Alexandre Zaghi Lemos
16 de junho de 2018 - 16h06
A 65ª edição do Festival Internacional de Criatividade de Cannes começa oficialmente na segunda-feira, dia 18, em versão reduzida de oito para cinco dias. Uma das maiores curiosidades das centenas de profissionais brasileiros que irão participar in loco do evento é a de constatar o real impacto das inúmeras mudanças anunciadas no último ano pela organização.
Para Joanna Monteiro, CCO da FCB Brasil, a maior diferença será o impacto da menor duração do evento na agenda dos participantes. “Sendo mais curto, as pessoas terão que ser mais objetivas e mais focadas naquilo que procuram ver no festival. As mudanças acontecem para o festival se tornar mais atraente e mais barato e quem sabe assim talvez voltar a atrair mais criativos”, analisa. A mesma percepção tem Eco Moliterno, CCO da Accenture Interactive e membro do júri de Innovation em 2018: “Agora, com o festival mais curto – no novo formato ‘Cannes.zip’ –, imagino que ele será menos disperso pela cidade e voltará a ser mais concentrado dentro do Palais”.
Embora a nova arquitetura do festival seja vista como avanço, a expectativa dominante é a de que o festival manterá algumas de suas características principais, como a atmosfera propícia para networking, a ferrenha disputa por Leões, de um lado, e a farta distribuição de troféus, de outro (veja abaixo que, pela primeira vez, haverá cerimônias de premiação em todos os dias do evento). “Apesar de ter diminuído de tamanho vai continuar sendo um festival gigante. É muita ideia boa reunida”, frisa Rodolfo Sampaio, sócio e CCO da Moma Propaganda, que estará no júri de Print & Publishing.
A quantidade de prêmios é talvez a maior dúvida em relação ao Cannes Lions 2018, mas a experiência mostra que os discursos de valorização dos Leões e maior seletividade do evento não se comprovam na prática. No ano passado, os indícios da necessidade de redimensionar o seu gigantismo se refletiram na diminuição dos jurados presenciais e na queda de 4,5% no total de inscritos. Entretanto, não houve recato na concessão de prêmios, que bateu novo recorde: os 23 júris de 24 competições entregaram impressionantes 1.471 Leões, incluindo os Grand Prix.
Para 2018, há pelo menos dois indícios de que a distribuição de troféus deve se manter farta: o total de premiações subiu de 24 para 26 e o número de jurados aumentou de 390 para 413. Particularmente este último aspecto já propiciou um recorde para o Brasil antes mesmo do evento começar. Serão 27 profissionais brasileiros nos júris, sendo seis deles atuantes no exterior.
Por outro lado, o evento começa com diminuição de 21% no total de inscritos – e de 29% no número de trabalhos brasileiros concorrentes. Entretanto, a medida que mais poderia ter impacto na quantidade de prêmios concedidos por Cannes é a de limite para inscrições de peças. Pela primeira vez em sua história, o Festival limitou ao máximo de seis entradas para cada campanha. “O limite de inscrições de cada peça em seis categorias é um grande diferencial. Do jeito que estava, víamos campanhas ganhando mais de trinta Leões como o ‘Meet Graham’, no ano passado”, diz Rafael Rizuto, fundador e CCO da TBD nos Estados Unidos e um dos jurados de Glass em 2018, se referindo ao case da australiana Clemenger BBDO para Transport Accident Commission (TAC), vencedor de 29 troféus em 2017. Ele acredita que, com a mudança, “veremos uma diversidade maior de trabalhos e agências ganhando”.
Mas há quem acredite que esse limite nas inscrições não provocará o efeito esperado. “Há alguns meses, quando as mudanças foram anunciadas, minha percepção era de que o Festival estava valorizando o peso do Leão ao reduzir o número de inscrições e aumentar a pontuação de GPs, Ouros e Pratas. O que realmente aconteceu é que o limite de seis inscrições não é para todo o Festival, mas sim ‘por Leão’: agora, o número de mini-festivais aumentou de três (Innovation, Health, Cannes) para nove (Reach, Communication, Craft, Experience, Innovation, Impact, Good, Entertainment, Health) e as agências têm o limite de seis peças por mini-festival, o que, na prática, não muda em quase nada. O que parecia ser uma reavaliação de foco – de quantidade de inscrições versus estratégia de inscrição –, ficou na mesma, já que o limite não foi tão afetado assim”, avalia Eduardo Marques, diretor executivo de criação da 180LA.
“As mudanças eram necessárias. Lembro de uma festa na Almap em que ganhamos seis Leões. Aquilo era uma vitória que virou notícia. E na festa haviam seis leões de verdade. Inesquecível. Hoje, um criativo que não tenha seis Leões em poucos anos de carreira já se sente um profissional de segundo nível, o que não tem nenhum sentido”, opina Miguel Bemfica, CCO da MRM/McCann Madrid, que estará no júri de Entertainment do Cannes Lions 2018, após conquistar o Grand Prix da área no ano passado.
PJ Pereira, chairman da Pereira & O’Dell e integrante do júri de Titanium em 2018, observa a diferença na relação com Cannes dos mercados brasileiro e norte-americano, onde ele atua há 13 anos. “Aqui não se compete pelo número de Leões de maneira tão forte, então, aprendi a olhar o festival como uma maneira independente de avaliar o trabalho que temos feito. Claro, é bom ganhar, e ganhar muito. Mas quando o festival muda, para mim não muda nada. Isso só interessa mesmo para as grandes redes — essas sim competem pelo volume. Mas acho isso uma bobagem. Então, de forma curta: eu nem sei direito o que mudou. Não me interessei em saber. Fiz o trabalho, inscrevi onde parecia certo e estou curioso para saber a opinião do júri. Se eles gostarem a ponto de premiar, eu celebro. Se não gostarem tanto, eu aprendo. O resto é bobagem”, ensina.
Leões todas as noites
Todas as noites, de segunda a sexta, a partir das 19hs em Cannes (14hs no horário de Brasília), haverá cerimônias de exibição e premiação aos vencedores. Confira em que dia da semana serão revelados os vencedores de cada uma das 26 competições do Cannes Lions:
Segunda, dia 18: Pharma e Health & Wellness, além dos prêmios especiais Grand Prix for Good do Lions Health, Healthcare Agency of the Year e Healthcare Network of the Year.
Terça, dia 19: Print & Publishing, Radio & Audio, Design, Outdoor e Mobile.
Quarta, dia 20: Brand Experience & Activation, Creative eCommerce, Industry Craft, Digital Craft, Film Craft, Entertainment e Entertainment Lions for Music, além do troféu especial de Media Brand of the Year (Spotify).
Quinta, dia 21: Product Design, PR, Creative Data, Innovation, Social & Influencer, Direct e Media, além do prêmio especial de Media Network of the Year.
Sexta, dia 22: Titanium, Creative Effectiveness, Glass, Sustainable Development Goals e Film, além das homenagens a Leão de São Marcos (pela primeira vez será entregue a duas pessoas, os irmãos indianos Piyush Pandey, diretor criativo da Ogilvy na Asia, e Prasoon Pandey, cineasta), Creative Marketer of the Year (Google) e Heart Award (Paul Polman, CEO da Unilever), Grand Prix for Good e dos troféus aos mais premiados, Palme d’Or (produtora), Agência Independente, Agência, Network e Holding.