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Menos novas gerações, mais creator economy?

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Cannes Lions

16 a 20 de junho de 2025 | Cannes França
Diário de Cannes

Menos novas gerações, mais creator economy?

Com mais painéis sobre influência e creators como negócio, o festival ainda deixa de lado discussões profundas sobre as novas gerações


12 de junho de 2025 - 16h37

Conforme uma análise das atividades do evento, as discussões de creator economy aumentaram o sarrafo, mas Cannes parece ter esquecido quem vai moldar o futuro

Pelo segundo ano consecutivo, estarei presente no Cannes Lions International Festival of Creativity, e novamente pela iniciativa do CreativeSP, da InvestSP, para fomento da internacionalização de empresas da economia criativa.

Em comparação com o ano passado, a programação reflete uma maior profundidade nas discussões sobre creator economy, trazendo boas expectativas. Será o ano desse mercado ganhar mais destaque no Palais, para sair do ‘puxadinho’ em que foi colocado em 2024?

O evento contará com 242 atividades ao longo dos cinco dias, sendo divididas entre ativações (18), exposições (20), sessões de julgamento com os indicados na premiação (44), momentos de networking (19), palestras (121) e workshops (20). Ao todo, são 30 categorias de premiação e mais de 150 horas de conteúdo, conforme análise do InstitutoZ, instituto de pesquisa e capacitação das novas gerações da Trope. 

As gerações Alpha e Beta não são mencionadas, sendo que no ano passado, 2 palestras mencionaram a Gen Alpha e 6 a GenZ. Não vejo esse ponto como necessariamente um retrocesso, afinal, essas pautas estão transcorrendo a narrativa de distintos painéis, o que ainda é positivo. 

No entanto, dados de um estudo da consultoria WGSN mostram que a Geração Alpha somará cerca de 2,5 bilhões de pessoas até 2025, sendo a primeira inteiramente nascida no século XXI. No Brasil, já representam 17% da população.

Neste sentido, penso que os eventos precisam discutir sobre juventude como tema central de alguns painéis, sabendo que somos o futuro do mundo. O meu questionamento é: estamos garantindo que os repertórios e legados estão sendo passados para as novas gerações? 

Sobre creator economy, 16 painéis mencionam o tema (13,22%), uma a mais do que o ano passado. Neste sentido, olhando para 2025, percebo que – pelo menos em termos de curadoria – o sarrafo subiu, com um nível alto de pessoas que compõem como palestrantes e mediadoras.

Isso já era algo que notei no passado: os painéis sempre têm a presença de grandes lideranças, o que torna também o nível da discussão muito mais interessante, estratégica e de negócios.

Além disso, esse nível de discussão sobre a creator economy subiu, já que passou a ser vista como um negócio. Existem painéis abordando as novas formas de empreender, ou seja, ‘creator’ realmente sendo considerada uma profissão.

Outros painéis trazem debates sobre o quanto as estratégias de influência funcionam, qual o  segredo para parcerias de sucesso com influenciadores, e se os criadores de conteúdo trazem efeito e podem mover indicadores e ponteiros de negócios.

Porém, essa movimentação faz com que o evento passe a dar mais ênfase em temas como performance e eficiência dentro da creator economy, o que pode ser válido se começarmos a ter discussões mais profundas sobre este universo, em um festival que ainda é conhecido por premiar o que é mais ‘tradicional’.

O desafio para os entusiastas do tema é conseguir filtrar o que é só um jabá de patrocinador (vide muitos painéis serem patrocinados), das conversas relevantes e aplicáveis para as tensões brasileiras. 

E essa atitude do Cannes Lions vai de encontro com o que já vem acontecendo em outros eventos que tive a oportunidade de acompanhar presencialmente, como o SXSW em 2025 e a VidCon em 2024.

Cannes mudou a categoria de ‘Social & Influence’ para ‘Social & Creators’, então me parece ainda uma tentativa de “Makes Cannes cool again”, trazendo novas pautas que movem a cultura digital, e buscando atrair os olhares das novas gerações de profissionais. São avanços, mas que ainda se mantêm distantes de trazer a discussão de creator economy de fato para o centro.

Além disso, em 2025, o Brasil estará em foco, sendo homenageado como o país criativo do ano e recebendo até mesmo uma festa de Carnaval, onde Jairzinho, Simoninha e o Acadêmicos do Baixo Augusta puxarão o trio W do Brasil do Palais ao Hotel Martinez, point dos brasileiros durante a temporada na riviera francesa. Lugar que apelidei carinhosamente de “o pitico de Cannes”. 

Essa celebração não é para menos, afinal, somos uma das maiores delegações que está presente todos os anos e fazemos um marketing para o evento de forma orgânica.

E apesar dessa escolha parecer um pouco calculada, devido a fatores como a recente presença de Wagner Moura no festival de filmes, Ainda Estou Aqui ter ganhado tantos prêmios, inclusive na França, é uma excelente oportunidade para que nós brasileiros mostremos ainda mais nosso potencial, conseguindo estar cada vez mais em posições de relevância, fazendo jus aos conteúdos de qualidade que são produzidos por aqui.

As expectativas estão altas para meu segundo Cannes Lions. Menos novas gerações, mais creator economy? Como correspondente do Meio & Mensagem, trarei o devido destaque e a minha ótica de cobertura durante todo o festival de publicidade.

Veremos se a falta de discussões sobre GenZ, Alpha e Beta no fim não é só miopia a quem hoje move as novas formas de consumo de conteúdo e publicidade. Até porque, ignorar as novas gerações é como tentar falar de futuro olhando pelo retrovisor. 

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