O pacto nosso de cada dia
Precisamos entender os privilégios da branquitude
Precisamos entender os privilégios da branquitude
22 de março de 2022 - 13h54
Há uma pergunta que tenho escutado muito nos últimos anos sempre que vou falar sobre equidade racial. “Como fica a empresa se começarmos a baixar a régua na contratação?”. Vejam, ouço isso antes e depois do episódio da cofundadora do Nubank que disse ser preciso “nivelar por baixo” se o banco digital fosse contratar negros para altos cargos. Como assim “baixar a régua”? Ao levar novos olhares, experiências e perspectivas para uma empresa, para uma marca, surge um ambiente muito mais eficiente, criativo e relevante. Mas o que mais me intriga é como este pensamento está enraizado em nós, brancos.
Ninguém explica melhor o fenômeno do que Cida Bento, doutora em Psicologia pela USP e cofundadora do CEERT – Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Raciais. “Há um modelo de liderança, de profissionais que estão na vanguarda, que é masculino e branco e eu chamo de “Pacto Narcísico da Branquitude”. Ele não é verbalizado, mas consiste nos brancos sempre assegurarem para outros brancos os lugares mais qualificados”, afirma ela. Cida Bento foi eleita em 2015 pela The Economist uma das 50 pessoas mais influentes do mundo no campo da diversidade e atuou como psicóloga de RH em grandes empresas durante anos. Ela desvendou esse movimento, que se repetia em toda a espinha dorsal do mundo corporativo e deu origem à sua tese de doutorado intitulada de “Pactos Narcísicos no Racismo: Branquitude e Poder nas Organizações Empresariais e no Poder Público”.
E eu, como mulher branca, que há apenas alguns poucos anos tento diariamente desconstruir o racismo estrutural que vive em mim, que contei com este pacto narcísico da branquitude para me garantir tantos privilégios, faço aqui um convite: vamos ler Cida Bento. Precisamos entender os privilégios da branquitude, pois só assim conseguiremos combater o racismo, essa máquina de gerar desigualdades. Neste mundo globalizado, interconectado, com uso integrado de dados, não há nada mais inovador e transformador do que a diversidade na sociedade e no ambiente de trabalho. Sim, é possível. Sim, é urgente!
Quero dividir o que eu aprendo todos os dias a partir do momento em que, junto com a Raphaella Martins e com o Ricardo John, participei da criação do primeiro programa de equidade racial da publicidade brasileira na então agência J. Walter Thompson, em 2017. Um movimento que iniciou a mudança em todo o ecossistema da indústria da propaganda no país e que dois anos mais tarde iria inspirar o Ministério Público do Trabalho (SP), na figura da brilhante procuradora Valdirene Assis, a convidar as maiores agências do país a assinarem o Pacto para a Inclusão de Jovens Negras e Negros no Mercado de Trabalho. Existem pactos e pactos. A escolha cabe a cada um de nós.
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