Como Daniela Benoit transformou conexões em negócio com o Coletivo Manas

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Como Daniela Benoit transformou conexões em negócio com o Coletivo Manas

Publicitária de carreira, ela usou da sua expertise e contatos para empreender um coletivo de mulheres executivas pretas


23 de junho de 2023 - 14h00

Daniela Benoit é CEO do Coletivo Manas (Crédito: Divulgação)

Daniela Benoit é CEO do Coletivo Manas (Crédito: Divulgação)

Daniela Benoit, uma empreendedora incansável, trilhou um caminho profissional de sucesso no mundo corporativo. Iniciando sua jornada em grandes agências de publicidade, ela construiu uma carreira em grandes empresas de comunicação e viveu em diferentes cantos do mundo. No entanto, sentindo a necessidade de retribuir mais para a sociedade, ela criou o Coletivo Manas, um grupo de mulheres pretas executivas, que juntas acumulam mais de 70 anos de experiência no mercado da publicidade. A empresa conecta marcas a pessoas para realizar projetos de comunicação, marketing e publicidade ligados aos temas de ESG. Já conta com nomes importantes no portfólio, como Dom Filó, líder do Movimento Black do Brasil e a Nós Outdoor Social. 

Nesta entrevista ao Women To Watch, Daniela Benoit conta sobre sua trajetória profissional, a jornada empreendedora do Coletivo Manas e seu estilo de liderança pessoal. Além disso, reflete sobre o potencial criativo das favelas e a diversidade presente no festival de Cannes deste ano. 

Conte um pouco sobre você e sua trajetória profissional. 

Iniciei minha carreira na DM9 em 1996, uma das maiores agências de publicidade da época. Trabalhei com internet, nas áreas de mídia e comercial. Passei por empresas como Terra, Young & Rubicam, Isobar e Taboola. Atuei como VP de Mídia na Riot, que era uma agência de social. Eu fui uma das primeiras negras no mercado a falar inglês, e por isso eu consegui trabalhar em multinacional. Morei um período em Londres, depois na costa da França, numa ilha chamada Guernsey e na Ilha das Bermudas. Pude abrir escritórios em países como México, Colômbia e Peru. Nas minhas últimas passagens, estive na Globo e no Kwai. 

Ao deixar o mundo corporativo, senti a necessidade de encontrar um propósito maior. Assim, criei o Manas, uma empresa para mulheres, que se tornou focada em mulheres pretas. Eu tinha o sonho de poder ajudar e reunir outras mulheres como eu. Mas como eu poderia ensinar outras mulheres pretas, que tinham muito menos acesso que eu, a serem executivas de negócio? Fui buscar isso no trabalho social da Libelo, onde conheci mulheres incríveis, incluindo aquelas com origens diversas, como empregadas domésticas, moradores de rua e membros da população trans da Casa 1. Inclusive, algumas delas agora fazem parte do Manas. 

Como surgiu o Coletivo Manas? 

O Manas surgiu no ano passado a partir da minha participação no programa Conselheiras 101. Inicialmente, eu tinha receio de aplicar para oportunidades, mas fui encorajada por uma colega, Lisiane Lemos. Ela disse que eu deveria tentar, considerando minha experiência em uma empresa chinesa, algo que o mercado ainda não possui. Decidi arriscar e fui selecionada. Durante a primeira aula, me perguntaram no que eu era boa, o que me deixou um pouco apreensiva. Refleti sobre toda a minha vida e percebi que uma habilidade que sempre tive foi a de me conectar com as pessoas. Sempre fui conhecida como alguém que entra em um ambiente e todos dizem: “Olha, a vereadora chegou”. 

Depois de sair do programa, recebi um convite de trabalho, mas sem remuneração. Então, decidi fracionar meu tempo e prestar serviços para três empresas que me convidaram. Apesar de cobrar menos, ao trabalhar para as três, acabei ganhando mais no final. Foi assim que surgiu o Manas, focado em fazer conexões. Eu utilizava meus contatos para ajudar veículos que necessitavam de parcerias e atuava como um departamento comercial para essas três empresas.  

No entanto, ao longo do caminho, pessoas do terceiro setor começaram a me procurar e acabei direcionando meu trabalho nessa área. Agora, trabalho principalmente com empresas de propósito, como o ativista negro Dom Filó, um produtor conhecido no mundo cultural com um acervo incrível de cultura negra. Também trabalho com a Nos Creators, uma empresa que cuida de influenciadores e ativações nas favelas. 

Acredito que as favelas e os criadores periféricos têm um potencial de consumo absurdo. Na verdade, eles já consomem, mas apenas o que lhes é oferecido. As marcas não costumam fazer um trabalho intencionalmente direcionado à comunidade. Os criadores têm o papel de estabelecer uma comunicação mais pessoal e sob medida, falando diretamente com a comunidade. Essa comunicação traz proximidade. 

