18 de junho de 2017 - 15h29
A pergunta parece simples demais para protagonizar o meu primeiro post já em Cannes e depois de ser exposta, por algumas horas, a um turbilhão de conceitos elaborados que o evento e seus palestrantes trouxeram consigo, já neste domingo.
No clima de aquecimento, as discussões ainda podem parecer isoladas e um tanto mornas, ganhando corpo à medida em que ideias (e ideais) vão se costurando, involuntariamente. E esse, para mim, foi o exercício mais estimulante do dia, como iniciante no festival.
Em alguns momentos bem distintos, esse simples questionamento apareceu como uma peça determinante de um passo que, eventualmente, marcas e agências ainda parecem pular na jornada por campanhas mais genuínas.
Da primeira vez, saiu da boca da Grace Helbig, influenciadora digital americana com mais de 5 milhões de seguidores, que dividiu o palco com a consagrada atriz americana Laura Dern. Ambas falaram sobre seus relacionamentos com fãs, conteúdo e marcas. Questionada se já apoiou ONGs ou causas específicas e como ela fazia essa seleção, Grace apontou que, mesmo em casos comerciais, busca criar conteúdo sobre marcas e produtos que realmente gosta e sobre temas com os quais se sente verdadeiramente conectada. Mas que realmente gostaria de ouvir mais vezes, das agências, uma pergunta simples, antes de dar qualquer endosso e dedicar sua completa energia: “O que você pensa sobre isso”?. Silêncio na plateia.
Já no fim da tarde, criativos do Saturday Morning trouxeram curioso relato sobre como se uniram para buscar apoio de agências, indivíduos e marcas, e liderar um movimento relevante para a diversidade e inclusão nos Estados Unidos. Partindo do histórico pessoal de origem afro-americana, discorreram sobre a amplitude do projeto e sua capacidade de ser uma plataforma para todas as raças, gêneros e vozes. Mas destacaram que, para realmente gerar uma mudança profunda, a causa que você tenta defender tem que estar literalmente representada na sala de reunião. Basicamente, a capacidade de engajar e ouvir quem a represente será a diferença entre tocar corações e mentes, quebrando preconceitos que são enraizados culturalmente em percepções equivocadas do “outro”, e simplesmente ser irrelevante.
Curiosamente, nesse mesmo dia, participei de uma palestra cuja experiência era quase um convite para resgatar nossa capacidade de ouvir. Durante cerca de 40 minutos, nos emocionamos, rimos, e nos surpreendemos a partir de um storytelling sem qualquer recurso visual. Apenas boas histórias contadas com os olhos vendados. E entendemos como essa pode ser uma poderosa ferramenta, para a audiência e canais certos. Afinal, reagimos mais rápido ao som do que a qualquer outro estímulo, mesmo o toque (vide imagem em anexo).
Enquanto evoluímos, como indústria, para campanhas cada vez mais orientadas a dados, em plataformas cada vez mais interativas e inteligentes, torço para que não nos esqueçamos do simples. Estou ouvindo? A voz que estou representando é minha ou só estou tentando falar pelo “outro”?
Parece que essa escuta inteligente vai se firmar, daqui em diante, como o pequeno e obrigatório passo para transformar reação em ação, engajamento em ativismo, simples campanhas em grandes movimentos globais.
O que você pensa sobre isso?
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