Em meio a agitação, uma reflexão sobre saúde mental no Cannes Lions

19 de junho de 2024 - 17h53

Este ano, cheguei ao Festival Cannes Lions com grande expectativa. Já havia vindo diversas vezes como diretora, mas esta é a primeira vez que participo como sócia de produtora, a Ladybird. Fui incentivada pelo SP INVEST e cheguei muito entusiasmada com a oportunidade e o privilégio de estar aqui, de rever tantos amigos, fazer networking e participar de um dos maiores eventos da publicidade mundial.

Saí de São Paulo, como todos do mercado, correndo com um fone de ouvido em mais uma videochamada. O jet lag trouxe consigo (comigo) uma avalanche de sensações. E quando eu estava prestes a dar aquele mergulho no evento, nas festas e no bussiness, travei. Pois é, o constante fluxo de informações transformou o que deveria ser uma celebração criativa em um desafio. Minhas mãos começaram a gelar, meu coração disparou.

Uma experiência paradoxal. Como é possível que, no epicentro da criatividade global, eu estivesse me sentindo tão paralisada?

Essa vivência me fez pensar sobre o excesso – o excesso de estímulos, de expectativas e de responsabilidades que, muitas vezes, nos fazem ignorar nossa própria saúde mental. Olhei em volta: será que mais alguém está se sentindo assim?

Descobri, então, que dentro do Palais tem uma área de silêncio, onde é proibido celulares, um quiet lounge para quem precisa se recolher por alguns instantes para então expandir novamente.

Este texto deveria ser sobre as mil pessoas que encontrei, as conversas inspiradoras e as ideias revolucionárias. No entanto, é fácil perder-se no ritmo frenético e esquecer que, para eu criar algo verdadeiramente significativo, é preciso também cuidar de mim mesma, renovar meu olhar sobre o sucesso e entender as minhas necessidades e momento.

O Festival Cannes Lions é um marco importante para a indústria, sabemos da nossa responsabilidade, falamos muito de ESG. E sinto que a saúde mental estará cada vez mais presente em nossos vocabulários, é essencial refletirmos sobre como lidamos com o excesso, falarmos sobre saúde mental sem estigmas. Talvez, para mim, o verdadeiro poder da criatividade resida não só em suas criações, mas também na capacidade de transformar desafios internos em criatividade.

E, ao compartilhar isso, espero que outros que se sintam sobrecarregados de estímulos possam encontrar alguma identificação de inspiração e sanidade. Talvez quem não esteja aqui veja o Instagram e sinta a nóia… o que será que eu estou perdendo? Será que meus clientes estão flertando com outros em frente a esse mar azul? (Risos).

A ansiedade hoje é presente em nossas vidas. Que possamos reconhecer nossas vulnerabilidades e encontrar novas formas de nos fortalecer e inspirar uns aos outros. Eu me respeitei e me afastei da música alta, dos refletores e das baladas. Mas estou sendo muito feliz aqui: são mesas menores, com encontros longos de conversas profundas e muitas risadas também. Tempo de ver as fotos dos filhos da diretora de criação que conheço há 10 anos e ouvi-la falar do desafio de ser mãe e profissional. Do relato detalhado de uma viagem incrível de bike de um cliente querido…

Há espaço para todos os tipos de conexões. Encontrei um lugar justo para mim. Se antes, eu sofri de FOMO (Fear of Missing Out), hoje convivo com o JOMO (Joy of Missing Out).

E estou aproveitando, e muito!