Quais são as pautas do W20 sobre mulheres em STEM?
Para o encontro do G20, o grupo de engajamento de gênero têm discutido como aumentar a participação feminina na área
Quais são as pautas do W20 sobre mulheres em STEM?
BuscarPara o encontro do G20, o grupo de engajamento de gênero têm discutido como aumentar a participação feminina na área
Lidia Capitani
10 de julho de 2024 - 7h04
O W20 (Women 20) surgiu como uma iniciativa do G20, fórum que reúne as 20 maiores economias do mundo para discutir questões financeiras globais. Com o tempo, o G20 percebeu a importância de abordar outros recortes e desafios sociais, formando assim diversos grupos de engajamento, incluindo o W20, que nasceu em 2015 com o objetivo de promover a igualdade de gênero e o empoderamento feminino a nível global.
A presidência desses grupos é rotativa, acompanhando a presidência do G20. Este ano, o Brasil ocupa a posição de liderança e sede do encontro, o que abre a oportunidade de dar prioridade às causas femininas e elevar essas discussões aos níveis mais altos de engajamento no âmbito público e privado.
Nestas mudanças de presidência, novas pautas surgem conforme as prioridades do país-sede, trazendo o holofote internacional sobre as questões regionais. “Aqui no Brasil, acho que as duas grandes inovações do W20 deste ano foram a interseccionalidade e os dados desafiadores de gênero, especialmente quando se tratam de outras barreiras como deficiência ou raça”, afirma Camila Achutti, delegada do W20 Brasil e líder do tema Mulheres em STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática).
O grupo de engajamento W20 elencou cinco tópicos para desenvolver em seus grupos de trabalho (GT): interseccionalidade, economia do cuidado, fim da violência contra a mulher, empreendedorismo, mulheres em STEM e justiça climática. “Essas áreas estão alinhadas com as diretrizes governamentais, como o G20 Social, e mantivemos outras prioridades, como o empreendedorismo feminino, que existe desde 2015. Mulheres nas ciências ganhou força na edição do Japão em 2018 e se manteve forte nos últimos anos”, relata Camila.
Ao longo do ano, esses grupos de trabalho se reúnem para debater os principais desafios em cada uma das áreas. Ao final, o grupo escreve um comunicado com recomendações e planos de ação para as lideranças do W20, que será apresentado no grande encontro do G20.
O grupo de trabalho (GT) de mulheres em STEM, do qual Camila é delegada, tem se debruçado sobre três questões cruciais para aumentar a participação feminina nesses campos. Entre os temas debatidos, destacam-se a necessidade de uma inteligência artificial (IA) ética que não perpetue estereótipos de gênero e preconceitos, a inclusão digital com foco em gênero e a urgência de dados desagregados por gênero para uma melhor compreensão e solução dos problemas.
Três pilares foram escolhidos pelo grupo de trabalho Mulheres em STEM do W20. O primeiro foca no design e desenvolvimento de aplicações de inteligência artificial de maneira ética, enfatizando a governança e a neutralidade dos dados usados para treinar modelos de IA, a fim de evitar a perpetuação de preconceitos e estereótipos de gênero.
“Se usarmos dados disponíveis sem filtro, eles vão refletir nossos comportamentos negativos. Precisamos criar boas diretrizes para limpar esses dados, evitando que reforcem preconceitos e misoginia. Por exemplo, a primeira versão do ChatGPT dava opiniões drásticas sobre política. Hoje, ele evita essas discussões. Queremos que o mesmo avanço ocorra na questão de gênero na IA”, diz Camila.
Outra prioridade relacionada é encorajar as empresas a reportarem a diversidade. Com times mais diversos, principalmente no desenvolvimento de tecnologias, é possível avançar nessa pauta, construindo produtos tecnológicos mais éticos e melhores.
O segundo tópico prioritário foca na expansão do acesso ao ambiente digital, principalmente em comunidades desprivilegiadas. “Muitas vezes, as meninas são as últimas em uma família a ter acesso à internet e tecnologia. Isso atrasa o desenvolvimento delas em uma economia digital”, avalia Achutti. O grupo entende que esse tópico é universal, de modo a promover uma educação em habilidades digitais que seja transformadora para gênero, garantindo que tanto meninos quanto meninas tenham igual acesso à tecnologia desde cedo.
“Antes, focávamos em ações específicas para gênero. Ainda vemos valor nisso, mas, dado o avanço rápido, precisamos de ações transformativas para gênero que influenciem políticas públicas. Por exemplo, no Brasil, não temos uma formação estruturada em pensamento computacional para professores a nível nacional. Inserir a pauta de gênero nessas formações oficiais é crucial”, defende.
Afinal, se um dos objetivos é aumentar a representatividade de gênero nas áreas STEM, essas meninas precisam entrar em contato com esses campos. Ampliar esse contato no âmbito escolar é um dos meios. “Para promover STEM, precisamos fomentar e dar espaço para que as meninas conheçam essas carreiras. Campanhas públicas, palestras e mentorias em escolas, Olimpíadas de Astronomia, Física e Química com ênfase na participação feminina podem influenciar positivamente as escolhas profissionais futuras”, destaca.
Por fim, o último tópico prioritário do grupo é a coleta de dados desagregados por gênero, para entender melhor os desafios e medir os progressos na participação feminina em STEM. “Muitas vezes, achamos que estamos progredindo, mas, sem recortes por gênero, não vemos a realidade. Por exemplo: enquanto melhoramos nossos índices de formação em STEM, a participação feminina permanece em torno de 20%. Coletar dados desagregados é vital para medir nosso progresso real”, diz.
O grupo de mulheres em STEM tem planos ambiciosos para o futuro. Estão previstos eventos e reuniões intermediárias para fortalecer a relação com outros grupos de engajamento, visando a criação de políticas públicas e pesquisas que incluam a perspectiva de gênero. Em outubro, haverá um grande evento no Brasil para consolidar as prioridades e entregar um comunicado final aos líderes de Estado.
Além disso, há um esforço contínuo para promover a visibilidade das mulheres em STEM e sua intersecção com a justiça climática, especialmente considerando os desafios atuais no Sul do país. “As mulheres serão mais afetadas pelas mudanças climáticas e, considerando a falta de talentos em STEM, essas discussões nem sempre são priorizadas. Falar de justiça climática é falar de mulheres em tecnologia e liderando inovações para atender a essas necessidades”, ressalta Camila.
O trabalho do grupo de mulheres em STEM no W20 é fundamental para promover a igualdade de gênero e empoderar mulheres em campos historicamente dominados por homens. “Se conseguirmos fazer nossos assuntos aparecerem em vários comunicados e relatórios, isso aumenta a chance de serem reconhecidos pelas lideranças como importantes para a política pública e desafios econômicos. Assim, estamos focadas em realizar boas reuniões intermediárias e fortalecer nosso engajamento”, afirma a delegada.
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