Logística reserva: o que é e como funciona esta prática?
Estratégia tem o objetivo reinserir os resíduos na cadeia produtiva, a partir do reuso e da reciclagem ou por meio do descarte ambientalmente correto
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Meio & Mensagem
29 de junho de 2023 - 17h00
Diante de um contexto de fortalecimento de temáticas sustentáveis no mercado corporativo, estratégias como a logística reversa ganham destaque.
O conceito tem como objetivo reinserir os resíduos na cadeia produtiva, a partir do reuso e da reciclagem ou, quando nenhuma dessas opções for possível, promover o descarte ambientalmente correto para cada item.
A ferramenta se conecta com outras pautas, como a circularidade e os princípios ESG, e pode contribuir para que as marcas alcancem o desenvolvimento sustentável.
Para isso, as organizações que desejam implementar essa operação de devolução de produtos e embalagens precisam entender como funciona a logística reversa, processo que conta com diferentes etapas.
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O conceito de logística reversa se refere a todos os processos voltados para a destinação correta ou reaproveitamento de resíduos sólidos gerados durante o ciclo de vida de um produto.
A técnica envolve a coleta, o transporte, a armazenagem e a triagem desses materiais para tratá-los e descartá-los de maneira adequada, prezando pela sustentabilidade.
Por meio dessa operação, os produtos, as suas embalagens ou outros resíduos, voltam ao fabricante, que fica responsável por gerenciar os procedimentos de destinação final.
O ciclo foi reforçado pela lei 12.305/2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos e define a logística reversa como ferramenta, além de estabelecer o princípio da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos.
De acordo com a legislação, essa responsabilidade é de fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes e consumidores, que devem agir em conjunto para garantir uma destinação ambientalmente correta aos materiais.
Alinhado a isso, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares), instituído em 2022, define metas para um aumento progressivo de retorno das embalagens até 2040.
Conforme o Planares, os setores devem comprovar a recuperação de 25% do total das embalagens que circularem no mercado até 2024. O índice aumenta progressivamente até chegar a 45% em 2040.
O objetivo é ampliar a prática de retorno dos materiais pós-venda ou pós-consumo. Hoje, segundo o Sinir (Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos), do Ministério do Meio Ambiente, apenas 2,2% dos resíduos são reciclados.
Segundo a legislação, o sistema de retorno dos resíduos após uso é obrigatório para setores que lidam com os seguintes produtos:
Para comerciantes, fornecedores, distribuidores, importadores e fabricantes dessas mercadorias, é necessário adotar medidas de logística voltadas ao descarte correto ou reaproveitamento dos materiais para garantir a conformidade legal.
No entanto, mesmo quem não vende os itens classificados como obrigatórios pode optar pela ferramenta como maneira de implementar ações em prol do desenvolvimento sustentável.
O sistema é versátil e pode ser adaptado para diferentes tipos de negócios. Uma empresa de cosméticos, por exemplo, pode aplicar a técnica para a devolução de embalagens de perfumes feitas em vidro.
Como o sistema é flexível e permite a adaptação para diferentes setores, existem diferentes maneiras de implementá-lo nas organizações.
Para alcançar resultados positivos com a ferramenta, as marcas podem escolher entre dois modelos desse conceito de logística, conforme as necessidades da empresa e especificações do produto comercializado.
A principal diferença entre os dois modelos é o momento em que o retorno dos resíduos é feito ao fabricante.
Esse tipo de processo acontece quando um item retorna antes de ser utilizado pelo consumidor ou em situações de pouco uso do produto. É o caso de mercadorias devolvidas por algum motivo, como defeito, arrependimento de compra ou insatisfação.
A devolução é garantida pelo Código de Defesa do Consumidor, portanto as empresas devem estar preparadas para responder a essa demanda.
O objetivo da ferramenta logística neste contexto é recuperar o valor dos produtos devolvidos e evitar o desperdício ou a perda de qualidade desses itens.
Neste modelo de logística, os resíduos são devolvidos após o consumo. Ou seja, eles são descartados pelos consumidores e passam pelos processos de coleta, tratamento e destinação realizados pelas empresas.
Para que isso aconteça, as marcas costumam criar pontos de coleta onde os clientes podem fazer o descarte do produto.
O foco é reduzir o impacto ambiental dos resíduos sólidos e promover a reciclagem ou a destinação adequada desses materiais.
Nos casos em que o produto tem condições de uso ou apresenta componentes reutilizáveis, os materiais podem ser reaproveitados, por exemplo.
Independente do tipo escolhido, o ciclo da logística reversa envolve algumas etapas para que o produto seja devolvido ao fabricante e receba uma destinação adequada.
Conhecer as etapas é mais um passo no entendimento desse conceito que pode contribuir para a sustentabilidade empresarial.
O consumidor exerce um papel importante no processo, uma vez que fica responsável pela devolução do produto em pontos específicos, determinados pelos comerciantes ou distribuidores.
Para que isso aconteça da maneira correta, a etapa de conscientização é importante. Nela, as empresas apresentam suas propostas de logística reversa e explicam como funciona a devolução dos itens.
Essa conscientização pode ser feita por meio de estratégias de marketing verde, por exemplo, com campanhas em redes sociais e uma página dedicada ao assunto no site da marca.
Nesta etapa, o produto ou embalagem é devolvido ao comerciante ou distribuidor em um dos pontos de coleta por ele indicados.
Essa devolução pode acontecer no momento pós-venda ou pós-consumo, dependendo da política adotada por cada empresa.
Assim que recebe o produto, o comerciante ou distribuidor deve armazená-lo adequadamente para posterior encaminhamento ao fabricante, que fica responsável pela destinação final.
