Mulheres enfrentam mais obstáculos para participar de eventos esportivos
Pesquisa demonstra que assédio, falta de estrutura, insegurança e altos preços são alguns dos motivos da falta de participação feminina
Mulheres enfrentam mais obstáculos para participar de eventos esportivos
BuscarPesquisa demonstra que assédio, falta de estrutura, insegurança e altos preços são alguns dos motivos da falta de participação feminina
Lidia Capitani
21 de março de 2023 - 9h26
Estudo sobre “Mulheres no Esporte”, da Ticket Esportes, publicado recentemente, traz dados sobre o contexto da participação feminina em eventos esportivos. Como premissa, a pesquisa revela que houve uma diminuição do público feminino entre 2017, quando elas representavam 53% da amostra, para 2022, quando o número reduziu para 45%. Dentre as conclusões, o relatório ressalta a necessidade das marcas e organizadores investirem mais nesse grupo, com ativações inclusivas, menores preços e modalidades para iniciantes e intermediários.
Com objetivo de entender por que houve uma queda da participação feminina nos eventos, o relatório investigou diferentes aspectos do comportamento dessas esportistas. Logo de início, a análise indica que as mulheres não buscam eventos focados na performance, e sim na experiência completa. Para 47% das entrevistadas, o esporte representa qualidade de vida, enquanto 34% relacionam as práticas à saúde.
Em relação às modalidades e lugares onde praticam, 45,9% realizam esportes ao ar livre, em comparação aos 40% que vão à academia. Dentre as que se exercitam fora de casa, a grande maioria prefere a corrida, em que 52% fazem corridas médias (de 7 a 15 km) e 51,8%, corridas curtas (de 3 a 6 km). Além disso, 28% praticam meia maratona (21 km) e 23,5%, caminhada.
Sendo assim, o texto aponta que as mulheres preferem modalidades de até 6 km. “Ou seja, a explicação para queda no share de mulheres é que o público mudou nos últimos anos e quem já focava em performance continuou nos eventos”, ressalta o relatório.
Mesmo com pouco espaço de exibição na mídia, as mulheres reconhecem o esforço das atletas femininas, e ainda afirmam que se sentem representadas no esporte (75%). “Não é uma questão de idolatria: é reconhecer o esforço de quem consegue, apesar de tudo, ser relevante no cenário esportivo nacional”, reforça.
Quando perguntadas: “Qual a primeira marca ou pessoa que vem à sua cabeça quando falamos em “mulheres no esporte?”, as atletas mais citadas foram Marta (17,5%) e Hortência (6,1%), mas outras também foram mencionadas como Serena Williams, Daiane dos Santos, Rebeca Andrade e Rayssa Leal. Já em relação às marcas, as mais citadas foram Nike (14%), Adidas (5,4%) e Asics (3,5%).
Sobre a participação em eventos esportivos, 28,9% responderam que pretendem participar de dez ou mais, em 2023. Logo em seguida, com 24%, estão as que planejam comparecer em 4 ou 5. Sobre a percepção que possuem, 72,8% afirmaram que os eventos são inclusivos para as mulheres, ao contrário de 27,2% que discordam. Já em relação aos eventos exclusivos para o público feminino, 85% afirmaram que participariam de um campeonato do tipo.
Inclusive, quando perguntadas sobre o primeiro evento para mulheres que lhes vêm à mente, as respostas foram “Corrida da Mulher-Maravilha”, sendo o mais citado, com 9,7%. Logo em seguida vieram “Circuito Vênus”, com 4,9%, “WRun” com 4,9%,” W21K” com 2,4% e a “Corrida e Caminhada Contra o Câncer de Mama” com 2%.
Nesse sentido, o relatório revela que 67% das entrevistadas consideram a presença de ativações dedicadas às mulheres muito importante. A sugestão dos especialistas é criar ações focadas nas necessidades dessas esportistas. “Uma dica importante é dar a opção de recreação para crianças. Nas respostas abertas desta pesquisa, observamos que não ter com quem deixar os filhos durante um evento é uma dor presente entre as mulheres”, revela o texto.
Além disso, outro dado preocupante demonstra que a cada 100 participantes de um evento, ao menos 13 se sentem assediadas fisicamente ou verbalmente. De modo geral, entre as 3.030 entrevistadas, 406 sofreram assédio em alguma dessas ocasiões. Em decorrência dessas experiências desagradáveis, 57% dessas mulheres que já foram assediadas preferem ir nos eventos acompanhadas. A tendência segue a mesma para o público feminino em geral, visto que 61% não vão sozinhas.
Um ponto relevante, que acende um alerta, é a percepção de 65% das entrevistadas que sentem que as marcas patrocinadoras não investem no público feminino. Uma das respondentes comentou sobre o tema: “Os eventos só para mulheres geralmente são muito sem graça, parece que fazem por fazer, ou investem nos mesmos clichês de sempre”.
“Fui em uma prova em que os prêmios para homens eram em dinheiro e as mulheres ganharam kits de shampoo”, afirma outra participante. Além da falta de investimento para este público, uma questão importante que impede a participação feminina em eventos são os preços. “Os eventos são caros e muitas vezes as prioridades das mulheres são outras”, critica uma entrevistada.
Consequentemente, quando elas decidem não ir a um evento esportivo, metade (49,9%) alega falta de dinheiro, enquanto 24% dizem se sentir despreparadas. Entre outras razões listadas estão “não tenho companhia”, “não tenho tempo”, “não tenho com quem deixar meus filhos” e “me sinto insegura”.
“Pra mim o mais difícil é conciliar a rotina da casa com filhos e treinos constantes. Para o vôlei, eu trago eles juntos. Para as corridas, não consigo levá-los, então às vezes fico vários dias sem correr, mesmo sendo na rua”, explica uma das entrevistadas. Assim como a maternidade, a sobrecarga de tarefas domésticas é igualmente citada como um empecilho: “Infelizmente, ainda recai sobre muitas de nós a responsabilidade de limpar e cozinhar, e isso inclui as refeições de domingo. Talvez, mais ‘night runs’ facilitaria a participação aos sábados à noite”, comenta outra participante.
Como mencionado, o assédio também é um tópico de preocupação para as esportistas femininas. Uma entrevistada destaca que o medo de ser assediada nos próprios treinos afeta diretamente sua participação em eventos. “Pra mim, é muito difícil treinar longas distâncias sozinha. Tenho medo real de ser assediada ao ficar horas em estradas correndo. Isso me atrapalha muito”, afirma.
Por fim, uma resposta sintetiza o cerne do contexto dos eventos esportivos: “Tentam englobar o maior número possível de mulheres e acabam agradando pouco as que querem romper barreiras no esporte. E os eventos voltados para o público geral privilegiam o público masculino”, avalia.
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