Julia Nazareth, Daniela Benoit e Chayhene Ribeiro fazem parte do Coletivo Manas (Crédito: Divulgação)

Julia Nazareth, Daniela Benoit e Chayhene Ribeiro fazem parte do Coletivo Manas (Crédito: Divulgação)

Como as empresas podem usufruir desse potencial?  

O essencial é ter uma linguagem autêntica e proporcionar benefícios reais aos consumidores. A criatividade no marketing deve fazer a diferença no dia a dia das pessoas. É importante entender suas necessidades e desenvolver produtos adequados, promovendo inclusão de forma genuína. Ao compreender o que as pessoas consomem e valorizam, é possível oferecer produtos que atendam às suas necessidades.  

Por exemplo, em bares de comunidades, as garrafas de uísque e vodka de alto valor são símbolos de diversão. É preciso observar como as empresas podem se comportar dentro dessas comunidades. É necessário parar e prestar atenção ao que está acontecendo nesses locais, pois muitas vezes eles são invisibilizados. 

Como você descreveria seu estilo de liderança?  

Ao longo da minha carreira, passei por diversas transformações. Optei por um caminho em que me dedico exclusivamente ao desenvolvimento de mulheres, uma escolha baseada na compreensão de que nossa jornada é completamente diferente do mundo masculino. É importante entender que não se trata apenas de ser bonita. Levo em consideração as características únicas das mulheres, como quando estão de TPM, enfrentando mau humor ou dores intensas. Busco compreender essas particularidades e trabalho muito a autoconfiança. 

A síndrome do impostor é algo com que muitas de nós lidamos, e eu mesma já me senti assim várias vezes. Felizmente, tenho uma mentora maravilhosa que me ajuda a identificar quando estou caindo nesse ciclo de autossabotagem. Agora, faço o mesmo com as jovens que acompanho, adotando uma abordagem materna. Percebo quando elas estão se autossabotando e é nesse momento que faço a diferença. 

Quero que elas se sintam capazes de sentar à mesa, expressar suas opiniões e serem ouvidas. Quero que saibam que sua opinião é tão valiosa quanto a de pessoas que frequentaram faculdades renomadas e que se sintam bonitas. A importância de se sentir bonita não se resume a questões estéticas, mas está relacionada à autoconfiança. Quando nos sentimos bonitas e bem cuidadas, entramos num ambiente e pensamos: “Sou incrível, todos vão me ouvir”. 

Como você avalia o último festival de Cannes 2023 sob a perspectiva da diversidade?  

Eu trouxe um grupo de jovens do mercado em parceria com o Publicitários Negros (PN). Lançamos um desafio para arrecadar fundos e trazer quatro assistentes criativos. Agora, estou acompanhando-os e é uma experiência gratificante. É como ver Cannes pelos olhos de uma criança. Sempre tive acesso a vários festivais, mas agora é diferente. 

Vou te dar um exemplo. Recentemente, estava numa festa num iate, porque Cannes é conhecido pela ostentação. Durante o pôr do sol, Pipo Calazans me disse: “Dani, você já pensou o quanto é especial estar aqui? O quanto você precisou fazer para chegar até aqui?” Fiquei tocada e refleti por dois minutos. Ele estava certo, eu estava ali. É assim que eles estão se sentindo. 

Hoje, numa palestra, vi uma fileira inteira de pessoas negras. Uma americana disse: “Vou sentar aqui, porque este é o meu lugar, não tenho dúvidas”. Lembro de ter vindo para Cannes há dois anos e não havia tanta representatividade assim. Agora, o Brasil está presente em peso, muitas pessoas negras, todos felizes com essa mudança, especialmente em relação aos jovens que trouxe. Faço questão de apresentá-los a todas as pessoas e todos estão apoiando essa iniciativa. Apesar de tudo, o Brasil está em uma espiral positiva e as pessoas engajadas na inclusão estão felizes com esse movimento 

Por fim, indique três filmes, séries ou livros. 

Vou indicar uma campanha que aborda tabus relacionados a órgãos sexuais, menstruação, menopausa e questões femininas, inspirado no Gino-Canesten e sua obra incrível com uma sereia.

Também menciono um curta antigo da Netflix que ganhou o Oscar, chamado “Dois Estranhos”. Trata-se da história de um designer negro que é discriminado por um policial e, independentemente de quantas vezes isso aconteça, o policial sempre o mata, pois não acredita que ele pertença àquele lugar. Além disso, eu adoro o TED Talk da Chimamanda que aborda a importância de todos nós sermos feministas. É o meu TED Talk favorito de todos os tempos. 

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