superaram. Na categoria “Psicologia”, pesquisadores descobriram que elogiar a inteligência de alguém aumenta temporariamente seu nível de narcisismo.
Em “Biologia”, foi revelado que lagartos arco-íris podem não apenas gostar muito de pizza, como também ter uma preferência pelo sabor quatro queijos.
Em “Nutrição”, a pesquisa premiada mostrou como o consumo de alho pode influenciar o sabor e o cheiro do leite humano, afetando o comportamento dos bebês e até mesmo o ritmo com que mamam.
Na categoria “Agricultura”, cientistas foram longe: descobriram que se pintarmos ou fantasiarmos vacas com listras semelhantes às de uma zebra, elas têm menos chances de serem mordidas por moscas. Loucura?
O fato é que a existência de um espaço para o absurdo tem o poder de expandir as paredes do que é possível criativamente. E nos faz refletir sobre pontos que, no fim, podem ser úteis e ampliar consideravelmente nossa visão de mundo.
E, assim como a ciência, a comunicação também tem um grande poder para fazer as pessoas refletirem sobre o mundo de formas completamente inesperadas. Mas a gente anda meio conservador como indústria, vocês não acham?
O maior festival de criatividade do mundo tem apontado a volta do humor, mas analisando os trabalhos em diversos júris sobre o que produzimos por aqui, a conclusão é que está difícil rir da publicidade brasileira.
Se a gente tivesse um Ig Nobel para chamar de nosso, poderíamos criar ideias para gerar reflexões em áreas que, hoje, são desafiadoras e que precisam virar conversa, como natureza, educação, comportamento.
E olha que nem precisamos que o Meio & Mensagem crie esse evento (mas a ideia está aí), só precisamos mudar a cultura de agências e marcas para que se abram mais ao que parece sem sentido.
Já até consigo ver rolando: ideias que parecem bobas ajudando a acelerar o nosso conhecimento e reflexão sobre o mundo.
Espero que não pareça piada.