O comerciante ou distribuidor fica responsável pela devolução ao fabricante, que conhece a composição do produto e pode dar o destino adequado a ele.
Esse processo, desde a coleta até a chegada do item ao fabricante, pode ter uma duração variável de acordo com alguns fatores, como a política de logística definida, o tipo de produto e a distância entre o ponto de coleta e de tratamento.
Como definido pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, a operação envolve uma responsabilidade compartilhada de consumidores, comerciantes e fabricantes, que devem se comprometer com a solução e buscar os melhores caminhos para seu funcionamento.
Ao receber e processar os resíduos, o fabricante destina cada material de acordo com as suas composições e condições de uso. Em geral, existem três opções de encaminhamento: reciclagem, reuso ou descarte.
Na operação de reuso, por exemplo, os produtos ou seus componentes são direcionados para outros fins, como reparo ou reutilizados para produção de novos artigos.
Esse é um processo comum para dispositivos eletrônicos, como notebooks, que podem ter peças reutilizadas para a fabricação de novos computadores, por exemplo.
Na reciclagem, a ideia é transformar um material usado em um novo produto. Um exemplo disso são sapatos e roupas feitas a partir de plásticos ou outros materiais reciclados.
O objetivo é reincorporar os resíduos da cadeia de produção, estratégia que faz parte do conceito da economia circular.
Caso o produto não possa ser reaproveitado de alguma maneira, ele é encaminhado para o descarte ambientalmente correto.
Como a ferramenta de retorno dos resíduos ao fabricante é regulamentada por lei, existem órgãos reguladores para acompanhar o desenvolvimento de ações nessa área.
Portanto, a etapa de fiscalização consiste em verificar se os envolvidos estão cumprindo as suas responsabilidades e obrigações legais.
A nível federal, a fiscalização pode ser feita por órgãos como o Ministério do Meio Ambiente ou o Ministério Público.
Há também os órgãos estaduais, como companhias ambientais de cada Estado. Em São Paulo, por exemplo, a CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) fica responsável por essa tarefa.
A aplicação da logística pode trazer benefícios para o consumidor, para a empresa e para o meio ambiente.
Por meio da sustentabilidade e da economia, a operação tende a gerar resultados positivos ao desenvolvimento do negócio e da sociedade como um todo.
Conheça os principais benefícios.
Essa política pode gerar economia de custos com matérias-primas, energia e descarte de resíduos, levando a uma redução geral nas despesas produtivas da empresa. Além disso, gastos com armazenagem e distribuição também podem ser reduzidos.
Isso é possível pois a recuperação de materiais pode diminuir a necessidade de adquirir novas matérias-primas ou de investir em fontes de energia não renováveis e meios de descarte.
Com o uso consciente de recursos naturais, reciclagem de materiais e redução da geração de resíduos permitidos pelo conceito de logística reversa, as empresas podem adotar processos mais ecológicos.
A partir deles, também é possível garantir a conformidade legal e ampliar a eficiência produtiva do negócio.
Esses processos também contribuem para que a organização possa alinhar sua operação às tendências do mercado, como é o caso dos princípios ESG (Environmental, Social and Governance ou Ambiente, Social e Governança, na tradução).
Ao atender as demandas do mercado e se posicionar em relação a questões socioambientais, as marcas também podem fortalecer suas imagens perante fornecedores, consumidores e investidores.
Neste contexto, a ferramenta de logística pode garantir uma vantagem competitiva para as organizações ao demonstrar o seu comprometimento com a sustentabilidade, a responsabilidade ambiental e social.
Adotar essa estratégia, bem como outras ações sustentáveis na empresa, demandam uma mudança de cultura, processos e práticas, o que pode ajudar a identificar pontos de melhoria na operação.
Com a análise de retornos e devoluções, a empresa também pode avaliar possíveis gargalos e processos ineficientes que prejudicam o fluxo das atividades de alguma maneira.
A partir dessas avaliações, é possível reduzir custos operacionais e otimizar tarefas, contribuindo também para um aumento na rentabilidade e na produtividade da organização.
Cada empresa pode escolher o melhor modelo de devolução e adaptar a política de acordo com as necessidades do negócio e a realidade dos produtos, mas, em geral, existem alguns passos que podem ajudar na implementação.
Usar soluções tecnológicas, por exemplo, pode ser uma forma de automatizar tarefas e otimizar as ações sustentáveis. Contar com a internet para divulgar esses processos e conscientizar o público também é uma opção.
Além disso, outros pontos que podem ajudar são:
Entre as empresas que adotam o ciclo da logística reversa, é possível encontrar nomes como Natura, Apple, Ambev e Simple Organic.
A Natura, por exemplo, faz a coleta de embalagens para reciclagem desde 2020 – segundo a empresa, já são mais de 50 mil toneladas de embalagens coletadas.
Os consumidores podem devolver as embalagens vazias em uma das lojas físicas da marca e podem encontrar o ponto mais próximo no site da Natura.
A Apple também conta com um programa de reciclagem, no qual os consumidores podem enviar seus dispositivos diretamente a um reciclador associado mais próximo. É possível conferir o passo a passo do processo no site da empresa.
No caso da Ambev, a política de embalagem circular atende os produtos com embalagens de vidro e de plástico.
Um exemplo é o Guaraná Antarctica, que lançou a primeira garrafa 100% PET em 2012 e hoje tem mais de 75% de suas embalagens fabricadas neste material.
Assim como as embalagens circulares da Ambev e as coletas da Natura, a Simple Organic também adota um processo de logística pós-consumo.
A empresa de cosméticos recebe a devolução das embalagens em suas lojas físicas, envia os materiais para cooperativas locais e oferece desconto aos consumidores para a compra de novos produtos da marca.
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