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“Minha carreira deslanchou quando assumi minha sexualidade”

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17 a 21 de junho de 2024 | Cannes - França
Cannes

“Minha carreira deslanchou quando assumi minha sexualidade”

O ator Ian McKellen falou sobre como ser honesto consigo mesmo foi fundamental para sua carreira; segundo ele, marcas deveriam se assumir


21 de junho de 2017 - 13h31

Sir Ian McKellen (Crédito: Eduardo Lopes)

Quando não está atuando, Sir Ian McKellen gosta de ser anônimo. E isso, para si mesmo, quer dizer não ligar para as roupas que vai vestir ou para seu corte de cabelo. Para o mundo, significa ninguém saber qual é seu prato de comida favorito ou em quem ele vota. Mas o ator inglês de 78 anos, reconhecido por ter interpretado Gandalf, em “Senhor dos Anéis” e Magneto, em “X Men”, não é reservado sobre tudo na vida. Sua homossexualidade é de conhecimento público e é um assunto sobre o qual gosta de falar sempre que encontra a oportunidade.

Para um Lumière abarrotado de gente, McKellen revelou que decidiu ser ator na pré-adolescência como uma válvula de escape do fato de não poder admitir para os pais e para as pessoas à sua volta que era gay. “Não era permitido ser gay naquela época. Aliás, nem sequer usávamos a palavra ‘gay’, e sim ‘queer’. Era tudo aquilo que não se queria ser, ser gay queria dizer que a pessoa não funcionava bem. Tenho dois amigos que foram presos por terem transado com outros homens. Então, para mim, ser ator significava poder conhecer outros gays”.

No entanto, McKellen apenas conseguia ser quem ele realmente era nos palcos e isso limitava seu desempenho como ator. “Até meus 14 anos minha atuação era disfarce, mas acabou sendo uma revelação para eu mesmo sobre honestidade e autenticidade”, contou. A partir daquele momento, o ator admitiu às pessoas sua homossexualidade e seu modo de atuar mudou da noite para o dia. “Descobri que a menos que fosse honesto comigo mesmo, não conseguiria atuar. Tornei-me um ator melhor assim que me assumi. Minha carreira deslanchou somente a partir dali. Você pode perder amigos e admiradores quando assume a sua verdade, mas o que importa?”. Ele, que nunca aceitou ser garoto-propaganda, disse que essa atitude tornou-se sua própria marca e que, quando forem contar uma história, os anunciantes devem ser honestos e assumirem suas identidades.

A apresentadora do painel, Jackie Stevenson, fundadora e global managing director da The Brooklyn Brothers, acrescentou que as marcas de hoje e do futuro não poderão mais rotular a sociedade, especialmente no que diz respeito a sexualidade. “A geração de hoje está resistindo a rótulos e segmentação e as marcas ainda insistem nisso”, afirmou.

Mas por que McKellen nunca quis protagonizar uma campanha? Porque ele é incapaz de contar histórias que não aprova, disse. Um episódio que ilustra esse posicionamento foi quando o ator recusou um acordo milionário para estrelar a propaganda da Dasani, marca de água da Coca-Cola. “Em um primeiro momento, achei legal eles terem convidado um velho gay para ser garoto-propaganda deles. Mas senti que ia vender minha alma. Aí semanas depois tiraram a água das prateleiras porque não correspondia aos padrões”, diverte-se. No cinema, a lógica é a mesma: McKellen esclareceu que interpretou e voltaria a interpretar personagens facistas se considerar que a história precisa ser contada e não seja ofensiva ou encoraje comportamentos ruins.

Desde que conheceu seu ídolo pessoalmente, Gary Reich convenceu-se de que a arte pode salvar vidas. Quando tinha 13 anos, conheceu o trabalho de Boy George e aquilo lhe deu força para perseguir seus objetivos. “Anos depois, ele me disse que eu deveria fazer isso com meu trabalho porque, assim como aconteceu comigo, algum menino de 13 anos poderia olhar para o que faço e sentir-se compreendido e inspirado”, disse. Diretor executivo da produtora Brown Eyed Boy, Reich batalha para que haja mais heróis homossexuais e transexuais nas histórias. Um desses esforços é #LGBTHeroes, campanha coletiva entre roteiristas em prol da mudança desse cenário.

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