Ser independente é ter o propósito capaz de mudar o jogo
Tem algo que aprendi observando de perto o mercado nos últimos anos e que ficou ainda mais evidente durante um painel em Cannes Lions: ser independente é ser inteiro
Ser independente é ter o propósito capaz de mudar o jogo
BuscarTem algo que aprendi observando de perto o mercado nos últimos anos e que ficou ainda mais evidente durante um painel em Cannes Lions: ser independente é ser inteiro
20 de junho de 2025 - 12h53
Na conversa conduzida por Davi Cury, Head de Operações e Cultura da Bpool, o que parecia um simples bate-papo sobre modelos de negócio se transformou em um manifesto coletivo.
Três criativos – Felipe Silva, fundador e CCO agência Gana; Luciana Haguiara, fundadora e CCO da Nation; Guilherme Jahara, fundador e CCO da Dark Kitchen – vieram de grandes agências do Brasil e dividiram o que significa escolher sair do centro para construir a margem.
Mas, atenção, essa margem hoje é o lugar mais pulsante da criatividade brasileira. Ela representa a reconexão com a essência, com a comunidade e com a razão pela qual tantas pessoas escolhem trabalhar com comunicação.
Essas agências surgem com posicionamentos claros e inegociáveis. A Gana, com um time 100% preto, assume a responsabilidade de representar um Brasil real e historicamente invisibilizado pela publicidade.
A Nation se move com princípios de craft, práticas sustentáveis e agilidade criativa. A Dark Kitchen carrega uma lógica de cozinha mesmo: mão na massa, paixão, entrega visceral.
Um dos pontos que mais me marcou foi a afirmação sobre como as agências independentes têm conseguido construir relações mais próximas com os clientes e mais profundas com a cultura, o que motiva a trabalhar com alma, sendo visto e valorizado.
Quando perguntados se a independência impacta a criatividade, a resposta foi unânime: sim, e pra melhor.
A liberdade permite inovar com mais rapidez, colaborar sem medo e criar com – e para – comunidades reais. Hoje, ter uma operação enxuta é também ter mais poder de resposta, mais conexão com o presente e mais capacidade de escuta.
Claro que há desafios. Crescer sem perder a essência, especializar sem se fechar, gerir equipes pequenas e continuar entregando excelência. Mas é justamente por reconhecer essas limitações que essas agências conseguem se manter coerentes. E aí está o diferencial.
A tecnologia também entrou pauta. Para os palestrantes, a IA está acelerando processos e aproximando pequenas e grandes estruturas. No entanto, nenhuma ferramenta automatiza o que move uma agência independente: o propósito.
É aqui que entra o papel da Sotaq, uma agência que carrega essa ideia de que trabalhar o regional é ser nacional de verdade. É preciso estar dentro das comunidades, estudá-las, compreender seus códigos e colocar sotaques na narrativa.
Ser uma agência independente é justamente ter a liberdade de não generalizar o Brasil, mas revelá-lo em suas múltiplas vozes, territórios e formas de pertencimento. Como foi dito no painel e eu reforço: os independentes são gigantes quando têm coragem de ser verdadeiros.
Quem vive esse modelo sabe que a entrega não termina após a campanha. Ela começa na escuta, na curadoria, no respeito por quem se representa, na escolha consciente de quem está à mesa e de quem está contando a história.
Essa é a virada. Marcas estão entendendo que não se constrói relevância cultural sem ouvir quem vive a cultura. E as agências independentes estão prontas para intermediar essas conversas e cocriar soluções com impacto real.
No fim, o que sustenta uma agência não é só faturamento. É a clareza, o alinhamento entre discurso e prática. É saber que cada job é uma escolha – e que essas escolhas dizem muito sobre quem somos no mercado.
Ser independente, para mim, é mudar as regras com consistência, presença e coragem.
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