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17 a 21 de junho de 2024 | Cannes - França
Diário de Cannes

Tim Kendal versus Ana Maria Braga

Entre diversas apresentações banais, nesses três dias de festival, as que se destacaram foram a do YouTube, da Hakuhodo e da Denstu


19 de junho de 2017 - 17h49

Estou escrevendo no final do terceiro dia de festival.  Fazia tempo que eu não era tão CDF em Cannes. Até aqui, eu vi tudo o que foi possível.  E tenho que dizer que a maioria das palestras foi basicamente banal.

Tim Kendal, aí em cima no título, para quem não sabe, vem a ser o presidente do Pinterest, uma plataforma que eu curto bastante. Mas a palestra do Tim foi de uma banalidade impressionante. Não consigo entender por que o presidente de uma marca que investiu uma fortuna para estar no festival  gastou seus valiosos 45 minutos –  e os meus – explicando que a filha dele de dois anos fica chateada de dividir a atenção do papai com um celular. O vício de estar on-line é um assunto sério, mas a palestra dele, cheia de dicas de como ficar off-line, foi mais rasteira do que se tivesse sido preparada pela Ana Maria Braga. Saí gostando menos do Pinterest. 

Exemplo oposto: acabo da sair da apresentação do Youtube, onde tomamos todos um malho de produtos extremamente agressivo – mas ninguém achou ruim. Kevin Allocca, Head of Culture and Treds, abriu com um Key Note bem feito e bem ensaiado, ilustrado com fatos divertidos.  Suzane Daniels, Head of Original Contents, vendeu seu peixe com uma desenvoltura impressionante e no final entrevistou Demi Lovato que se comportou como a cereja do bolo deve se comportar.  Saí do Lumiere convencido mais uma vez de que a galera do GOOGLE sempre sabe o que faz. Tudo bem que as palestras são merchandisings, mas a gente está pagando muito caro para ser tratado com descaso.

A exposição do David Remnick, editor da New Yorker,  sobre a explosão das Fake News no mundo das redes sociais e em particular no contexto da eleição do Trump, teve profundidade, o assunto é hiper-oportuno, mas foi um cara lendo uma matéria (ótima) durante 45 minutos. Bom, porém chato.

De resto, tivemos nesses três dias muitas inclusões politicamente corretas com criativos negros falando de diversidade, mulheres falando sobre gênero… tudo certo, mas com um certo ar de reunião do coletivo. Questões tão importantes que deveriam ser melhor aproveitadas.

Será demais esperar que num festival do tamanho de Cannes, focado em criatividade, tudo seja minimamente criativo e interessante?  Não, claro que não é.

Outstading, por enquanto, foi a apresentação da Hakuhodo, impregnada criatividade e loucura japonesa. E a apresentação da Denstu sobre um projeto da Toyota, o i-road. A palestra em si cabia num chart, mas o carrinho elétrico de três rodas para uma pessoas é absolutamente sensacional e eu saí da apresentação querendo muito um.

De resto, já comentada aqui, a experiência de assistir filmes em Cannes fica mais humilhante a cada ano. O que era a essência do Festival até bem pouco tempo, em breve será apresentado num banheiro. E o fato é que o interesse é tão pequeno que vai caber todo mundo. E antes que todo mundo diga que eu sou um chato rabugento, o filme do Joe Pitka com George Louis e Ed McCabe falando sobre propaganda, Four Seasons, Mies van der Rohe, a vida e tudo mais foi um momento lindo.

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