Roseani Rocha
22 de junho de 2021 - 16h19
De criança apoiada por um projeto social a criadora de dois deles, o EmpowHer NY e o Blacks in Ballet (Crédito: Reprodução YouTube)
Nesta terça-feira, a brasileira Ingrid Silva, que se tornou Primeira Bailarina do Dance Theatre of Harlem, em Nova York, foi uma das atrações dos seminários de Cannes. Em conversa com Kim Barke, vice-presidente e diretora criativa da agência The Block, ela comentou sua trajetória e trabalhos atuais, não apenas como bailarina, mas à frente de projetos sociais que tem tocado em parceria com a agência.
Ingrid lembrou sua aproximação com o balé por meio de um projeto social, no Rio de Janeiro, chamado “Dançando para não dançar”, que buscava dar oportunidade de um futuro diferente a crianças da comunidade – e por meio de uma manifestação artística que é cara e, em geral, muito elitizada.
Com a mãe, que sempre a apoiou (Crédito: Reprodução)
Ao ser descoberta pela companhia de dança fundada em 1969 por Arthur Mitchel, que privilegia bailarinos negros, justamente para também dar a eles oportunidade e visibilidade, Ingrid conta que ao chegar aos Estados Unidos o primeiro espanto foi ver, pela primeira vez, tantas pessoas como ela no balé.
Ali tomou consciência sobre muitas coisas: “Nunca pensei que o corpo deveria parecer uma única linha sem interrupção no balé”, comentou sobre o fato de, então, ter começado a pintar com maquiagem as sapatilhas que usava para que em vez do tradicional cor-de-rosa, ficassem no tom de sua pele. Ano passado, suas sapatilhas foram para o acervo do Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana Smithsonian. E esse já é um exemplo poderoso das conquistas das pessoas negras que pretende mostrar à filha no futuro, já que Laura ainda é uma bebê.
Ainda grávida, ano passado, Ingrid participou dos protestos pela morte de George Floyd e tocada pelo movimento Black Lives Matter e a realidade que vivia em sua profissão acabou criando o Blacks in Ballet, uma comunidade e plataforma online que apresenta os profissionais negros atuando na dança clássica, seus projetos e histórias de vida.
Já o EmpowHer NY, criado em 2017, busca empoderar mulheres e funcionar como um espaço onde elas possam se sentir seguras e confiantes, assim como ter contato com oportunidades no mercado, por meio de empresas parceiras da iniciativa.
Ao longo da apresentação, foram exibidos dois filmes produzidos pela The Block em parceria com os projetos sociais de Ingrid: o “The Call”, que trata da desigualdade no atendimento do sistema de saúde americano, quando a pessoa é detectada como negra; e o “Skin Deep”, sobre as agressões e/ou microagressões que pessoas negras sofrem ao longo de suas vidas, que resulta em stress traumático real. A própria Ingrid disse ter enfrentado isso a vida inteira, desde a escola, quando sofria bullying por conta do cabelo afro.
Hoje, ela que teve sua primeira Barbie negra aos 18 anos, vê um futuro com mais possibilidades para a filha e, na sua profissão, atuar como inspiração para as novas gerações de bailarinos negros. E gosta de fazer isso com a mesma leveza com a qual se apresenta na dança: “Prefiro celebrar a alegria diante das lutas”.