Opinião

Mídia em 2026 exigirá muita razão e sensibilidade

A era do algoritmo continua com tudo, mas investir em iniciativas fora dessa lógica será indispensável para brilhar no próximo ano

Viviana Maurman

Vice-presidente de mídia da Dentsu 27 de novembro de 2025 - 18h00

Nem toda inteligência, humana ou artificial, é capaz de prever fenômenos como o Labubu e o Bobbie Goods. Para quem não sabe, o primeiro é um monstrinho colecionável e o segundo, uma marca de livros para colorir. Com “pegada” infantil e já no mercado há um bom tempo, ambos viralizaram em 2025 entre todas as idades. A febre se deu a partir de influenciadores no TikTok, uma alquimia tão espontânea quanto poderosa, com impactos globais. Bolsas de grife com chaveirinho da simpática criatura e adolescentes pintando desenhos fofos sem olhar para o celular dão a dimensão do sucesso.

Esse movimento surpreendente antecipa o espírito de 2026. Dados valem ouro, algoritmos importam, a IA segue em alta, conveniência e simplicidade são obrigatórias. No entanto, a força das comunidades, de boas conversas e das conexões autênticas pode subverter essa lógica a qualquer instante. Manter um olho na razão, para potencializar o que já conhecemos, e outro na sensibilidade, para captar oportunidades no desconhecido, será a chave para conquistar resultados de mídia expressivos.

Passado e futuro, digital e analógico, virtual e presencial, simples e complexo – todos esses cenários precisam estar no radar. Comprar online é fantástico, mas criar uma edição exclusiva para loja física pode ser especial. Streaming de vídeo e música são default, e convivem cada vez mais com o cultuado mercado de fitas cassete e vinil. Levar clubes de leitura virtuais para um encontro com autores em uma livraria icônica parece complicado? Sim, haverá trânsito, fila e caos. Mas, apesar disso – ou talvez por causa disso –, será inesquecível.

Ao lado do que é imediato, prático e fácil, como obter respostas da IA, há uma demanda reprimida por experiências mais profundas, reais, afetivas e coletivas. Um bom exemplo disso são as docusséries de esportes. Pesquisas indicam que 40% dos consumidores ao redor do planeta assistiram a esse tipo de vídeo recentemente. Histórias de estrelas esportivas reúnem todos os elementos para engajar a audiência (emoção, magia, superação, humanidade). Imagine na Copa!

Aliás, ajustando o foco é possível enxergar um imenso potencial de negócios fora dos esportes. O caso dos animes japoneses ajuda nesse ponto. Ainda vistos como parte de um nicho, na verdade, eles são consumidos semanalmente por 50% da geração Z. Os doramas vão pelo mesmo caminho, alcançando um público cada vez maior e fiel. Passado o espanto, cabe pensar como estes formatos têm sido (ou não) aproveitados nas estratégias de mídia.

Enxergar longe, porém, não pode atrapalhar a visão do óbvio. Um dos campeões mundiais de uso do WhatsApp, o Brasil tem tudo para alcançar excelentes resultados nesse território. Bots que esclarecem dúvidas e agendam compromissos são apenas pontos de partida, não de chegada. Anúncios, conversas, compras, pesquisa, pagamentos podem ser concentrados no aplicativo. Contar com humanos para tornar a interação via app mais segura e agradável, claro, é vital. Razão e sensibilidade, lado a lado sempre. 2026 promete!